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Do sertão às minas

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Com voz imponente e característica, Luiz Gonzaga, já Rei do Baião, cantou muitas vezes, em seus negocinhos do Nordeste, xote, xaxado, baião e maracatu, que sua vida era andar por esse país. Bem antes de sua coroação, mas já levando vida de viajante, uma das terras por onde passou, deixando recordações e amigos assim como versa a canção, foi Juiz de Fora. Como a asa branca, Gonzagão bateu asas do sertão antes de completar 18 anos, fugindo de uma confusão com o pai de um de seus namoricos, e chegou à cidade mineira engajado como corneteiro do exército. Aqui em Juiz de Fora foi onde mais marquei minha vida depois que saí do Nordeste, disse Gonzaga em entrevista concedida ao Museu da Imagem e do Som (MIS) da Funalfa, em 1980, poucos meses antes de receber o título de cidadão honorário do município.

Foi aqui que suas andanças começaram a levá-lo para a carreira musical. No exército, o músico Gonzaga despontou, o que chegou a causar alguns problemas para seu ofício de soldado. Eu queria ser artista e danei de florear na corneta, mas me dei mal. E um dia fui em cana porque toquei bem demais, contou ele próprio. Por aqui, Gonzagão ganhou intimidade com o instrumento que sempre trazia a tiracolo.Foi aí que peguei no acordeão pela primeira vez, das mãos do saudoso Dominguinhos, relembrou ele, mencionando o músico juiz-forano Domingos Ambrósio, na época era policial militar, com quem o nordestino aprendeu a escala de 120 baixos na sanfona. De Santo Lima, outro amigo daqui, o então corneteiro levou outras heranças musicais. Santo Lima me ensinou a cantar samba, me ensinou até a fazer acorde no violão e no cavaquinho.

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Como as meninas de seu xote, Gonzaga também levou fama de só querer e só pensar em namorar, e não foi diferente em seu tempo em Minas, coisa que ele mesmo costumava lembrar. Também andei arriscando por aí, no violãozinho, tocando nas grossas e na sanfona e procurando as pretas. O amigo Romeu Rainho, empresário do cantor no início dos anos 50, confirma. Depois dos shows, a gente ia procurar as meninas da cidade. Eu era mais tímido, mas ele era galanteador e já era famoso na época, então não faltava mulher. Mas ele não era tão mulherengo assim, a gente acabava mais era olhando as moças bonitas. Mesmo nas farras, ele queria alguém que quisesse estar com ele ‘pessoa’, e não com o artista, conta Romeu, aos 83 anos, em entrevista pelo telefone de Além Paraíba, onde mora com a filha.

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O empresário, que viveu em Juiz de Fora, lembra-se com saudades da amizade com o Rei do Baião. Acho que vou passar o resto da vida sofrendo a falta do Gonzaga. Ele tinha uma grande amizade por mim, e eu, por ele. Eu era um simples locutor em Barbacena. Um dia, ele me procurou na rádio, dizendo que tinha gostado de um poema que eu li e disse: ‘Vou te levar para ser meu empresário’. E levou mesmo. Para Romeu, Gonzagão nunca perdeu sua essência, mantendo-se fiel às raízes até o fim da vida. Ele nunca se achou grande. Era um apaixonado pelo que fazia e pela sua terra, e nunca perdeu essa identidade de sertanejo, a ligação com o sertão, essa coisa de não contar vantagem. Era de uma simplicidade incrível, mesmo sendo o grande artista que foi.

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Tributo a Gonzagão

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Se ainda estivesse empunhando sua sanfona, Luiz Gonzaga completaria hoje, 13 de dezembro, 100 anos. No Brasil inteiro, festividades marcam a data, em menção ao homem que levou tristezas e alegrias de ser do sertão ao Brasil e ao mundo. Neste ano, o filme Gonzaga- de pai para filho, de Breno Silveira, narra sua trajetória e a relação com o filho, também artista, Gonzaguinha.

Em Juiz de Fora, a Semana Gonzagão homenageia o músico, com discotecagem que privilegia o forró no Forrozada JF. Não dá para gostar de forró sem ter uma música preferida do Luiz Gonzaga, ele é pai do forró pé-de-serra, de todos os ritmos nordestinos. Essa homenagem é, antes de tudo, necessária, para reacendermos o interesse por estes ritmos, e pela ligação que ele teve com Juiz de Fora, conta Danilo Santos, DJ de forró e organizador do tributo.

Para Chacrinha, do Trio Só Forró, Gonzaga ainda é a maior influência em seu gênero musical, presente nos trabalhos feitos até hoje. Tanto que o próprio Dia Nacional do Forró foi decretado no dia de seu aniversário. Homenageá-lo é uma maneira de agradecermos o seu grande legado em um tipo de música que é essencialmente brasileira. Neste ano, o grupo lançou um álbum em homenagem ao centenário do músico, com o apoio da Lei Murilo Mendes. São composições nossas que bebem nitidamente na fonte dos xotes, xaxados e baiões de Gonzaga, completa Chacrinha.

Não estudei nada, mas acho que estou criando uma cultura nova nesse país. Deus, quando marca um, não perde de vista. Eu tô marcado por Deus, mas no bom sentido, ele não esquece de mim, e eu vou levando as coisas sem complicar, reflete Gonzagão na entrevista ao Museu da Imagem e do Som. E assim também foi sua herança, uma música viva e cheia de ritmo, mas que não complica. Canções marcadas pelo bom humor e por uma esperança típica de quem não se prostra diante da dor e das misérias de um sertão tão querido quanto amargo. Coisinhas do Nordeste, que espelhavam aquele que as assinava: um homem simples, fiel a sua fé e suas origens.

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FORROZADA JF

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Hoje, às 20h

Cervejaria Barbante

(Av. Senhor dos Passos 1.531 – São Pedro)

Sábado, às 20h

Espaço Gentileza (Rua Padre Emílio 160 – Alto dos Passos)

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