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Caetano Veloso apresenta ‘Meu coco’ em Juiz de Fora

CAETANO HANNAH CARVALHO DIVULGACAOdestacada
CAETANO SARAH MIRELLA DIVULGACAO
O disco ‘Meu coco’ é o primeiro de Caetano com todas as músicas feitas por ele, desde a letra à melodia (Foto: Sarah Mirella/ Divulgação)
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Há anos, entre tantas conversas existenciais que circulavam pelo ambiente brasileiro com o intuito de querer saber quem se é, João Gilberto concluiu uma conversa com Caetano Veloso dizendo que “somos chineses”. Anos mais tarde, no coco de Caetano, essa resposta ficou. Como um poema que ele considera muito óbvio ao mesmo tempo que complexo. Depois de tempos sem gravar um disco com inéditas (o último foi “Abraçaço”, de 2012), o músico baiano teve, em 2019, vontade de criar e gravar coisas novas. Em um verão baiano, nomes femininos foram surgindo em sua cabeça, acompanhados de um embalo de samba cortado. A conversa que teve com João Gilberto reapareceu clara na memória, ainda na tentativa de entender “quem é, quem és e quem sou”. Nascia “Meu coco”, a canção que Caetano considera como a nave-mãe das que vieram sem seguida, a partir daquele ano. Tudo deriva dessa decisão de se lançar em sua própria cabeça e daquilo que sai dela: a vontade pulsante que atingiu um dos maiores compositores do Brasil. “Meu coco”, mais que música, tornou-se disco e virou turnê, que chega a Juiz de Fora, no Cine-Theatro Central, a partir das 21h, nesta sexta (12) e sábado (13).

A partir de “Meu coco”, Caetano tinha o guia do que queria. Logo tinha o desejo de entrar em estúdio. A pandemia, de certa forma, o barrou. Mas tinha um jeito: convocou Lucas Nunes, atualmente integrante da banda Bala Desejo, amigo de infância de Tom Veloso, filho mais novo de Caetano, para idealizar o novo disco dentro do estúdio que tem em casa. Uma forma inédita na carreira de mais de 50 anos. A partir de então, outras músicas foram sendo desenvolvidas e até foram surgindo no processo. O disco é ainda o primeiro de Caetano com todas as músicas feitas por ele, desde a letra à melodia.

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A canção-título abre o disco fazendo um convite a esse passeio dentro do coco de Caetano. Logo em seguida a ela, “Ciclâmen do Líbano” já mostra que se trata de um disco com diversidade rítmica. É uma música de amor que contou com arranjos de cordas e regência de Jacques Morelenbaum. Como uma quebra, “Anjos tronchos” resplandece como manifesto: é a canção que Caetano lançou primeiro como single, falando sobre o mundo tecnológico e a forma como a sociedade precisa conviver com isso. “Agora a minha história é um denso algoritmo”, afirma. Entre as tantas, essa é a que mais se aproxima de “Abraçaço”, o Caetano tecnológico. Isso se explica com a participação de Pedro Sá, que gravou guitarra e baixo e fazia parte da banda Cê, que gravou o último disco com inéditas.

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Na noite de contagem de votos da eleição de 2018, Caetano entoou: “Eu não vou deixar”, dizendo respeito a um futuro que temia. Uma criança estava na sala e ouviu a fala de Caetano, dizendo, depois, “o vovô está nervoso”. O músico pegou essa cena para criar “Não vou deixar”, que mistura o sintetizador de Lucas Nunes com o violoncelo de Morelenbaum, o “Apesar de você”, de Chico Buarque, com um funk melódico tímido.

Foi também uma criança, no caso o neto mais novo de Caetano, Benjamin, a inspiração para outra música, a “Autoacalanto”. O filho de Tom tinha o costume de cantar para si mesmo antes de dormir. Vendo isso, Caetano compôs a música que, no começo, repete os solfejos do neto. Já os Enzo Gabrieis, um dos nomes mais usados entre 2018 e 2019 no Brasil, foram o motivo de Caetano escrever “Enzo Gabriel” como um conselho, indagando, com isso, como essas crianças vão salvar o Brasil.

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Entre tantos nomes, Caetano traz “GilGal”, mencionando importantes artistas da música brasileira (sem mencionar, na letra, Gil e Gal, suas “almas irmãs”). A faixa conta com a participação de Dora Morelenbaum, filha de Jacques e também integrante da Bala Desejo. Em “Cobre”, Jacques, inclusive, retorna, em mais uma canção de amor com o tom de pele cobreado baiano. Por isso, ele garante: “Vale estar vivendo aqui”. Também sobre tons de pele, Caetano recupera “Pardo”, que a cantora Céu já havia gravado em seu disco “Apká”, mas cravando o samba de Letieres Leite, misturando com o clarinete de Ivan Sacerdote – com quem o músico também lançou um outro disco, em 2020.

Caetano sempre achou interessante o não-uso do termo “você” no português de Portugal. Com Carminho, cantora portuguesa, ela conversava sobre isso. E, para ela, escreveu “Você-você”, contando sobre essa relação e convidando a cantora para gravar a faixa. Foi também conversando com o músico Pretinho da Serrinha que surgiu “Sem samba não dá”. O sambista perguntou a Caetano se em seu disco novo não teria um samba. Ele, então, compôs um, mencionando mais nomes da música brasileira.

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Na casa onde Caetano cresceu em Santo Amaro, o telhado não tinha forro e dava direto para as telhas. Uma delas era de vidro, para poder passar a luz na fresta. Por ela, à noite, dava para ver a lua, ou pelo menos sua luminosidade. Sobre essa sensação, Caetano escreveu “Noite de cristal”, que Maria Bethânia gravou no final dos anos 1980. Ela sugeriu que Caetano recuperasse a canção no “Meu coco”, e assim ele fez. É por isso que o disco, bem como a turnê, é um passeio pela cabeça de Caetano e também por sua trajetória, cinco anos depois desde sua última apresentação em Juiz de Fora.

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