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Entrevista: Badauí, do CPM 22, fala sobre trajetória da banda e o retorno dos shows

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CPM 22
De volta a Juiz de Fora, CPM 22 se apresenta no Cultural com a promessa de um show extenso e para extravasar (Foto: Willer Carvalho/Divulgação)
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O ano era 2002, e as adolescentes, sobretudo, estavam enlouquecidas. Talvez, muitas delas não tivessem vivido, na época, o que a música dizia. Mas, ainda assim, batia forte. A desilusão amorosa e a volta por cima presentes nos versos “Dias atrás/ Pensava em você, não é assim/ Mas olho pra trás/ Mas penso e sigo em frente/ Pra nunca mais viver assim” ficam ainda mais fortes com a harmonia, que intensifica esse sentimento. “Dias atrás” foi um sucesso, e ainda é. Mas não só: CPM 22 não foi um meteoro porque até hoje, 27 anos depois do início da banda, continua fazendo shows pelo Brasil com ingressos esgotados. É um acontecimento se manter assim no mercado. Fernando Badauí, vocalista e um dos fundadores, diz, em uma conversa por telefone, que a intenção da banda nunca foi atingir um sucesso, mas, sim, ter um reconhecimento. E eles conseguiram. Nesta sexta-feira (13), eles voltam ao Cultural Bar, a partir das 22h. Obey!, Martiataka, Muller e Celsin completam a noite.

Badauí acredita que as músicas da banda, formada também por Luciano Garcia, Phil Fargnoli, Ali Zaher e Daniel Siqueira, mexiam com os ouvintes porque elas sempre vieram do coração. E, de acordo com ele, quando é assim, a tendência é gerar identificação e, consequentemente, ir espalhando. É isso também que explica a forma como a CPM 22 conseguiu ir crescendo para além de Barueri, em São Paulo, onde foi formada. “Cada banda segue seu caminho. Mas você conseguir atingir as pessoas com seriedade em tudo o que envolve a banda, seja um boné, uma camiseta, um adesivo, um logo, um cartaz de show, as capas, você tratando isso com seriedade, a tendência é que você acabe chamando atenção.” Como foi o caso deles, que, a partir do lançamento do primeiro disco, em 2000, o “A alguns quilômetros de lugar nenhum”, ganhou amplitude nacional. A venda e a distribuição das demos em show foi um dos principais fatores para esse reconhecimento.

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“Faço música para quem quiser ouvir”

Isso, no entanto, ele acredita ser diferente de fazer sucesso. “Você tratar com seriedade e querer ser profissional não quer dizer que você só pense no sucesso. O sucesso é muito relativo. Só que o sucesso não pode ser pauta para nada, em nenhuma profissão, ele tem que ser uma consequência.” Quando começaram, em 1995, o cenário do rock brasileiro era outro. As bandas do começo dos anos 1990 que reacenderam o gênero no país já estavam alavancando a carreira. Eles nadaram nisso e, logo em seguida, ainda serviram de inspiração aos que vieram depois, nos anos 2000. CPM 22 pegava nos Estados Unidos a referência do punk rock e trazia para cá de maneira ainda mais melódica, o que, de certa forma, foi sendo acompanhado por outras bandas. Ainda assim, Badauí não acha que eles instauraram uma nova forma de fazer música. “Até porque o CPM 22 é feito a partir de diversas influências, e, com certeza, essas bandas também seguem o mesmo caminho.” Mas ele acredita que eles deram a coragem que muitos precisaram para criar bandas independentes na época.

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Fazer show, naqueles anos, era tão importante quanto estar presente nas redes sociais hoje em dia. No começo, Badauí conta que algumas apresentações tinham pouquíssimas pessoas, mas isso nunca foi um problema. “O importante para a gente chegar onde chegou era nunca se preocupar com quantas pessoas a gente estava tocando em determinado show. A preocupação era fazer um som com muita verdade, um som que refletia tudo o que a gente ouvia, independente do amanhã, do sucesso atingido. Independente de ter 15 ou 3 mil pessoas, o sentimento no palco sempre foi o mesmo, de fazer o melhor.” Esse público, além de ir aumentando, foi mudando, acompanhando gerações. Ao mesmo tempo que o vocalista disse que não se preocupou com isso, logo depois ele voltou em sua fala e disse que essa renovação de público é, sim, importante, “porque ajuda a banda a ter uma longevidade maior”. Mas isso foi acontecendo de maneira espontânea: “Acho que a gente faz a mesma coisa que a gente sempre fez, junto com a evolução que a gente tem na vida, a nova forma de pensar, as experiências que a gente vai adquirindo por causa da idade. Mas eu nunca pensei: ‘Nossa, vamos atingir o público tal’. Estou nem aí para isso: faço música para quem quiser ouvir”.

Pelo caminho, o mercado musical e a própria música brasileira foram mudando também. E o CPM 22 continuou sendo chamado para participar de grandes festivais. Badauí conta que desde sempre tocou perto de quem faz a música que eles acreditam: a de verdade, aquela que chega ao coração. Ao mesmo tempo em que eles se apresentaram no Rock in Rio, estão presentes nos festivais menores que acontecem pelo Brasil. “Isso é importante: mostra que, mesmo a gente vindo de um cenário mais alternativo, tem abertura na música brasileira em geral. Eu fico muito feliz em poder atuar em mundos diferentes. A gente continua com o nosso cordão umbilical agarrado na nossa escola do hardcore, do underground, e que hoje é muito mais estruturado que no começo da banda. Mas, ao mesmo tempo, a gente está em uma situação de festivais mais mainstreaming mesmo, de bandas mais consagradas. É o que eu sempre falo: ‘A gente é a banda mais alternativa do mainstreaming e a mais mainstreaming do underground'”, ri.

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(Foto: Willer Carvalho/Divulgação)

As mudanças necessárias

E, ainda sobre o mainstreaming, fato é que o consumo da música mudou com a internet, e as bandas que começaram suas histórias antes disso tiveram que se adaptar a um novo contexto. Para Badauí, isso foi melhor para eles. “A coisa ficou dinâmica, mas difícil de ser filtrada. Por outro lado, você não depende mais de uma grande gravadora, uma corporação que escolhe em quem ela vai investir, e quem ela não escolheu está fora e vai ficar f* para o resto da vida. Tem o lado bom e ruim, mas eu acho que o lado bom é maior, principalmente para as bandas que já fizeram nome antes da internet, que é o nosso caso. Mas, assim, quando a música é de verdade, cara, pode lançar de qualquer forma que vai bater no coração das pessoas.” A banda tem apostado no lançamento de singles, e, desde 2017, com “Suor e sacrifício”, que eles não lançam um disco. A vontade, como fala Badauí, é voltar aos estúdio para gravar um trabalho novo, mesmo que seja menor. Mas a agenda lotada com esse retorno dos shows tem impedido essa tarefa que, então, fica para o ano que vem. Mas outros singles ainda virão.

CPM 22 em show: bagunça, suor e verdade

Um show ao vivo tem a capacidade ainda mais exacerbada de gerar emoção. “No show tem bagunça demais, verdade, barulho, suor, lágrimas, hematomas. É uma catarse. Uma interação onde as pessoas carregam aquilo que estão sentindo e a gente também.” As apresentações têm durado cerca de 1h40, e o setlist passa por praticamente todos os discos já lançados. “A banda está voando no palco, acho que o público também está muito a fim de poder extravasar, depois do que a gente passou. Por onde a gente passa teve shows com ingressos esgotados. Isso mostra que o público está dando muito valor aos músicos brasileiros. E essa sinergia entre banda e público a gente vai sentir no dia.”

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