Em 16 de maio deste ano, começava a 20ª edição do Feijão de Ogun, evento organizado pelo Movimento Negro Unificado (MNU) de Juiz de Fora. Neste dia, uma série de pessoas se encontraram com o intuito de apresentar e aprender a importância da aprovação do Estatuto Municipal da Igualdade Étnico-Racial, já utilizado em diversas cidades e que, então, passou a ser debatido na cidade. Entre maio e junho, outras quatro plenárias aconteceram: a segunda sobre o tema do evento deste ano, “Terra: Memória, Ancestralidade e Resistência”; a terceira sobre geração de emprego e renda e acesso à moradia; a quarta sobre mulheres em espaços que educam e, por fim, sobre cultura e juventude. Esses temas são o fio condutor de discussões que não terminaram por ali: têm a pretensão de pautar outras localidades e ambiências, sobretudo como formas de propostas de lei que melhorem a situação da população negra na cidade, combatendo o preconceito religioso e reivindicando espaços para os povos tradicionais de matriz africana. “O Feijão de Ogun, eu costumo dizer, reúne quem precisa de política e quem a faz”, afirma Marcony Coutinho, um dos organizadores.
Agora, nesta quinta-feira (13), uma série de grupos de Juiz de Fora se encontram na Praça da Estação e tomam a Rua Halfeld em direção ao Parque Halfeld como forma simbólica de dar início à programação cultural do Feijão de Ogun. “Vamos juntar diferentes grupos, fazê-los encontrar em alguns pontos do trajeto, com as baterias tocando todas juntas, em um mesmo espaço, simbolizando a unidade dessas culturas.” São grupos diferentes, mas que bebem da mesma fonte: a cultura afro, principalmente brasileira. É ela quem norteia as apresentações que seguem até o domingo (16) em diferentes lugares de Juiz de Fora. “Esse momento cultural é mesmo uma celebração do que foi iniciado lá em 16 de maio”, afirma Marcony.
Grande parte da programação de concentra no Parque Halfeld. Durante os três dias, o lugar recebe a terceira edição da Feira de Etnodesenvolvimento e Economia Solidária, com vendas de produtos de artesões e produtores negros. Ela acontece das 10h às 21h. Na sexta-feira (14), tem apresentação do DJ Fausto Mota, do Samba dos Orixás, e do Samba do Mato. Enquanto no Anfiteatro João Carriço acontece exibições de filmes com o Cinefanon. No sábado, também do Parque Halfeld, sai a Caminhada Juiz de Fora Negra, que passeia por localidades que contam a história do povo negro da cidade. À tarde, tem show da Alessandra Crispin, do RT Mallone e do Samba de Colher.
Já o domingo (9), a programação acontece em dois lugares, praticamente de maneira simultânea. A quadra da União das Cores (Rua Daniele Lamarca Pereira 11 – Milho Branco) também vai receber parte das atrações. A começar com uma feira da comunidade. No almoço, tem a tradição distribuição da feijoada feita com os feijões doados durante o evento. A expectativa é a de que mil marmitex sejam distribuídos. Os feijões que não forem usados na produção da comida vão ser doados para a Sopa dos Pobres. Em seguida, tem apresentação da oficina Paticumbum, da Bateria Sensação União das Cores e, por fim, o show de Farinhada. Já no Parque Halfeld, a partir das 12h tem DJ Anderson Fofão, a peça teatral “Orixás, flores e amores”, show do Ingoma e do Muvuka.
Apesar de já estar em sua 20ª edição, esse formato com discussões seguidas de programação cultural ocupando as ruas da cidade é recente: começou a acontecer há três anos. Dessa forma, a amplitude do evento aumenta e atinge outras pessoas, fazendo cumprir seu objetivo de dizer a quem precisa. A parte cultural é como se fosse essa porta de entrada para aprofundar uma série de discussões ampliadas durante o Feijão de Ogun.
Marcony lembra que várias pautas levantadas no evento, sobretudo pelo MNU, já foram discutidas e até sancionadas, como o feriado de 20 de novembro (que deve voltar a ser discutido), a implementação do sistema de cotas em concursos públicos (sancionada no ano passado) e, agora, o Estatuto Municipal da Igualdade Étnico-Racial. A ideia é seguir atuando como essa ponte. E, para isso, a pretensão é aumentar, em cada ano, o evento, que faz parte do calendário oficial de Juiz de Fora.
“Não é fácil levantar um evento como esse. Mas a gente, por causa desses anos de realização, já se tornou uma referência na cidade e na região. E cada ano a gente finca ainda mais o nosso nome aqui e na região. E parece que a gente está conseguindo, né?! Porque estamos aqui, mais uma vez.” Neste ano, o Feijão de Ogun foi organizado, além do MNU, pela Associação Cultural Bloco Afro Ìlú Àse Muvuka, com o apoio da Prefeitura de Juiz de Fora, da Cervejaria São Bartolomeu e da Chico Rei.
Confira a programação completa:
Quinta-feira (13)
18h – Concentração para o cortejo de abertura com Ingoma, Muvuka, Maracatu Estrela na Mata e capoeira, na Praça da Estação
19h – Subida do cortejo pelo Calçadão da Rua Halfeld até o Parque Halfeld
Sexta-feira (14)
Parque Halfeld
10h às 21h – 3ª Feira de Etnodesenvolvimento e Economia Solidária
16h – DJ Fausto Mota
18h – Samba dos Orixás
20h – Samba do Mato
Anfiteatro João Carriço
14h – Exibição de Filmes com Cinefanon
Sábado (15)
Parque Halfeld
09h – Caminhada Juiz de Fora Negra
10h às 21h – 3ª Feira de Etnodesenvolvimento e Economia Solidária
16h – Alessandra Crispin
18h – RT Mallone
20h – Samba de Colher
Domingo (16)
Parque Halfeld
10h às 21h – 3ª Feira de Etnodesenvolvimento e Economia Solidária
12h – DJ Anderson Fofão
14h – Peça teatral “Orixás, flores e amores”
15h – Ingoma
17h30 – Muvuka
G.R.E.S. União das Cores (Rua Daniele Lamarca Pereira 11 – Milho Branco)
09h – Feira da comunidade
12h – Distribuição do feijão
13h – Apresentação da oficina Paticumbum
14h – Bateria Sensação União das cores
15h – Show de Farinhada