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A vida entre saltos altos e baixos da drag queen Lorna Washington

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Nascida na Galeria Alaska, em Copacabana, a drag queen Lorna Washington é parte importante da memória do movimento LGBTQIA+ no Rio de Janeiro, onde nasceu seu intérprete, na mesma Copacabana, mas no sótão do prédio onde o pai era porteiro. (Foto: Divulgação)
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A primeira vez em que calçou sapato de salto alto era uma adolescente com seus 16 anos. Experimentava vestir-se de mulher na Banda de Ipanema. “Nem era Lorna Washington ainda. Era a bicha do leque do Sótão”, conta ela, referindo-se à boate localizada na Galeria Alaska, reduto gay em Copacabana. “Eu era gorda e cabeluda, parecia um urso”, ri, recordando-se que, tempos depois do carnaval passou a fazer dublagens no fim da noite, despretensiosamente. As pessoas passaram a gostar. Parava a festa e todos assistiam. Acabada a música, todos voltavam a dançar. A brincadeira virou profissão e, anos depois, reconhecida em tudo que é canto, a drag queen Lorna Washington precisou substituir o salto por sapatilhas.

Lorna tem como uma de suas principais influências a humorista Dercy Gonçalves. (Foto: Acervo pessoal/Divulgação)

A primeira vez em que calçou sapatos baixos para se apresentar tinha menos de 50 anos e lutava contra uma osteomielite provocada pela diabetes, que lhe aterrorizou com a ideia de amputação de uma das pernas, descartada após tratamento alternativo, mas que hoje lhe obriga a usar andador. “Quando me lembrei de Dercy Gonçalves, que parou de usar salto por conta de um problema de coluna que tinha, comecei a usar sapatilhas numa boa. Ela nunca deixou de ser quem era por conta disso. Ela é minha grande musa inspiradora. O importante não é estar, é ser”, reflete a drag queen ícone da noite gay do Rio Janeiro, que participa, nesta sexta (14), às 21h10, como convidada de honra da IV Semana Rainbow da UFJF, no canal do Youtube do evento, discutindo a própria trajetória e a cena gay do país.

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Produzido ao longo de dez anos, o documentário “Lorna Washington – Sobrevindo a supostas perdas”, dirigido por Leonardo Menezes e Rian Córdova, estreou na última segunda (10) na programação do Canal Brasil e está disponível nas plataformas de streaming Now, Vivo Play e Oi Play. A produção resgata a efervescência da cena gay no Rio de Janeiro dos anos 1980 e 1990, com Lorna apresentando-se em importantes casas. Com depoimentos de Rogéria, Isabelita dos Patins, Milton Cunha, dentre outros, o filme também revela a rotina simples da drag que interpreta, geralmente em vestidos brilhantes e cheios de plumas, personagens cômicos, além de fazer dublagens de clássicos. “Se não fosse a dureza da vida eu não conseguiria sonhar. É através do sonho que consigo chegar a algum lugar”, filosofa a carioca.

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Sem perder o glamour e sem deixar a peteca cair: com a saúde fragilizada pela diabetes, Lorna hoje utiliza um andador em suas apresentações. (Foto: Divulgação)

‘Fui picado pelo mosquito da solidariedade’
“Apesar de ter nascido e ter sido criado em Copacabana, só morava lá porque meu pai era porteiro do prédio. Eu dormia na garagem subterrânea do edifício. Eu rezava para não chover, porque quando chovia enchia tudo de água”, conta Lorna Washington. “Dormia no seco e acordava no molhado.” Criança, ria até ver os olhos da mãe, também molhados por ter perdido roupas, móveis e eletrodomésticos. Em seguida a família empilhava o que havia sobrado sobre tijolos, para se precaver de uma próxima chuva. Desde pequena, Lorna aprendeu a se refazer. E faz isso a todo momento.

“Nunca pensei na minha vida que eu fosse ser retratada num filme. Tenho muita gratidão por tudo o que passei”, emociona-se a drag queen. (Foto: Igor Mota/Divulgação)

“Nunca pensei na minha vida que eu fosse ser retratada num filme. Tenho muita gratidão por tudo o que passei, que a cada dia está me moldando um pouco mais. A gente nunca está pronto, vai sempre adaptando-se aos novos tempos”, diz para em seguida narrar o momento exato em que se percebeu potente. Era criança e andava de bicicleta na Avenida Atlântica quando avistou uma mulher chorando no ponto ônibus. Ela havia acabado de receber um telefonema no trabalho contando do filho, que passava mal em casa, no distante bairro de Santa Cruz. “Deixei minha bicicleta no chão e fui para o meio da rua parar o ônibus para ela”, recorda-se. “Passa por cima!”, gritava alguém de dentro do veículo. O motorista não teve coragem e o menino não arredou o pé. Mas o transporte estava lotado e não era permitido seguir de pé. Um segundo ônibus, no entanto, parou para que ela subisse.

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“Fui o único que parei de andar de bicicleta. E desde essa época percebi que a gente não podia deixar uma pessoa sofrer e não ser nem solidário. Já que eu não tinha condições de levá-la até Santa Cruz, pelo menos ia ajudá-la a parar um ônibus. Nesse momento percebi que eu tinha alguma coisa para fazer. Fui picado pelo mosquito da solidariedade”, brinca ela, que ainda nos 1980 introduziu-se no movimento de apoio e prevenção ao HIV, mesmo sem ser soropositiva. Agora, durante a pandemia, também se lançou como uma importante voz pela valorização dos profissionais da noite, que tiveram suas rendas afetadas pelo fechamento de casas país afora.

Uma das primeiras drags a aderir ao universo das lives, Lorna arrecada alimentos para a comunidade LGBTQIA+ em suas apresentações. “O governo não quer dar nada para o povo pobre de favela, vai dar para viado, travesti, preto, favelado?”, questiona ela, que também tem seu próprio podcast, o Pod Drag, com entrevistas. Lorna Washington, cujo nome homenageia sua diva Judy Garland, mãe de uma Lorna, e uma amiga que mudou-se para o estado norte-americano de Washington, é conectada. Inicialmente suas lives atenderiam apenas os amigos do Facebook, pessoas que sabia que frequentavam as casas noturnas e não estavam saindo. “Começou a crescer, outras transformistas passaram a fazer suas lives também. Cada um fazendo em suas casas. Acabou virando uma corrente. Esse é nosso norte.”

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Programação
IV Semana Rainbow da UFJF

13/08
20h10 – Roda de conversa Empregabilidade LGBTQIA+: olhares para o futuro
20h50 – Empreender LGBTQIA+: Relatos e experiências
21h05 – Projeto Gastromúsica por Tânia Bicalho
21h25 – Projeto Maquiarte
21h45 – Olhar diverso. Mostra dos projetos aprovados nos editais
21h50 – Como podemos te ajudar a empreender? Sebrae Juiz de Fora apresenta estratégias para empreender

14/08
20h10 – Roda de conversa: Patrimônio, memória e tradição LGBTQIA+ em Juiz de Fora
20h50 – Talk show “A hora da rainha”
21h10 – Bate-papo com a drag queen convidada de honra, Lorna Washington
21h25 – Olhar diverso. Mostra dos projetos aprovados nos editais
21h30 – Espetáculo teatral “Stonewall 50, uma celebração teatral”, com o ator Thiago Mendonça

15/08
21h10 – Show com a cantora paulista, Jup do Bairro, apresentando o recém-lançado “Corpo sem juízo”
21h50 – Festa de encerramento: DJs

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16/08
Reprise dos melhores momentos

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