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Nicolas Souza Santos faz sua estreia literária com os poemas de “O poeta pobre”

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Nicolas Souza
Aos 30, Nicolas lança livro por editora portuguesa e projeta novas publicações de uma vida literária surgida ainda na infância, quando os livros eram seu principal instrumento de contato com o mundo (Foto: Felipe Couri)
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No princípio era a pergunta. Depois, o nome. O verbo sempre existiu. E quando precisou de um nome para o blog que reuniria seus poemas, Nicolas Souza Santos elaborou uma questão. “Se eu fosse me inserir num contexto, seria um poeta o quê?! Não consegui imaginar nada além do que sou todos os dias: um cara que trabalha, que tem que criar os filhos e vive o dia a dia mesmo. Não sou nenhum tipo de cara idílico, que vai a saraus ou faz algo do tipo. Não tenho nada contra quem faz isso, só não consigo, por limitações de natureza física, financeira e psicológica inclusive, para fazer todo esse contexto social no qual os artistas estão inseridos. Eu tenho que acordar muito cedo, ir para o trabalho muito cedo, trabalhar até a noite, depois pensar no que comer, coisas muito concretas. Então, se eu for determinar o que sou, sou um cara pobre, trabalhador, que precisa correr atrás do que quer”, diz.

No princípio, era uma página virtual. Agora, 64 páginas impressas, um livro — “O poeta pobre” (Chiado Editora), homônimo do blog —, que Nicolas lança neste sábado, 14, às 14h, no Experimental Container Bar. “Não escolhi ser poeta”, afirma, aos 30, o instrutor de autoescola permanentemente às voltas com as palavras. “Penso profundamente em qualquer tema, mas a raiz da observação é simples, cotidiana. Posso me aprofundar, mas, normalmente, não tenho tempo. A ideia, então, é ser sucinto, e eu falo como uma pessoa comum falaria”, defende Nicolas, citando “Noite de domingo”, sobre o desespero de ter que trabalhar no dia seguinte quando o desejo é manter-se no descanso do fim de semana.

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A pobreza, que da posição social do poeta reflete a postura política de sua poesia, não diz respeito às escolhas literárias de um escritor que já na estreia parece demasiadamente consolidado. “Que os poetas não se indignem com isso, mas escrevo poesia para não ter compromisso. Escrevo, e o texto já está quase acabado. O máximo que posso fazer é ajustar alguma coisa, uma palavra que não ficou muito legal ou que não ficou tão acessível. Minha ideia não é ser verborrágico, fazer as pessoas terem que procurar um dicionário para me entender. Escrevo como falo”, defende ele, cuja obra exprime um momento íntimo depressivo. “Falo muito sobre morte, sobre o desespero, coisas que aconteciam comigo enquanto escrevia.”

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Antídoto contra os silêncios

Quando adolescente, Nicolas chegava a ler dois, três livros por dia. A primeira ficha em biblioteca foi feita aos cinco anos (Foto: Felipe Couri)

A visão “quase niilista do mundo” ficou para trás. “Não que hoje meus poemas sejam alegres e felizes, mas consegui variar a temática”, explica ele, cujo envolvimento com os livros se deu desde muito cedo.

“Fui criado num ambiente muito rígido, porque minha mãe era evangélica, e meu pai, policial e evangélico. A igreja que eles pertenciam era quase Amish. Podíamos ter energia elétrica, mas não podíamos ter televisão. Assistia TV até uns 4 anos e, depois, só fui ter quando me casei, aos 21. Até no ano passado, quando me separei, tinha TV em casa. Hoje não tenho mais. Fora isso, o que tinha para conhecer o mundo eram os livros”, recorda-se. Em 1993, quando tinha apenas 5 anos, fez uma ficha na biblioteca municipal de Muriaé, onde morava.

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“Aprendi a ler muito cedo. E eu lia, lia muito. O primeiro conflito com a religião se deu nesse aspecto, porque aos 12 eu já lia Voltaire e os pré-socráticos. Não acho que um menino de 12 anos deva fazer isso. Eu fazia por uma distorção que existia na minha casa. Ao tentarem me segurar, eles (os familiares) acabaram criando a arma contra a situação que vivíamos”, conta Nicolas, que chegava a ler dois, até três livros por dia. E quando não organizava os livros do espaço público, o menino reescrevia as narrativas. “Comecei a cruzar histórias. Às vezes, quando não gostava, criava outro momento ou fazia uma ligação melhor, ou, ainda, cruzava um final com o de outro livro. Escrevia muitos contos assim.”

Os anos se passaram, e o tempo começou a escassear. Trabalhando durante a manhã e a noite, pai de dois — um menino de 9 e uma menina de 5 —, Nicolas, que hoje divide a casa apenas com um gato, escreve nas brechas do dia. “Tudo é rápido, então, geralmente, faço um apontamento. Dali tenho uma poesia pronta”, diz o escritor e, também, músico. “Já penso com ritmo a maioria das coisas que faço”, acrescenta ele, cujo contrato com a portuguesa Chiado prevê a publicação de outros títulos além de “O poeta pobre”.

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A voz prescinde o corpo

Qual compromisso o livro te traz? “Moro numa casa que tem um monte de árvores, algumas, inclusive, plantadas por mim. Gosto de jardinagem. Árvore: confere! Filho, tenho dois: confere! Livro, eu não tinha, apesar de gostar de escrever muito. E não é só o fato de perceber que agora sou um escritor de verdade que vale. A tendência nossa no mundo é buscar a imortalidade, é genético, e quando todos que me conhecem morrerem, o livro estará aí. Quem buscar vai achar. Estou fazendo minha voz chegar a um lugar onde nunca estarei”, responde o homem que enumera deslocamentos na vida. Nascido em Alfenas — “Fui só para nascer, não conheço a cidade” —, viveu em Três Pontas, Pouso Alegre, Muriaé, Visconde do Rio Branco e, desde os 21 anos, reside em Juiz de Fora. De todas as mudanças, uma das que mais o marcou recentemente foi a enunciada pela leitura de “O poeta pobre” por aqueles que, sem um projeto delineado, ajudaram-lhe a escrever cada verso. “Quando cheguei com os livros na minha casa, a família inteira – meu irmão, minha cunhada, meu pai, minha madrasta e mais gente – pegou um exemplar para cada um, sentou e começou a ler. Eram nove pessoas. Nunca vi todo mundo sentar sequer para ler livros diferentes. Então, vê-los no mesmo livro, o meu, foi incrível.”

LEIA NICOLAS

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Bilhete de porta de geladeira

Eu quis ir embora
você não deixou:
disse que era traição
e que já sabia que isso ia acontecer.

Agora que fiquei,
diz pra que eu coloque
os pés e as mãos no chão
e compreenda
que não somos um do outro.

Conclusão sustentada pela arrogância que me é peculiar

Não há nenhuma história de amor,
nenhuma!,
que não traga consigo
um rol de abandonos,
traições, mentiras,
homicídios.
Nenhuma resiste ao escrutínio
mais detalhado da realidade.
Por isso são belas:
porque o mistério
é a chama que acende
os corações mais intensos;
não a verdade.

Esses grilhões

Se pra morrer não tem idade,
não mate a ferocidade
que existe dentro de mim.
Se eu dependo só da sorte,
quero transgredir o imposto
e fazer o que é ruim
vamos dar uma chance à morte:
amor, vamos dar uma chance ao fim.

O POETA POBRE
Lançamento neste sábado, 14, ás 14h, no Experimental Container Bar (Av. Rio Branco 3.162 – Centro)

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