quando o escritor Lindolfo Gomes e o maestro Duque Bicalho compuseram seu hino, citaram no primeiro verso: “Viva a bela Juiz de Fora…”
Então, pergunto, meu amor: qual teria sido a visão para justificar a “bela”? O que era belo na ocasião ainda permanece em você?
“Demos palmas, demos flores, aos encantos da princesa…”, acrescentaram à letra. Quais seriam os encantos para justificarem palmas e flores? Essas mesmas estrofes seriam reescritas hoje pelos seus saudosos autores?
Naquele tempo, querida, havia uma visão de suas ruas bem diferente daquela que temos agora. Imperava na sua maior avenida o antigo Colégio Stella Matutina e a capela. E como fazia bem ao poeta observá-lo inteiro da calçada no outro lado da Rio Branco. Na mesma via, corriam os bondes que seguiam para diversos pontos da cidade. Foi-se o colégio. E com ele a sua capela. E bonde não há mais. Triste ver o lugar hoje e nos lembrar do que existia ali antes.
Assim acontece com tantas outras edificações, minha princesinha.
A Juiz de Fora que inspirou Lindolfo e Bicalho e que bem soube descrever Raquel Jardim em seu “Os anos 40” está desaparecendo. Some aos poucos sob as estruturas de aço que protegem o que restou das fazendas Ribeirão das Rosas e da Tapera. Some de forma ainda veloz ao vermos a resistência heroica dos Grupos Centrais. Desaparece devagar a cada pichação que se faz na desgastada pintura da velha fábrica do Bernardo Mascarenhas na Getúlio Vargas.
Não esquecer o que se perdeu desperta o desejo de preservar o que ainda restou em você, meu bem.
Hei de amá-la mais, ainda que o abandono tenha lhe dado tanto castigo.
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Hei de desejá-la para todo o sempre, mesmo que suas belas lembranças virem somente imagens doloridas na parede.
Obrigado, meu amor, por caminhar comigo!
Com a devoção
Do seu, e tão somente seu,
Vanderlei Tomaz
Historiador