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Luísa Moreira lança primeiro disco neste domingo

Cult Luisa Moreira Foto Ana Cláudia Ferreira.jpgDESTACADA
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Luísa Moreira. Chegou o dia de eu escrever seu nome no jornal. Não que o processo tenha sido longo até aqui, muito pelo contrário, essa é a história de uma mulher que, iniciando seus primeiros anos nos 20, descobriu que podia compor. Sobre um disco que acontece em alguns meses quando composições começam a vazar de um único sopro – da “brisa que a trouxe até aqui”. Luísa se desmancha em palavras escritas mesmo antes de ganhar seu primeiro violão. Musicar a própria poesia a faz voar alto para onde quer chegar: cada vez mais próxima de si mesma, pela liberdade de ser quem é.

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“Todos os sonhos estão no vento”. Ao pronunciar palavra por palavra dessa frase, seus olhos, levemente puxados, se fecham para atravessar camadas de sons – ou seriam dos sonhos que se realizam? O nome de seu primeiro disco, com lançamento marcado para este domingo (17), no Museu Ferroviário, marca sua estreia como musicista após ter se formado em canto pela Bituca – Universidade de Música Popular. O nome veio de uma poesia de sua avó paterna, Aymar de Mendonça Lopes, que faleceu quando Luísa ainda começava a adolescência.

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Luísa Moreira é sensibilidade em cada instante. Ela puxa um dos dez livros de poesia publicados pela avó, e por ali as duas hão de conversar. “Eu lia compulsivamente os livros dela e pensava que queria fazer isso também. Ela que me ensinou, não diretamente. Mas quando penso ‘tem muito tempo que eu não escrevo’, pego algum livro dela, abro em uma página aleatória, e é impressionante, toda vez que leio um poema, sempre é o que eu estou precisando na hora.”

Esse depoimento me fez voltar em uma memória anterior ao disco e à primeira composição, quando Luísa subiu no palco do Eco Performances Poéticas, no Muzik, para ler justamente um poema de sua avó. Ninguém ainda sabia, talvez nem ela mesma, em que direção aquelas leituras iriam soprar. Leu “Todos os sonhos estão no vento”, e a frase não saiu de sua cabeça enquanto andava de fones de ouvido pela rua. E a inspirou a escrever sua segunda canção. “Mandei a letra para o Raí Freitas, ele me voltou com uma melodia surpreendente, eu lembro que quando recebi chorei copiosamente, e falei: é isso.”

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O prólogo de toda história, Luísa contou no último Encontro de Compositores de Juiz de Fora, lugar que a instigou a compor e se fortalecer diante do reconhecimento e troca com outros músicos e músicas. Antes de se apresentar na segunda-feira, 11, ela agradeceu a Roger Resende, compositor e sambista da cidade, por ter lhe convidado a participar da Central de Compositores, ainda no final de 2016. A intenção era que músicos mostrassem seus trabalhos autorais na escadaria do Cine Theatro Central, Luísa prontamente aceitou o convite e só depois caiu a ficha de que precisaria se movimentar para compor pela primeira vez, como um desafio libertador que deu a si mesma. “Fragmentos” é seu ponto de partida, tornou seu “hit”. Neste dia, toca ao lado de Raí Freitas, que a presenteia com “Alfanges e apitos”, também faixa do EP.

Ali (re)nasce a compositora e cantora que sempre foi. Raí torna-se desde o princípio seu maior parceiro. Além de ter gravado os violões do disco, é o produtor musical deste trabalho gravado durante todo o mês de outubro no estúdio Quarto da Vó Penga, em Volta Redonda (RJ), junto a Cássio Pancini (teclados), Flávio Polito (baixo), Hugo Cunha (guitarra), Igor Patrocínio (guitarra), Jeffei Oliveira (bateria) e Leandro Tolentino (percussão). Raphael Garcêz é quem fez as gravações e mixagem.

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Faixa a faixa

O EP de cinco faixas é percussivo, viaja em ritmos tradicionais brasileiros, indo até ao reggae em “Fragmentos”. A voz doce de Luísa está em primeiro plano diante dos dedilhados do violão e percussão atmosférica. “Nós”, com participação de Raí no vocal, é para cima, começa com os dois cantarolando uma melodia alegre, que nos surpreende, termina com uma guitarra baiana mostrando a força de um suingue bem brasileiro. “Todos os sonhos”, que abre o disco, é uma balada que aproveita o potencial de voz da Luísa em trechos a capella, e também a riqueza instrumental da banda. Em seguida vem “Alfanges e apitos”, que traduz a liberdade da mulher em uma manifestação política, fazendo, para isso, uma grande metáfora com o vento que é construído pela própria ambiência da música. “Voo”, uma faixa-presente, encerra o disco com uma lucidez do processo de mudança, de novos ares por ter conseguido parar e fazer suas escolhas. É a faixa mais introspectiva, apenas voz, violão e o arranjo de clarinete criado por Caetano Brasil.

O disco é um sonho, quase inconsciente coletivo, de uma rede de amigos que a cerca. Além da irmandade com Raí, e certamente construção junto a outros nomes da música, também está no disco a canção “Vôo” do compositor lLucas Oliveira, que vive em São Paulo. “Ele fez uma música com a temática que eu busco no disco, tudo que eu queria falar ele falou para mim.” Ela também recebeu apoio do músico Luizinho Lopes, que a convidou para cantar em seus shows. E ainda o modo como este primeiro trabalho está sendo financiado foi por cooperação de pelo menos 150 pessoas que colaboraram em seu financiamento coletivo pelo Catarse. “É muito construído na coletividade, os arranjos são coletivos feitos pela banda. São poesias musicadas por muitas mãos.”

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A decisão sobre a gravação do disco já estava tomada. Luísa está se preparando para sair de Juiz de Fora no próximo mês rumo à Irlanda. “É a primeira vez que eu vou embora de Juiz de Fora, cidade pela qual sou apaixonada, mas eu sinto que preciso ir. Uma das primeiras músicas que eu vou cantar no show de domingo é a do Gilberto Gil, ‘Back in Bahia’ (1972). Ele fala ‘sinto que é preciso ir para depois voltar’. A temática é vento, é voo, é um despertar do que sou eu para o mundo, do que sou eu para mim, qual é o meu lugar nesse mundo em meio a tantas pessoas. Vou sair para encontrar outros caminhos e quem sabe voltar e quem sabe não voltar.”

“Todos os sonhos estão no vento”
Lançamento do disco de Luísa Moreira, neste domingo (17), às 16h, no Museu Ferroviário

 

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