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Prestes a fazer o último show da turnê ‘Barão 40’, Guto Goffi fala sobre o cenário atual da banda

Barão
“O Barão está de volta no mapa do Brasil, dentro da história, fazendo grandes shows”, afirma Guto sobre novo momento da Barão Vermelho (Foto: Marcos Hermes/ Divulgação)
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São quatro décadas de dedicação total ao rock brasileiro. Nesse tempo, o mercado musical viveu altos e baixos, principalmente nesse segmento. E a banda Barão Vermelho acompanhou, de certa forma, todos esses momentos. Algumas mudanças de formação no caminho só mostraram que o compromisso é, de fato, o rock nacional. Como deve ser. Para celebrar esse tempo, Rodrigo Suricato (guitarra, violão e voz), Fernando Magalhães (guitarra e violão), Guto (bateria) e Maurício (teclados e vocais) decidiram rodar o Brasil rememorando os principais clássicos e conhecendo cantos novos. Disso, surgiu um álbum e três EPs, já disponíveis nas plataformas digitais.

Juiz de Fora é a última cidade a receber a turnê comemorativa, antes de eles focarem no show novo que farão no Rock in Rio, também de celebração, neste ano. A apresentação acontece nesta sexta-feira (12), dentro do Festival de Inverno do Shopping Jardim Norte. No mesmo dia, se apresentam Ira! e Nenhum de Nós. Já no sábado (13), os shows são de Falamansa, Alceu Valença e Leonardo de Freitas e Fabiano. Em ambos os dias, os portões abrem às 17h, e os shows têm previsão de começar às 20h. Os ingressos podem ser adquiridos neste link.

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Guto, um dos fundadores da Barão Vermelho, em entrevista à Tribuna, fala sobre esses 42 anos de atuação na cena do rock no Brasil, como foi possível resistir por tantos anos e, ainda, passar por algumas mudanças importantes de formação. Além disso, ele adianta que, neste ano, a banda lança um trabalho inédito, que conta com um single que deve ser apresentado ainda antes do Rock in Rio.

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Tribuna: Guto, vocês tocaram aqui no Primeiro Festival de Rock de Juiz de Fora. Isso tem 41 anos. Vocês lembram disso?
Guto Goffi: Eu lembro. Porque além de ter sido um show muito bacana, a viagem do Rio de Janeiro para Juiz de Fora foi muito interessante. Foi um monte de bandas juntas em um mesmo ônibus. Então você imagina a festa, começando umas 9h da manhã no Rio, e por aí se estendeu o dia todo, até chegar a hora do show. E quem tocou mais para a madrugada pegou a raspa do tacho.

Nessa época, a Barão Vermelho tinha um ano de banda, mais ou menos, e vocês já estavam rodando, em Juiz de Fora, por exemplo. Nesse primeiro ano, vocês realmente apostaram em rodar?
A expectativa era de tocar todo dia, toda semana, em todos os lugares. A gente não tinha uma consciência de que ficaríamos conhecidos no Brasil todo. Mas já tínhamos viajado para alguns interiores. Estava tudo no início, mas nas cidades que tinham alguma curiosidade com o underground da música, dessa geração do rock que estava subindo, a gente conseguia viajar para algumas. Mas não fazer mesmo uma turnê do norte ao sul. Isso só foi acontecer no disco “Maior abandonado” (1984), que foi a primeira grande turnê nacional que fizemos, passamos por todas as regiões.

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Quando foram perceber que a Barão ia, de fato, estourar?
A gente sempre levou muito a sério a coisa do ofício de músico. Nós fomos garotos que decidimos cedo pela escolha da profissão e acertadamente. Porque é muito difícil você ter 15 anos e saber o que quer fazer. Eu tinha 17 para 18 anos no começo do Barão Vermelho. O Frejat tinha maios ou menos a minha idade, o Maurício era uns dois anos mais novo, e o Dé tinha 15 e o Cazuza 23. A gente, de uma forma precoce, conseguiu enxergar, naquela primeira formação, que estaríamos na música por muitos anos. O Cazuza morreu na música, fazendo a carreira dele. O Dé até hoje está na música. Todo mundo continua na música. Os cinco membros originais da primeira formação, mesmo jovens, todo mundo acabou escolheu o caminho certo.

Vocês eram muito novos. Mas já tinha responsabilidade?
Era jovens acreditando em alguma coisa. Tinha um contraponto familiar, de não estar indo bem no colégio, porque está afim de ser músico, a família cobrando. Porque o músico não era um ofício. Se você não era um músico de orquestra, não era considerado um músico. Tocar música popular era quase um boêmio. Depois, os próprios pais entenderam que a gente se deu bem. Tudo o que eu conquistei na vida foi pela música. Começou a ser reconhecida como uma profissão viável. Engraçado é que isso já tinha acontecido nos Estados Unidos, em Los Angeles, com os super astros de rock, que deram certo e ganharam grandes fortunas. Não tem nem como comparar o que eles ganharam com o que a gente ganhou, mas ainda assim.

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Acha que o momento pelo qual o rock estava passando naquela época foi um fôlego para que vocês insistissem na música?
Acho que tem uma questão de chama interna de cada um. Alguns dos cinco do início poderiam ter virado uma outra coisa, saído da música. Mas os cinco estavam sabendo o que queriam e conseguiram achar um caminho nisso. Não só pelo rock, independente do rock ter dado certo ou não, porque o rock já esteve em baixa. Se tivesse algum oportunista, por exemplo, a pessoa teria saído fora nos momentos piores.

