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‘Quero ser uma vó que conta histórias’

a atriz juiz forana suzana nascimento estreia neste domingo o programa infantil 'janela janelinha' da tv brasil

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A atriz juiz-forana Suzana Nascimento estreia, neste domingo, o programa infantil 'Janela janelinha', da TV Brasil
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A atriz juiz-forana Suzana Nascimento estreia, neste domingo, o programa infantil ‘Janela janelinha’, da TV Brasil

De uma certa forma, a carismática senhora de “Calango deu! Os causos da Dona Zaninha” fez a atriz Suzana Nascimento “voar” pela quarta vez. As outras três só quem sabe são os espectadores do monólogo, encenado em Juiz de Fora em 31 de agosto e aplaudido por críticos do porte de Barbara Heliodora. A juiz-forana participava do programa do Ziraldo, da TV Brasil, vestida de Zaninha, bem antes de a peça existir, quando foi vista pelo diretor Ricardo Barros de Miranda. A performance lhe rendeu a apresentação do programa “Janela janelinha”, da mesma emissora, que volta à grade neste Dia das Crianças, às 15h. A atração será a companhia dos pequenos pelos próximos seis meses. Vai ter contação de histórias, exibição de vídeos, charadas, brincadeiras e curiosidades de cada um dos continentes do planeta. “Eles me procuraram dizendo que gostavam muito do conteúdo, mas queriam uma contadora de histórias para dar uma nova cara ao programa. A contação é uma comunicação artesanal, possui uma relação mais efetiva”, comenta ela em entrevista à Tribuna.

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No Rio desde 2000, para onde se mudou deixando para trás dois anos da faculdade de jornalismo, com o objetivo de ser atriz profissional e cursar produção cultural na Universidade Federal Fluminense (UFF), Suzana tem conseguido trilhar o caminho pretendido. A lista de atividades com as quais está envolvida é grande. Ontem, ela estreou o espetáculo “História de um barquinho”, do argentino Ilo Krugli, no Teatro Oi Futuro, em Ipanema, e, em breve, embarca para Manaus para a apresentação de “O que você gostaria que ficasse”, dirigida por Miguel Thiré. No ano que vem, volta aos palcos com “A menina Edith e a velha sentada”, do ator Lázaro Ramos. Enquanto isso, a personagem de “Calango deu” continua levando nossa mineirice para vários festivais. “Vivo do meu trabalho como atriz e contadora de histórias. É aquela vida louca de não saber exatamente o que vai acontecer no mês que vem. Mas já aprendi a lidar com essa irregularidade. Graças a Deus, tenho conseguido engatar um trabalho no outro. Com ‘Calango deu’, isso se firmou com mais força.”

A filha de seu Zé Mesquita adiantou que o primeiro episódio será sobre a Europa. A meninada poderá se aventurar com “Os desejos tolos”, do francês Charles Perrault. Mesmo sabendo que o trabalho seria dobrado, decidiu escrever, com a aprovação da roteirista de conteúdo, Simone Melamed, os 27 causos já gravados. Acostumada com o calor da plateia, ela teve que se virar para não estranhar a ausência de público. “Fiquei completamente apavorada quando o diretor disse: ‘Suzana, você começa na câmera um, vai para a dois, três, quatro e termina na um.’ Comecei a dar nomes para as câmeras, como se elas fossem crianças. Por exemplo, o Arthur, meu sobrinho, era uma delas”, diz a atriz e cantora.

“Tive o cuidado de escolher textos que transmitem algum tipo de valor ou que tenham um humor forte, que é um traço do meu trabalho. Toco vários instrumentos e, em cada programa, uso um figurino diferente.” “Janela janelinha” é ambientado em um planeta imaginário, multicolorido e cheio de janelas. A própria apresentadora interpreta a canção de abertura.

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Tribuna – Você leva Minas Gerais para o programa?

