O JF Rock City está em vias de concluir a digitalização da marca em plataformas como Twitch e YouTube. Após dois anos da última edição do festival, a organização levará ao ar, nesta segunda-feira (14), a JF Rock City TV. “A pandemia só evidenciou a necessidade de todas as atividades envolvidas com música e arte no geral terem uma sobrevida no mundo digital. E nós não tínhamos”, aponta o idealizador da marca JF Rock City, Luqui di Falco. O canal terá uma grade de programação semanal mista entre as segundas-feiras e os sábados. O conteúdo reúne desde apresentações ao vivo até aquelas gravadas, com talk shows, performances, games e podcasts. Mas o novo braço da marca não representará o fim do festival como o público o conhece já há 14 anos. “A JF Rock City TV vem para ficar. Inclusive, a nossa ideia é fazer a entrega do festival 100% digital neste ano pela primeira vez. Esperamos que, a partir de 2022, façamos de uma maneira mista: receber o público e fornecer audiência para a galera de casa”, explica Luqui.
LEIA MAIS: Estudo inédito mapeia atuação da música de Juiz de Fora no digital
A princípio, a transição soa simples, uma vez que os canais do JF Rock City na Twitch e no YouTube, por exemplo, terão os usuários alterados – o que, na prática, deve ocorrer até este domingo. No entanto, a organização viabiliza a ideia já há cerca de um ano. “Desde que começou a pandemia, a gente estudou a construção de um cenário digital e começou a abastecer o YouTube, a Twitch e outros canais com conteúdos mais simples. O público precisava entender que a digitalização iria acontecer. Não é uma chave que se vira de uma hora para outra.” Por isso, inclusive, acrescenta Luqui, o JF Rock City não foi realizado de forma remota no último ano. “Precisávamos antes passar certa credibilidade para o nosso público.” Ele cita, por exemplo, que há 15 semanas o JF Rock City alimenta o canal no YouTube com vídeos de conteúdo mais condensado, de “cinco, às vezes dez minutos sobre um assunto específico”. E, na Twitch, os bate-papos ao vivo chegam a duas horas com âncoras e convidados da cena local sobre as mais variadas pautas. “Não vão ser produções simplórias”, pontua.
Além de Luqui, os idealizadores e também diretores da JF Rock City TV são o músico Rhee Charles Santos e o engenheiro de áudio e produtor musical Maurício Avila. A equipe será a mesma já envolvida na produção do festival. “O festival já existe há 15 anos, então temos um número muito grande de profissionais envolvidos, além de artistas também. Os envolvidos em todos os produtos são artistas ou produtores da cidade, que já são da nossa alçada de produção”, detalha. Os três, inclusive, são âncoras de talk shows da programação da JF Rock City TV. Às segundas, às 19h, Maurício, dono do Sonidus Studio, conduzirá o “Nerd mix”, em que ensinará ao vivo técnicas de gravação, mixagem e masterização. Às terças-feiras, também às 19h, Luqui comandará o “Teorias da conspiração musical”, ao lado de Jorge Corrêa e Rafa Franco – o nome da atração fala por si só. Às quintas, novamente às 19h, Rhee Charles apresentará o “Papo de 5ª categoria”, com Henrique Filho, que será uma conversa com personagens da cena local.
Mas a programação ainda reúne outros envolvidos. Às quartas, por exemplo, Felipe Rosa apresentará o “Riff”, um programa exclusivamente sobre o mundo moderno das guitarras, a partir das 19h. Já às sextas, Berilo ancorará o “Você merece o som”, às 21h, com voz e violão atendendo a pedidos do público. No sábado, às 11h, Marcelo Castro comandará o “Baixaria news”, uma espécie de telejornal musical com as últimas notícias do mundo do contrabaixo e tendências musicais. “Temos uma relação aberta com toda a cena musical. Então, quanto tivemos a ideia da JF Rock City TV, falamos com todo mundo que tinha um certo perfil a partir do que procurávamos e tinha certo conhecimento tecnológico para botar os programas de pé no streaming. Convidamos essas pessoas a criar os programas de forma livre e trazer as ideias para a gente. A plataforma apenas vai agrupar e promover essas atrações. Não houve uma curadoria em si”, explica Luqui.
Preservação da memória da cena local
Além do “Baixaria news”, o sábado guarda um dos principais programas da JF Rock City TV. A partir das 18h, o “Perdidos na nuvem” – sim, inspirado no finado “Perdidos na noite”, de Fausto Silva, “um gênio”, adverte Luqui – trará apresentações musicais e conversas com bandas locais. A ideia, diz Luqui, é distribuir o que seria um eventual elenco do festival, com 40 artistas, ao longo de 20 sábados na programação. “Faremos 20 sábados em sequência com dois artistas se apresentando. Porém, com gravações musicais feitas dias antes (para respeitar os protocolos sanitários), mas com bate-papo ao vivo. Essa vai ser a entrega do festival neste ano. Em 20 sábados, faremos 40 artistas gerarem novos conteúdos pra eles e para os nossos canais”, explica. O Cultural Bar abrigará a estrutura onde as gravações serão feitas. O próximo sábado (19), o primeiro, terá a banda Martiataka e o cantor e compositor Henrique Filho. Já no outro (26), Obey! e Macaya. O “Perdidos na nuvem” será ancorado pelo cantor Dê Monteiro e pelo ator e produtor Sandro Massafera.
Questionado se teme que os encontros das apresentações “in loco” venham a ser sempre mediadas por telas e os produtos audiovisuais tomem o protagonismo, Luqui aponta o cenário como uma oportunidade. “A gente vai voltar (após a pandemia) e ganhar mais uma plataforma de trabalho”, pontua. “O músico vai tocar em um palco e vai estar em dois lugares. Vai vender tíquete digital e tíquete presencial. Uma coisa não vai excluir a outra. Na verdade, vão se somar.” O receio, na verdade, era de que o limbo sem eventos culturais apagasse boa parte da memória da cena local. “Se a gente pudesse deixar uma bandeira pendurada nas costas de todo mundo que está fazendo os programas com a gente, seria essa. Sei dimensionar isso muito bem. Estudos ao redor do cenário musical indicam que o volume do processo, ou seja, o making of, as fotos de bastidores, a rede social mostrando a vida pessoal têm abastecido muito as vendas. E os artistas do passado não têm esse tipo de conteúdo. Se os artistas gigantes do passado, como Led Zeppelin, por exemplo, podem ser esquecidos, o que vai acontecer com o artista que me inspirou aqui em Juiz de Fora 20 anos atrás?”