Amorosidade, a palavra, Larissa usa. Como o pai. Larissa também tem interjeições que em muito lembram as do pai. “Olha que coisa mais linda!”, diz, ao se referir ao filho na exposição do avô. Produtora de fôlego, tem a objetividade da mãe. No sobrenome, a arte de toda a família: Bracher. Aos pincéis, preferiu os holofotes, dos palcos e dos estúdios. Filha de Carlos e Fani Bracher, Larissa, 39 anos, nascida na Piau da mãe e criada na Ouro Preto das telas do pai, construiu sua vida em solo carioca. No ar em “A regra do jogo”, como Gisela, vive a oportunidade de estar no horário nobre da TV Globo.
E são muitos os outros papéis: atriz de teatro, contracenando com Letícia Sabatella e Denise Del Vecchio; produtora da megaexposição do pai; coach de atores, ajudando na construção de personagens; além de esposa do compositor e cantor Paulinho Moska e mãe de Valentim. Para este ano prepara o reality “Desafio Brasil Fashion”, com os estilistas Ronaldo Fraga, Alexandre Herchcovitch e Lino Villaventura. Para o futuro, novidades no espaço que a formou artista. “Temos, eu, meu pai, meu tio Paulinho e meus primos todos, planos para o Castelinho”, assegura.
Larissa carrega no nome a responsabilidade de exaltar uma família tão cheia de coloridas memórias. Em entrevista à Tribuna, por telefone, a atriz de fala pausada se entusiasma ao se referir às raízes. “Falar com alguém de Juiz de Fora é muito bom. Tenho um amor profundo pela cidade”, emociona-se, para logo completar, na compreensão de que nenhum Bracher se vai por completo: “É minha casa.”
Tribuna – Como foi entrar no meio de “A regra do jogo”?
Larissa Bracher – Entrei nos 45 segundos do segundo tempo. Fui chamada quando achava que o ano tivesse acabado. Estava indo passar o Natal em Juiz de Fora, com minha família, e, no dia 23 de dezembro à noite, fui convocada para fazer parte do elenco até o final da trama. É uma personagem que entra dentro de uma tragédia. Chego procurando o marido desaparecido, tendo perdido dois filhos num acidente de carro, e, quando encontro o marido, descubro que ele está com outra mulher. As pessoas já estavam na torcida por seus pares e entro quase que para atrapalhar um núcleo romântico que já estava configurado. Minha sorte é conhecer o Carmo (Dalla Vecchia, que interpreta o César), que é meu amigo íntimo e com quem fiz par romântico em “Chiquititas”. Já a Maeve (Jinkings, a Domingas) é um doce de pessoa, vem do teatro e do cinema, e desde o início me recebeu de braços abertos.
– Apesar de já ter uma longa estrada, esse é seu papel de maior visibilidade…
– Tudo na vida é um preparo. Coisas que fizemos na adolescência e que, a princípio, morreram ali, ainda repercutem no emocional, no campo energético, no campo das experiências. Formei-me em teatro em 1996 e vim para o Rio, fazendo teatro e cinema profissionalmente. Minha experiência em televisão, tanto em “Chiquititas” quanto em “Malhação”, sempre esteve voltada para o público da tarde, infanto-juvenil. “A regra do jogo”, além de estar no horário nobre, me proporciona o personagem de maior estofo de conflitos, o mais desafiador. Não gosto dessa palavra, acho muito clichê, mas não encontro outra.
– Ser preparadora de elenco te ajudou a compor a Gisela?
– Meu avô, o Brachão (Waldemar Bracher), falava que tudo vem para o bem. O trabalho de preparação de elenco, que já desenvolvo há seis anos, paralelo à vida de atriz, me ajudou. Trabalhar as cenas no outro me auxiliou a construir essa personagem, me fez entender o que a Gisela exige e o que os diretores querem. É uma construção do tipo que abro a porta e já preciso chorar. Não uso nenhum tipo de artifício como cristal japonês, então, minha experiência de coach foi o arcabouço.
