Ao longo de toda a sua história, o grupo recifense Quinteto Violado sempre se orgulhou de olhar para trás. Em 1994 lançou “Retrospectiva em cinco movimentos” e, dois anos depois, “25 anos não são 25 dias”. Há nove anos, produziu o álbum “Quinteto Violado 40 anos”. Prestes a completar meio século de história, uma vez mais, recorre à trajetória no espetáculo “Na estrada”, que divide com a Banda de Pau e Corda, sua contemporânea e conterrânea. “O encontro dos dois grupos acontece desde o nascedouro. O Quinteto Violado surgiu inicialmente em 1971, logo em seguida os meninos começaram a nos ouvir e a nos assistir e ficaram muito encantados com a leitura que fazíamos das músicas nordestinas. O Quinteto influenciou muitos grupos. E a Banda de Pau e Corda foi a que ficou mais próxima da gente. Temos sempre nos encontrado, e tivemos a ideia de fazer esse encontro para que pudéssemos tocar junto coisas nossas”, conta Marcelo Melo, único integrante da formação original, cujo companheiro de fundação do Quinteto, Toinho Alves, falecido em 2008, foi quem nomeou a Banda de Pau e Corda.
Entre clássicos que marcaram a história do Quinteto e da Pau e Corda, como o conhecido arranjo violado de “Asa branca”, as cirandas, e músicas como “Banco de feira”, “Vivências” e “Palavra acesa”, o show que os grupos apresentam nesta sexta (13), às 21h, no Cine-Theatro Central, inclui frevos atuais, canções nordestinas de um país que continua a produzir música regional de excelência. “Existe uma música nordestina que procura o caminho comercial, como a romântica e a brega. Mas também existe uma música nordestina de muita qualidade. É justamente com eles que a gente procura se encontrar”, pontua o músico de um conjunto que fez de sua bandeira os folguedos populares e outras manifestações populares, como a Missa do Vaqueiro, evento católico de Pernambuco que gerou música e dá título ao disco de 1976 do Quinteto. “A gente tem dentro de nossa estrada momentos muito importantes e de muita contribuição para a música brasileira”, orgulha-se Melo, vocalista e violonista. “Vestimos a mesma camisa, que representa o legado da música regional de origem popular, e as coisas do profanos e do sagrado que fazem parte da cultura nordestina.”
Entre ídolos e fãs na MPB
Entre o erudito e o popular, o grupo cinquentenário gravou “Águas de março” e também “Embolada” e por duas vezes venceu os prêmios Sharp e da Música Brasileira na categoria regional. “Realmente o trabalho que fizemos no início, com Toinho Alves e comigo, os arranjos que fizemos, foram emblemáticos. O Quinteto guarda esses elementos que ficaram impressos desde muito cedo. A sonoridade do grupo é a mesma”, diz ele, referindo-se a uma produção muito influenciada por Luiz Gonzaga, com quem fizeram show no início da estrada. “Tivemos o privilégio de dividir o palco com ele nos anos 1970, num circuito universitário. Quem abria era o Gonzaguinha e quem tocava junto era o Dominguinhos. Luiz Gonzaga se emocionava com a leitura que fazíamos da obra dele”, recorda-se o remanescente do grupo elogiado por Caetano Veloso e Gilberto Gil, além de ter sido o principal responsável por nacionalizar o talento da paraibana Elba Ramalho. De acordo com Marcelo, a cantora chegou ao Rio de Janeiro, nos anos 1970, para integrar um espetáculo do Quinteto Violado. “Todo ano fazíamos um projeto que resultava em espetáculo, álbum e turnê. Rodamos a Europa e a Ásia. O primeiro grupo que gravou uma leitura da música caboverdiana no Brasil foi o Quinteto. Temos muita história”, orgulha-se o músico.
Desde os primeiros passos, o Quinteto Violado investiga, segundo Marcelo Melo, a identidade brasileira. Escava a terra nordestina em busca das raízes de um país real. E foi a busca que fez dos cinco músicos parceiros de outros grandes nomes da canção nacional. “Também trabalhamos coisas do Milton Nascimento”, destaca Melo, lembrando-se de ter recebido do compositor e cantor a letra de “Notícias do Brasil”, que deu título ao álbum lançado pelo grupo em 1982. Nessa década, inclusive, foram muitos os shows em Minas. “Somos muito respeitados pelos músicos mineiros”, garante ele, contando já ter feito vários concertos no Pró-Música. “Ainda existe?”, pergunta. Respondo positivamente ao músico que, no álbum cujo título é uma música de Milton, também gravou “Morro velho”, de Fernando Brant e Milton. O vinil ainda trazia a “Cantiga brava”, de Geraldo Vandré, e o “Táxi Lunar”, de Alceu Valença, Geraldo Azevedo e Zé Ramalho. Para encerrar o trabalho, escolheram “História pátria”, poema de Rolando Boldrin.
Para não envelhecer
Onipresente nas festas de São João de Pernambuco, a Banda de Pau e Corda também louva o Brasil profundo em sua trajetória, com gravações equivalentes em seus álbuns, como “O cio da terra”, de Chico Buarque e Milton Nascimento, gravado em 1995. “Temos um repertório que se entrelaça em qualidade e linguagem”, elogia Marcelo Melo, pouco após o ensaio final para as apresentações, na última segunda-feira (9). Testemunhas de outros tempos na música e o no país, tanto a Banda de Pau e Corda quanto o Quinteto Violado olham para trás sem, contudo, perder o foco no presente. “A gente acompanha a evolução das coisas e trabalha para não se deixar envelhecer”, garante Melo. “Procuramos manter a qualidade acompanhando o processo natural da evolução das mídias, do vinil ao CD, do CD às plataformas digitais. Acompanhamos isso com o cuidado para não ficar fora do cenário. Sobretudo procuramos trabalhar muito com a juventude, para não perder o fio da meada. Os antigos acompanham, e, para os novos, trabalhamos numa linguagem para que eles assimilem bem. O Quinteto nunca fez um tipo de trabalho que tivesse um grande apelo comercial, de massa, mas fazemos algo de bom gosto, para quem curte música fundamental da raiz brasileira. É isso que conservamos.”
QUINTETO VIOLADO E BANDA DE PAU E CORDA
Nesta sexta (13), às 21h, no Cine-Theatro Central (Praça João Pessoa s/nº – Centro)