Como manter uma banda em atividade por tanto tempo?
Eu aprendi algumas coisas nessa estrada. O Cazuza, por exemplo, era um super astro e saiu do Barão. A primeira lição que eu aprendi é que ninguém é insubstituível. Foi a primeira coisa. O que é importante em uma banda para seguir é a vontade de fazer de quem está nela. Eu prefiro ter pessoas que estão afim no barco comigo do que um importante que não quer. Aquela pessoa tão importante vira um peso morto. Banda é trabalho coletivo. De voluntário mesmo. Mesmo contribuir ali dentro. Tem que ter essa vontade.

Vocês lidaram com algumas saídas importantes. E o interessante é que os novos integrantes sempre contribuíram muito. Como administrar esse novo, mas manter o que é mesmo a Barão Vermelho?

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Todo mundo que passou pelo grupo deixou um pouco da sua história ali. O Barão tem uma alma que quem entra tem que encostar naquilo. O Barão sempre fez um rock diferente e teve uma poesia mais marginal do que algumas outras bandas de rock. Muito por causa do Cazuza, e depois o grupo usou isso como estandarte também. Todos os outros letristas que contribuíram com a obra tiveram também essa liberdade de botar o dedo na ferida. Uma poesia muito direta e libertária também, porque sempre questiona a caretice social, as regras que a sociedade impõe para você ser taxado como normal ou anormal. E o Barão sempre questiona isso nos discos. Tem uma anarquia, um questionamento da vida em sociedade. Quem entra na banda tem que saber que não é um grupo de rock careta. Eu sinto que muitas bandas de rock se alinharam para uma coisa mais careta com o tempo, e eu fico pensando se os caras estavam no lugar certo, com a roupa certa, na hora certa, cantando a música certa mesmo? Porque como um cara faz parte do rock e hoje você vê o cara totalmente alinhado com a extrema direita? Como pode a pessoa estar no rock e ter uma cabeça quadrada assim? Eu mesmo cobro muito isso. Toda hora eu alfineto para o cara acordar.

Barão Vermelho deve lançar trabalho inédito ainda neste ano, de acordo com Guto (Foto: Marcos Hermes/ Divulgação)

O lugar do rock, sobretudo depois da ditadura, era um pouco de contestar um espaço. Hoje é ainda?
Eu acho que deveria ser. O que aconteceu foi que algumas bandas foram ficando comerciais, sendo pop/rock, por exemplo, para serem aceitas em determinados programas de rádio ou TV. Eu acho que isso deu uma encaretada no rock. Algumas bandas se distanciaram mesmo desse questionamento, e isso passou para o hip hop, por exemplo. Porque é uma rebeldia juvenil, que olha a sociedade e pensa: eu sou daqui, eu moro aqui, mas não caibo nesse mundo, quero pregar um mundo novo, uma ideologia nova. Muito desse questionamento e desse pedido de liberdade passou para o hip hop. O rock perdeu. Mas existem bandas do rock que ainda estão preocupadas com o que está na sua letra, que tipo de mensagem passa, que tipo de reflexão passa.

Como fazer isso em um momento em que o sertanejo, por exemplo, ocupa as paradas de sucesso no Brasil? Como fazer com que o rock entre?
Eu já estou na música há 44 anos. O que eu já vi é que de 10 em 10 anos a cena muda. E isso vai e volta. Porque a indústria precisa inventar coisas para ganhar dinheiro. Então, cada hora eles vão dar oportunidade para um novo estilo de música. Eu sinto, pelo o que a gente tem hoje no Brasil, é que as pessoas vão cansar do que se tem hoje e vão querer músicas de mais qualidade. A roda está girando, e uma hora eles vão encontrar o rock de novo. As pessoas vão seguindo os movimentos sem saber o porquê. Isso aconteceu com o rock também no seu tempo áureo.

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Como não ser saudosista?
Eu penso sempre no futuro. O meu saudosismo é pelo futuro. O que passou já era. O que vem pela frente é que me interessa. Eu sempre tenho que acreditar que isso vai melhorar. Que o estilo que eu prego vai ter oportunidade melhor. E eu toco em uma banda que já teve três formações com cantores diferentes. E eu estive em todas elas, em todas as gravações, todos os discos. E me sinto feliz de ter conseguido, novamente, mostrar que todo mundo é substituível. O Barão está de volta no mapa do Brasil, dentro da história, fazendo grandes shows. A gente está dando um gás muito grande para mostrar isso.

E como estão as produções de vocês atualmente?
Estamos chegando ao fim da turnê “Barão 40”. Juiz de Fora vai ser a última cidade a receber a turnê. Nós estamos nos preparando para o Rock in Rio, que ter um show novo. Vamos entrar em estúdio nos próximos dez ou 15 dias, para gravar um single novo, inédito, que nós preparamos para lançar antes do Rock in Rio. E, depois, temos a intenção de lançar um EP com quatro ou seis músicas novas. A primeira vai ser feita agora antes do Rock in Rio, e as outras, na sequência. Até o final do ano acredito que todas já estejam lançadas. O primeiro LP do Barão vai ser relançado em vinil agora. Tudo hoje para a gente é bacana. Tem que aproveitar tudo mesmo. Estamos ajudando a pavimentar o que é o Brasil hoje. Quando a gente começou, a estrada era bem mais esburacada do que hoje. Então, tem muita coisa pela frente.

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