Se as adversidades são termômetro para a capacidade de resiliência, o Barão Vermelho tem mostrado que verga, mas não quebra. A banda, uma das expoentes do rock brasileiro surgido nos anos 80, encarou nos últimos meses a morte de um de seus mais carismáticos integrantes, o percussionista Peninha, além da decisão do seu principal compositor, guitarrista e vocalista, Frejat, de se dedicar à carreira solo e abrir mão de uma nova turnê com os amigos.
Ao mesmo tempo, há boas novas também: “Barão Vermelho: por que a gente é assim?”, documentário dirigido por Mini Kerti, estreou na última segunda-feira no canal Curta, dois dias após o primeiro show do Barão com seu novo vocalista, Rodrigo Suricato, no emblemático Circo Voador. A apresentação foi a primeira da nova turnê da banda, “#BARÃOPRASEMPRE”, que terá seu segundo show justamente em Juiz de Fora, neste sábado, no Capitólio.
Ainda sob o impacto do show de sábado, o guitarrista Fernando Magalhães conversou na última segunda-feira, por telefone, com a Tribuna. “A receptividade do público (no Circo Voador) foi maravilhosa, veio gente de toda parte do Brasil. Parecia que a estreia era uma procissão (risos). Nós, como músicos, não temos ideia do quanto gostam do Barão – como deve ser, aliás, com todas as bandas, como Titãs, Ira!. Temos essa galera que vem dos anos 80, quem nunca nos assistiu ao vivo, foi uma noite maravilhosa, com o Circo lotado”, comemora Fernando. “A gente está voando soltinho, a fim de tocar. Somos uma banda de estrada, ficar parado era contra aquilo que fazíamos nos anos 80 e 90. Estamos a mil por hora.”
O show em Juiz de Fora deve ter 25 músicas, assim como no Rio, mas o repertório não está fechado. O guitarrista adianta que não faltarão clássicos e algumas menos conhecidas. Se o setlist da apresentação no Circo Voador puder servir de base, o público pode esperar por hits como “Por você”, “Bete Balanço”, “Pro dia nascer feliz”, “Declare guerra”, “O poeta está vivo” e “Puro êxtase”, entre outras. “É dificílimo fazer um repertório que agrade, primeiramente, aos músicos, e também ao público. O Frejat sempre dizia que show e disco você faz pra si, mas buscamos encontrar um meio termo por meio da democracia. Nosso show tem 25 músicas, e começamos a discutir o repertório com cerca de 50 canções.”
O retorno aos palcos não deixa de ser uma forma de mostrar a capacidade de resistir às adversidades. A banda já conversava a respeito da nova turnê quando o percussionista Peninha, que estava com o Barão desde os anos 80, morreu em setembro de 2016 devido a uma hemorragia estomacal. “Foi duro, difícil. Estamos arrasados até hoje, pois ele tinha uma grande importância na banda. Acho que o Peninha adoraria estar aqui nessa nova fase. Foi muito repentina a morte dele.”
Depois, veio a decisão de Frejat em não seguir com o Barão para a primeira turnê em quatro anos a fim de se dedicar em tempo integral à carreira solo. “Foi uma saída tranquila. A gente meio que sentia essa necessidade dele, que adora o Barão mas não era mais sua prioridade, enquanto para nós a prioridade é o Barão, mesmo com nossos projetos paralelos”, comenta. “Ficamos tristes porque é nosso amigo, é meu irmão, de todo nós. Gostamos de tocar com ele e respeitamos sua decisão, mas decidimos seguir em frente.”
Estreante com know-how
Nem tudo, porém, são tristezas. Com a saída de Frejat oficializada, foi hora de encontrar uma nova voz para o Barão. O escolhido acabou sendo um nome da nova geração: Rodrigo Suricato, da banda Suricato, que despontou em 2014 no programa “Superstar”, da Globo. Conforme conta Fernando Magalhães, bastou um ensaio em que tocaram quase 20 músicas da banda para ver que estava ali o novo vocalista. “Nós pensamos em várias pessoas, e aí tinha o Rodrigo que era fã do Barão. Ele já tocava músicas nossas nos shows com suas bandas, então chegou ao ensaio tocando quase 20 músicas logo de cara. Foi uma decisão certeira, ficamos muito felizes”, afirma. “Sem contar que antes eu era caçula, agora é ele (risos).”
“Ele é um grande guitarrista, toca muito violão, é um belo cantor”, elogia. “A primeiro coisa que fizemos foi deixá-lo à vontade, ser quem ele é. Não queremos que ele lembre o Cazuza ou o Frejat. Deu muitas ideias novas para os arranjos, colocando a personalidade dele. Veio sem arrogância alguma, querendo somar. É o que queríamos dele, esse sangue novo. Ao mesmo tempo em que foi um grato presente, parece que está há 200 anos com a banda.”
O disco vem (bem) depois
O último álbum de estúdio do Barão é de 2004. Nesse período, a banda lançou dois CDs ao vivo – sendo um deles a apresentação do Rock in Rio de 1985 – e se dedicou às turnês até a pausa iniciada em 2013. A ideia, agora, é se dedicar à turnê antes de pensar em um novo trabalho. “Temos planos de fazer um disco novo mais para frente, mas nada com martelo já batido. Todos nós somos compositores, rascunhos de músicas não faltam, e poderíamos ter começado com um álbum, mas achamos que seria mais fácil nos entrosarmos melhor com o Suricato indo para a estrada do que nos enfurnarmos em um estúdio”, explica. “A melhor forma de apresentar o Barão Vermelho com o Suricato para o público é fazendo shows.”
História audiovisual
Outro motivo de orgulho para os integrantes – e ex-integrantes – do Barão Vermelho foi o lançamento, na última segunda-feira, do documentário “Barão Vermelho: por que a gente é assim?” no canal Curta. Com pouco mais de 100 minutos de duração, o longa de Mini Kerti traça a trajetória da banda em todas as suas fases e formações, com inúmeros depoimentos e também cenas raras que vão até três décadas atrás. “É uma historia muito grande, e para colocar isso em uma hora e 40 minutos é preciso ser muito objetivo e agradar a todos, ainda mais que cada um pode ter uma opinião diferente sobre o que deve ter mais destaque no filme”, diz. “Mas a diretora nos ouviu muito, assistimos a copiões do filme há alguns meses, demos várias sugestões para que aqueles cento e tantos minutos fossem bem verdadeiros. Acho que o resultado ficou brilhante, o documentário é muito emocionante. Quem assistiu à pré-estreia ficou muito feliz, como a mãe do Cazuza (Lucinha Araújo), o Ney Matogrosso.”