– Quando começou a novela você também estava em cartaz no teatro…
– A peça parou e deve voltar em junho ou julho. É a representação de três mulheres trágicas. A Letícia Sabatella faz a Antígona, eu faço a Electra e a Denise Del Vecchio, a Medeia. Três personagens clássicos numa leitura contemporânea, com música ao vivo. Fizemos apresentações nas quais colocamos mil pessoas por dia no teatro. Um acontecimento! Tem essa coisa de que as pessoas só querem ver comédia – e é claro que elas querem o que é mais light, porque a vida já é tão dura e corrida para ver algo que as faça refletir -, mas fiquei muito impressionada com a atenção das pessoas.
– Ao longo de sua carreira, você trabalhou na mesma medida no teatro, na TV e no cinema. Tem predileção por alguma linguagem?
– Quando era mais nova dizia que gostava mais de teatro, mas essa personagem (Gisela) me fez ver que quando há uma oportunidade de fazer um papel tão conflituoso, a televisão pode ser tão ou mais difícil e desafiadora que o palco. São três linguagens completamente diferentes, lindas e exigem de maneiras diferentes. Sou apaixonada pelos três meios.
– Nascendo nessa família, teria como não ser artista?
– Todos da família fomos criados aprendendo a importância da arte e da cultura. Alguns dos meus primos trabalham com outras coisas, mas estão envolvidos com arte de alguma forma. Arte é uma preocupação inerente a todos nós, desde a infância. Depois de velha notei o que foi me compondo. O Castelinho, as conversas, os meus pais, são uma pincelada forte em mim e em todos nós.
– Você produziu a retrospectiva de seu pai pelo país. Como foi esse trabalho?
– Há muito tempo sentia falta de fazer essa homenagem a ele. E me incomodava perceber que ele fazia mais exposições no exterior do que no Brasil. Quando ele fez 70 anos de vida, 55 de pintura e 15 anos da última mostra no CCBB do Rio, vi que era uma data interessante. Mas engravidei e aconteceu um pouco depois. Foi a primeira exposição que rodou os quatro CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil) do país. Foi um tratamento emocional. Essa era uma conversa que vinha de muito tempo. Todos que participaram viam a seriedade do meu pai, a beleza e a coerência do trabalho dele. Enquanto filha, entendi mais ainda ele, de onde ele veio. Foi uma costura muito bonita que aconteceu. Comecei querendo prestar uma homenagem ao meu pai e acabei conhecendo um gênio. Meu filho foi com a escolinha na exposição do avô. Olha que coisa mais linda! E papai foi receber a turma do Valentim. Quando eles foram na exposição do Picasso, depois, o Valentim falou comigo: Mamãe, mas o Picasso não estava lá! (risos)
– De alguma forma pensa em proporcionar para seu filho o clima no qual cresceu, naquele Castelinho cheio de arte?
– Esses dias estava lendo a tese de doutorado da Cláudia Matos Pereira sobre a Galeria de Arte Celina e foi outra descoberta na minha vida. Sempre ouvi sobre a galeria, mas só ao ler o trabalho entendi o espaço num contexto sócio-cultural de uma época em Juiz de Fora. O que eles fizeram foi incrível! Graças a Deus tive muito convívio com tia Nívea e tio Décio, que foram pessoas muito marcantes na minha vida. O Valentim teve pouca, mas tenho filmagens dos três juntos. No último respiro de força que ela tinha, tia Nívea veio ao Rio de Janeiro para ver a exposição dos impressionistas. Aquilo foi um sacrifício enorme para ela, e o Valentim ficou no colo dela, na cadeira de rodas, vendo a mostra. Quando vejo que a Galeria Celina fez 342 eventos grandes em um ano acho uma loucura. Não tenho o mesmo tempo e o mesmo talento para promover o que eles promoviam, mas meu assunto de interesse será sempre a semente gerada pela família, dos encontros culturais sobre arte e amorosidade. Sou casada com um artista maravilhoso e, então, a sementinha está no Valentim também, embora ele não tenha vivido o Castelinho.