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‘À deriva’, curta juiz-forano, é premiado em festivais internacionais

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Em “À deriva”, Carú Rezende e Fábio de Cácia interpretam Lúcia e Lucas, mãe e filho (Foto: Divulgação)
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O filme “À deriva”, dirigido e roteirizado por Tainá Varandas e Marcella Paiva, ganhou, na última semana, premiações internacionais. O curta recebeu o prêmio de “Melhor direção” no Busan New Wave Short Film Festival, na Coreia do Sul e, no Athens International Monthly Art Film Festival, na Grécia, ficou em terceiro lugar na categoria “Melhor curta-metragem” e ganhou ainda menção honrosa. A produção foi toda feita em Juiz de Fora e contou com financiamento do edital “Cultura da/na quebrada”, do Programa Cultural Murilo Mendes, da Funalfa.

Tainá Varandas ouviu uma vez que um filme curta-metragem é como uma flecha no peito. Ela não sabe bem a origem da frase, mas fato é que ela nunca saiu de sua cabeça. Em poucos minutos, o diretor tem que captar o espectador de forma arrebatadora. Transmitir relações profundas em um curto tempo. “Você tem que passar sua ideia, sua visão de mundo, de forma rápida, como se fosse flecha mesmo, e aquilo tem que atingir o público naquele tempo”, ela resume. Essa frase foi fundamental para desenvolver “À deriva”, um curta de 13 minutos que fala de uma relação entre mãe e filho, em uma tentativa de aproximação, no meio de barreiras.

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“À deriva” começou a ser produzido dentro da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), na Faculdade de Cinema. Tainá e Marcella estudaram juntas e fizeram uma matéria sobre roteiro. Uma das propostas era a elaboração de uma história. Tainá conta que até tinha escrito algumas coisas, mas tudo engavetado. Até que, na disciplina, o curta começou a ser pensado. O professor gostou do que escreveram e orientou que o roteiro fosse tirado do papel. “Foi a primeira vez que eu e Marcella tivemos esse impulso de produzir”, afirma.

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Até 2022, o projeto ganhou várias versões e tratamentos. Foram dois anos para amadurecer a ideia e, inclusive, conhecer melhor as possibilidades de editais para financiar a realização. Tainá conta que foram cerca de seis tratamentos – todos fundamentais para que “À deriva” tivesse essa cara e esse conceito. Em 2022, então, o projeto foi aprovado no edital e, no início de 2023, foi gravado, em três dias: uma externa no Santa Cândida e duas internas em um hotel no centro de Juiz de Fora.

Colocando a arte no mundo

Tainá conta que Marcella fala que “À deriva” é como se fosse o “bebê” da dupla. “A gente cuidou muito dele até colocá-lo no mundo.” É, ainda, para ela, “uma carta de amor à minha autoestima”. Isso, porque, depois de tantos projetos, ela consegue, por fim, dar vida a uma de que, de fato, gostou. “Porque eu tinha muita insegurança antes de pegar um projeto, encabeçar um filme. É muito diferente você ser o assistente de fotografia, como já fui, e ser o diretor, porque você tem que colocar mais sua cara, você se mostra muito mais.”

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A diretora ainda conta que é uma emoção a mais poder ver, primeiro na tela das câmeras, tudo o que pensou se tornando real. “E foi muito interessante nas gravações ver o que a gente tinha em mente se concretizando em forma de imagens mesmo. A gente tinha imagem na cabeça e gravando a gente concretizou a imagem”. Ela continua, já pensando no futuro de suas produções: “É um ponto inicial da minha carreira, porque eu pretendo continuar essa busca em algo de direção e roteiro, principalmente. Para mim, eu definiria ‘À deriva’ como o momento em que eu consegui jogar minha arte para o mundo”.

Tainá Varandas e Marcella Paiva estudaram Cinema juntas, na UFJF, e assinam direção e roteiro de “À deriva” (Foto: Divulgação)

Três personagens profundos em ‘À deriva’

A equipe foi extensa. Formada, sobretudo, por pessoas ou que ainda estudam na UFJF ou que já passaram por lá. Já na tela, Carú Rezende interpreta Lúcia; Fábio de Cácia, Lucas, e Lucas Barbosa, o amigo. Cada escolha foi arquitetada para conversar com os ambientes e o ano em que a história se passa, 1996. “O Fábio eu assisti em uma peça e já pensei que queria ele no meu filme. O Lucas Barbosa eu conheço há anos, quando ele entrou no teatro eu estava saindo. Já Carú, enquanto eu escrevia, eu pensei nela para ser a mãe”, confessa.

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Esses três personagens carregam neles tantas histórias profundas, mas que são elaboradas, mesmo que nos poucos minutos de curta. Tainá conta que, no filme, quis mesmo expor relações profundas e atemporais. “Eu quis, em ‘À deriva’, passar as questões de classe, as dificuldades da mãe, que é uma prostituta tentando se reconectar com seu filho e como esse filho tem dificuldades de aceitar a profissão da mãe, apesar de vê que ela teve sonhos, quis outra vida, mas a vida teve esse rumo. Eu quis passar as dificuldades dentro das famílias, de como é difícil, às vezes, se aproximar de uma pessoa que você gerou, mas que tem outras visões de mundo.”

Colhendo os frutos

Uma das contrapartidas do projeto aprovado no Programa Cultural Murilo Mendes foi uma oficina de roteiro dada por Tainá e Marcella. Além disso, outra contrapartida foi a estreia de “À deriva”, que aconteceu em maio de 2023, no Museu Ferroviário. “Agora, começa a distribuição, que é quando a gente colhe nossos frutos, que é um momento muito gostoso”, diz. “É extremamente importante a distribuição. Você não faz um filme para ficar engavetado.”

Desde o fim do ano, elas têm inscrito em festivais de cinema ao redor do mundo. As primeiras premiações vieram na Coreia do Sul e na Grécia, que foram os primeiros lugares a selecionar o “À deriva” na programação. Agora, elas seguem inscrevendo o curta em outros festivais, inclusive no Brasil, para ver o filme rodar e chegar como flecha. Tainá ainda reforça que tudo isso só foi possível graças ao “Cultura da/ na quebrada”. “Se tivesse acontecido sem o financiamento, não teria ficado tão interessante como ficou”, acredita. E finaliza: “Esse reconhecimento é muito legal, porque a gente nota que é muito importante esse incentivo e esse investimento no cinema universitário aqui em Juiz de Fora. Eu fico pensando na quantidade de alunos e futuros diretores que precisam do incentivo aqui em Juiz de Fora. E é cada vez mais essencial investir em cinema. É muito difícil fazer cinema sem incentivo”.

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