Suzana – Meu trabalho de contação é muito amplo. Não faço uma mineirinha, mas sempre que posso insiro personagens com um jeitinho mais do interior. Nesse primeiro programa, faço uma personagem que tem uma maneira de falar que não foge das minhas raízes. “Mais você é uma besta mesmo.” Esse é o lugar em que sinto muito feliz e me sinto muito à vontade.

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– De quem você herdou a veia artística?

– Na minha família não tem ninguém do teatro, mas meu pai, seu Zé Mesquita, sempre teve muito essa veia artística aflorada. Ele pega o acordeom e começa a tocar, começa a cantar um calango. Adora fazer brincadeira. Acho que herdei isso dele. Eu fazia teatro na igreja, mas queria ir além disso. Fiz um curso no Pró-Música, e fundamos um grupo no Bairro Ipiranga, que durou quatro anos, até que vi o grupo Galpão apresentando “Romeu e Julieta”, no Parque Halfeld. Foi uma pancada na cabeça. Decidi que não queria o teatro como um hobby e vim para o Rio.

– A peça “Calango deu” tem arrancado lágrimas de públicos que sequer conhecem os personagens citados no palco…

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– Tenho um traço de humor muito forte, mas não estava querendo fazer só uma comédia para as pessoas rirem. A Dona Zaninha é uma representante das pessoas mais velhas que têm muita sabedoria e, muitas vezes, nunca pisaram numa escola. Esse conhecimento tem que ser passado para frente, porque essas pessoas vão morrer. Como diz aquela velha frase, quando você fala da sua aldeia, você fala do mundo. Na Zona Sul do Rio, as pessoas se emocionam loucamente. Todos têm uma origem e gostam de ouvir histórias, porque a vida está muito rápida, com o iPhone trazendo o mundo nas mãos a todo momento.

– A peça se estendeu um pouco mais em Juiz de Fora?

– Tenho um roteiro definido, mas tenho espaço para improviso. Com certeza, o espetáculo aí foi um pouco mais extenso. Por vários motivos: Tinha muita gente no Central, 800 pessoas na plateia, o café demorou mais, e brinquei muito com pessoas que eu conhecia. Minha avó estava ali sentada na minha frente. Eu estava em casa. Acho que foi o espetáculo mais emocionado e mais relaxado, no sentido de brincar mais. Claro, sem deixar a peteca cair.

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– Como começou a sua relação com as histórias?

– Meu avô adorava contar uma história de assombração da roça. Era essa coisa de ficar todo mundo na cozinha tomando café e contando e ouvindo causos de parentes. Eu já estava contando histórias no Rio e fui fazer teatro na Cal (Casa das Artes de Laranjeiras). No meio desse caminho, conheci o Francisco Gregório Filho, um mestre das palavras. Eu e minhas amigas queríamos fazer algo, no fim de semana, que a gente pudesse se sustentar. Fazíamos faculdade e não tínhamos como trabalhar. Inicialmente, era para poder fazer um trabalho em festas, mas descobri que era muito mais do que isso. Esse encontro com Gregório mudou a minha vida. Até falo em ‘Calango deu’ que foi a segunda vez que voei na minha vida. Com ele, descobri o mundo das histórias profundamente e percebi que a contação vai além das memórias de família. Virou algo que não só vinha do meu passado, mas que eu tinha que levar à frente. Virou minha profissão sim, com muito orgulho. Posso até me aposentar um dia, mas nunca vou parar de contar histórias.

– Acompanha a cena de Juiz de Fora?

– Fiquei muito impressionada com a produção teatral em Juiz de Fora, de ver como ela cresceu. Estive aí um ano ajudando os amigos na produção de uma peça da Campanha de Popularização e vi que o festival está sendo frequentado. Quando saí daí, não tinha uma movimentação tão forte no teatro. Percebo que tem cada vez mais grupos locais trabalhando. Tenho amigos, como o Tairone Vale, da Cia. Cortejo, que tem trabalhos muito bons. Merecem ganhar a cidade e o Brasil.

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