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Brincar é coisa séria: a importância da diversidade dos brinquedos inclusivos

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“Toda criança terá direito a brincar e se divertir e cabe à sociedade e às autoridades públicas garantirem o exercício pleno desse direito” é o que diz o Princípio 7º da Declaração Universal dos Direitos da Criança, aprovada em Assembleia Geral das Nações Unidas, em 1959, e fortalecida pela Convenção dos Direitos da Criança de 1989. Esse princípio, pode ser estabelecido de diversas formas na sociedade, mas, em muitos momentos, está associado a brinquedos, que têm o poder de entreter e ativar a imaginação dos pequenos. Ao longo do tempo, eles foram sendo modificados, mas uma coisa é certa: o sorriso estampado no rosto e o brilho nos olhos ao abrir um presente e ver que é um brinquedo são universais.

Os brinquedos que, tantas vezes nos levaram a mundos de imaginação e alegria, no entanto, podem não fazer o mesmo sentido para todas as crianças. E se fosse possível reimaginar esses universos, tornando-os acessíveis a todos? Neste fim de semana do Dia das Crianças, a Tribuna ouve especialistas que refletem sobre o poder dos brinquedos inclusivos, e como eles podem representar a possibilidade de um futuro mais diverso e inclusivo.

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Brinquedos (Foto: Pedro Moysés)

Um novo olhar sobre a brincadeira

Crianças atípicas podem brincar de maneiras diferentes, porém o desejo de explorar, criar e imaginar é o mesmo. Para Roberta Guerra Barbosa, mãe da pequena Luizi Guerra Barbosa, é nítido a alegria da filha ao brincar com brinquedos que atendem suas necessidades. “Quando Luizi brinca com brinquedos adaptados, ela vibra com as pequenas conquistas. Brincar de colorir com uma tesoura adaptada ou suporte de lápis a faz comemorar e vibrar. Esses brinquedos aumentam a confiança, a independência, e proporcionam estímulos sensoriais que ajudam a regular as emoções. São brinquedos, sim, mas são também terapias”, conta.

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Ana Maria (Foto: Arquivo Pessoal)

A inclusão, porém, depende também das formas dos brinquedos. Hoje em dia, felizmente já não é raro conseguir encontrar bonecas de diversas cores de pele, tipos de cabelo, bem como bonecos e bonecas que representam algum tipo de deficiência, trazendo maior possibilidade de identificação por parte das crianças. Segundo a psicóloga infantil Ana Maria Monteiro, os brinquedos são representações de diversas realidades e, socialmente, essas representações têm se modificado para incluir diferentes corpos, cores de pele e tipos de cabelo. Validando, assim, as diferenças e as tornando naturais e parte da experiência humana. “Ao diversificar as representações, estamos ensinando às crianças que as diferenças são normais. Isso também afeta o lado emocional, pois a criança se vê como parte do mundo. Brinquedos que refletem a realidade das crianças contribuem para que elas se sintam aceitas e representadas.”

(Foto: Aluízio-Barbosa)

A representação também já foi uma preocupação para Roberta, que busca por brinquedos que, além de inclusivos, também representem ela e a filha. “Especialmente no início da maternidade atípica, eu procurava esses brinquedos. Devido a dificuldade em encontrar, cheguei até a pensar em abrir loja com esses brinquedos. Apesar de ser descendente (da população) indígena e negra, nunca tive essa representatividade e, por tempo, quis me adequar aos padrões.

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A psicologia por trás da lúdica diversidade

Professora Nara Liana (Foto: Arquivo Pessoal)

A representação é importante não apenas na hora da brincadeira, mas também na formação das crianças. Segundo a professora do curso de psicologia da UFJF e líder do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Família, Inclusão e Deficiência (Nefid), Nara Liana Pereira Silva, o brincar cumpre um papel fundamental no desenvolvimento infantil, promovendo o avanço em habilidades e competências essenciais, como interações sociais e preparação para a leitura e escrita. Para ela, embora a representatividade nos brinquedos tenha ganhado visibilidade recentemente, ainda há um número limitado de iniciativas, apesar de já encontrarmos bonecas com características diversas, por exemplo, com síndrome de Down, pele negra ou vitiligo.

Esses brinquedos desempenham um papel importante na autoestima e na construção da identidade das crianças, ajudando-as a se verem como parte integrante da sociedade. “Eles (brinquedos) passam a ser um ‘suporte’ emocional importante para a autoestima da criança e também na construção de sua identidade. Percebe-se naquilo que está brincando é conhecer-se como sujeito fazendo parte da sociedade, dos grupos de pares e em diferentes contextos sociais.”

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A psicóloga Ana Maria concorda e destaca que, embora haja algumas representações, a oferta ainda é baixa comparada com a pluraridade de pessoas na sociedade. “Na clínica, muitas vezes adaptamos brinquedos para atender às necessidades dessas crianças, mas a oferta ainda é limitada. O ideal seria que o mercado explorasse mais essas lacunas e oferecesse produtos que refletissem a verdadeira diversidade da experiência humana.”

Demanda local cresce

Bruno Abbud, gerente do Mundo Mágico, loja de brinquedos localizada no Centro de Juiz de Fora, observa a cada dia o aumento na procura de brinquedos que representem a diversidade, não apenas de cores de pele e condições, mas também de gênero. “A procura tem aumentado. As pessoas vêm procurar a barbie usuária de cadeira de rodas, que é muito famosa, bonecas negras que fazem muito sucesso. Mas também cozinhas para meninos, que é uma coisa recente, e kit de vassourinha com pá também para menino.”

Mas não para por aí, a procura de brinquedos para crianças atípicas e neuro divergentes também tem sido uma das maiores na loja. Bruno explica que, para além de inclusivos, os brinquedos também são educativos e estimulam o desenvolvimento.

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“As famílias procuram muito esses brinquedos (para crianças atípicas e neuro divergentes), e os brinquedos por serem educativos, ajudam muito as crianças a se desenvolverem. Eles estimulam a coordenação motora, o raciocínio lógico, o tato, a sensibilidade e o equilíbrio.”

Gerente Bruno Abbud (Foto: Pedro Moysés)

Para a professora, Nara, o aumento da criação, divulgação e procura desses brinquedos representa um avanço em busca de uma sociedade mais inclusiva, em que seja possível favorecer vivências e experiências mais ricas e igualitárias desde a infância. No entanto, ainda existem barreiras, como o capacitismo e a discriminação. “Com a redução dessas formas de discriminação e prejuízos sociais, caminhamos para mais empatia. E penso que a empatia deve ser estimulada, construída nos diferentes contextos sociais nos quais os indivíduos estão em desenvolvimento, tais como, creches, escolas, a família, a vizinhança.”

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