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Funalfa lança calendário, que será vendido este ano

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O atraso do contador do tempo denuncia dias áridos. Não fosse o interesse vivo, a Funalfa não lançaria o já tradicional calendário municipal. Com temática acerca do patrimônio, o projeto iniciado em 2010, inicialmente em parceria com a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFJF, pouco a pouco viu o caráter didático dar lugar ao arrojo artístico, valorizando fazeres como a pintura, o desenho, o bordado e a fotografia, expressão que ganha as páginas da versão de 2018. Pelas lentes de Bruno Meneghitti, com sua série “Memória coletiva”, vencedora do VI Prêmio Funalfa de Fotografia no JF Foto 17, a publicação deste ano apresenta uma cidade contemporânea e bela em seus contrastes.

“O calendário é uma ação muito valorizada pelo cidadão. Desde dezembro começou essa procura. Ele acabou virando um ativo da Funalfa”, comenta o superintendente Rômulo Veiga. “Pelo tamanho dele e pelo trabalho que demanda, não fica barato. Como estamos num período de contingenciamentos, questionamos se não seria interessante cobrar um valor por esse calendário, para que ele tenha seu custo zerado. Depois questionamos, também, se ele não poderia ser um motor para gerar receita para a Funalfa, já que ele é tão querido”, acrescentando, anunciando o valor de R$ 10 para o produto, que passa a ser comercializado na próxima quinta-feira (18), na sede da fundação, no Parque Halfeld, e na Praça CEU, na Zona Norte, de segunda a sexta, das 9h às 17h.

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(Inicialmente a Tribuna havia divulgado que o calendário seria vendido a partir desta segunda (15), mas a informação correta é a de que a venda começa a partir desta quinta-feira, dia 18)

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Bruno Meneghitti/Divulgação

Sensível a uma paisagem de ritmos, reflexos e grafismos, o fotógrafo investiga uma harmonia desestabilizada pelo olhar viciado, corrido e pouco generoso. “Sempre trabalhei no mercado imobiliário, como corretor, e via que, como outros fotógrafos de fora, era possível mostrar algo diferente da cidade”, comenta Bruno, estudante do sétimo período do curso de arquitetura e urbanismo da Doctum. “Não queria os prédios inteiros, mas fragmentos dos contrastes entre eles, daí surgiu o grafismo. São ângulos de edificações da cidade que fui selecionando para mostrar a evolução dos estilos e pensando que, na correria, não reparamos nos detalhes”, acrescenta o artista, consciente de sua construção de um peculiar memorial do presente.

“Faz parte da educação patrimonial dar um olhar estético e artístico para a arquitetura urbana contemporânea. Às vezes é estimulada a sensação de que a preservação patrimonial deve sempre aos bens históricos, centenários, de outros estilos que não o contemporâneo, esquecendo que a cidade que a gente vive é um mosaico da pluralidade arquitetônica que conta um pouco de seu desenvolvimento social”, defende Rômulo Veiga.
“Despertam interesse: as faixas horizontais com os cavalinhos de Portinari tornam-se diagonais. As mísulas barrocas de Luis Signorelli (Museu do Crédito Real) contrariam o desenho moderno de Niemeyer (Banco do Brasil). As curvas sinuosas dos balcões do Edifício São Joaquim parecem remeter às similares de Copacabana e à carioquice dos juiz-foranos”, aponta o arquiteto Antônio Carlos Duarte, atual diretor-superintendente do Museu Mariano Procópio, em texto para a publicação. Autor dos livros “Arquitetura Art Déco – Juiz de Fora”, “Arquitetura Eclética – Juiz de Fora” e “Arquitetura Moderna – Juiz de Fora”, Duarte chama atenção, ainda, para os “detalhes do suntuoso Cine-Theatro Central (que) dialogam com a geometria escalonada e até certo ponto discreta do Déco Edifício Grippi (ambos desenhados por Raphael Arcuri). Os chamativos vidros azuis da agência do Banco do Brasil (que) espelham os mui sóbrios prédios vizinhos.”

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Gratuidade para quem necessita

Após a experiência com o evento Ato, que substituiu o Festival Nacional de Teatro em dezembro e praticou preços populares para os espetáculos vindos de fora, a nova gestão da Funalfa classifica como viável a política que estabelece valor para produtos culturais promovidos pelo município. “O Brasil, de maneira geral na gestão pública, tem o princípio da universalização de acesso a produtos culturais, mas não necessariamente esse acesso vai ser justo. Acaba que fazemos um investimento alto que é consumido por uma população que, teoricamente, poderia até pagar por esses serviços. Se pegarmos o público que frequenta o festival historicamente, poderia pagar pelo acesso, desde que não fosse caro, e essa receita poderia gerar ações para um parcela da população que não pode pagar e por isso não tem interesse em acessar. Em várias ações nessa universalização, o Poder Público atinge mais quem precisa menos. Na cultura não é diferente”, comenta o superintendente da Funalfa Rômulo Veiga.

Segundo ele, em Juiz de Fora são identificadas distintas ações que apresentam tais distorções, como a já extinta Sessão Cidadão, no Cinearte Palace. “Como ela era linear e universal, nem sempre quem estava indo às sessões, que era onerosa para o município, era quem precisava realmente. Muita gente que poderia pagar aproveitava o preço promocional e ia porque gostava de cinema. Por isso, acaba sendo aprofundada a distância sócio-econômica que existe entre faixas demográficas brasileiras”, aponta o gestor. “É preciso equalizar as diferenças e isso passa pela cultura”, defende, num discurso que não exime o Poder Público da garantia às pessoas de seu direito constitucional e fundamental à cultura.

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“O Poder Público não trabalha sobre a perspectiva de lucro, mas isso não significa, necessariamente, que ele sempre trabalhará pela perspectiva da gratuidade. O ‘Gente em Primeiro Lugar’, por exemplo, tem que ser gratuito, porque a ideia dele é atuar em áreas de vulnerabilidade, impactando crianças que, por motivos diversos, não têm a oportunidade de consumir produtos culturais. Ele é e será sempre mantido na política de universalização de acesso gratuito, mesmo sendo o maior investimento da Funalfa, junto da Praça CEU”, assegura o superintendente, apostando na sustentabilidade como motor do futuro da pasta. De acordo com o gestor, a expectativa atual é de que a venda do calendário permita a criação de uma receita que ajudará na complementação da acessibilidade do Teatro Paschoal Carlos Magno.

“Com certeza o Paschoal será o teatro mais moderno na recepção de público com restrições de mobilidade, auditiva ou visual. Ele tem locais acessíveis em pontos nobres da plateia, na frente e no fundo, assim como banheiro. O que não estava previsto era a acessibilidade frontal de palco. No projeto original, ele tinha acessibilidade de palco através de elevadores de backstage, mas consultando os teatros mais modernos que cumprem melhor as políticas de acessibilidade e conversando com o Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência, vimos que seria fundamental ter esse acesso frontal”, conta o superintendente, indicando a urgência na compra de uma plataforma elevatória móvel, que deverá ser fixada no local. “Essa é a nossa primeira iniciativa nesse sentido e será uma curva de aprendizado. Pela receita desse ano vamos ver o que o calendário é capaz de levantar, para criarmos projetos especiais atrelados a ele, seja de restauro, seja de complementação de equipamento público”, anseia o superintendente.

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