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Peça premiada “Tom na fazenda” em cartaz no CCBM

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Gustavo Vaz e Armando Babaioff Tom na Fazenda Crédito José Limongi 2
Relação entre irmão de falecido companheiro e Tom (Armando Babaioff) serve como estopim para discutir homofobia, família, mentiras e morte. (Foto: José Limongi/Divulgação)
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A lama, que remete à fazenda, representa a brutalidade, a sujeira e também a natureza. Recurso estético de “Tom na fazenda”, a lama é discurso, sobretudo. A lama é alma. E o elogiado espetáculo com texto do canadense Michel Barc Bouchard transborda em sentimentos ao apostar nas vísceras. Premiado em nove categorias do Prêmio Cenym de Teatro e com cinco indicações ao Prêmio Shell de Teatro (cerimônia prevista para março), sete ao concorrido Cesgranrio (resultado em janeiro) e dez ao Prêmio Botequim Cultural, o espetáculo há mais de seis meses em cartaz no Rio de Janeiro desembarca nessa terça em Juiz de Fora, para curtíssima temporada no Centro Cultural Bernardo Mascarenhas. Numa parceria entre o Sesc e a Funalfa, as duas apresentações (terça, às 19h, e quarta, às 20h) integram a programação do Ato, evento teatral, que ainda inclui um bate-papo com a equipe logo após a primeira exibição.

Sucesso de crítica e de público, “Tom na fazenda” retrata o drama de um homem (Tom) surpreendido pelo fato de que a família de seu companheiro desconhece, por completo, sua homossexualidade. Longe da cidade e diante do funeral do parceiro, ele mente para ser aceito junto de uma família de duros dogmas. À beira da loucura, Tom é confrontado com a violência do “cunhado”, que tem ciência de sua relação com o irmão e inicia um sinistro terrorismo psicológico com o recém-chegado. Em cena, além da intolerância, está o peso das relações sociais e familiares. “É, antes de tudo, sobre gente, relações familiares e amor”, defende o diretor Rodrigo Portella, trirriense reconhecido no teatro local por montagens aclamadas como “Uma história oficial”, “Quase nada é verdade” e a recente “Floriano Parte Baixa”.

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Idealizada e protagonizada pelo global Armando Babaioff, a peça carrega consigo um discurso político, mas não se permite panfleto. “”O Babaioff, quando escreveu esse projeto, há três anos, já percebia o que vivemos hoje em outros países”, destaca Portella, referindo-se à atualidade do texto de 2011, que também inspirou o cinema. Em 2013, foi lançada a adaptação cinematográfica da obra, com estreia no Festival de Veneza, pelas lentes do cineasta canadense Xavier Dolan, que também protagoniza a produção. Restrito aos canais fechados, o filme não chegou às programações das salas de cinema nacionais. Tocou, no entanto, o ator cuja última aparição em novelas se deu em “A lei do amor”, como Bruno.

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José Limongi/Divulgação

“Ele tem a noção do porquê montar essa peça. Ele está no palco por uma causa maior, por uma questão maior. Ele faz uma defesa do tema, das questões LGBT, tem uma preocupação em trazer questões atuais para dentro do espetáculo”, elogia o diretor, recusando o rótulo de “peça gay” e compreendendo a amplitude de uma montagem reverenciada por seu acesso íntimo aos espectadores. “É um texto bastante tradicional, que não traz muita novidade na sua estrutura estilística, com bons diálogos, cuida bem da narrativa. A direção potencializou isso, trazendo a peça para um lugar um pouco menos convencional. Procurei uma encenação rica em contrastes, colocando o ator no centro da obra”, comenta Portella.

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Segundo o diretor, que em junho viaja com a montagem para Montreal e depois segue em turnê pelo Brasil, partindo de São Paulo, o que chama atenção em “Tom na fazenda” são as nuances dos personagens, o que acaba por se aproximar da realidade em seus muitos tons. “É um texto muito contundente. E me preparei para uma encenação que não abrisse concessões para a moral”, diz, pontuando a afinação que se deu desde a estreia, em maio deste ano. “O espetáculo amadureceu muito, vivemos grandes experiências, fomos aprimorando nossa conversa com diversos públicos. Cada apresentação teve uma conversa diferente com o espectador.”

‘Sombra covarde diante da barbárie’

Em sua segunda formação, o respeitado elenco de “Tom na fazenda” chega a Juiz de Fora composto por Armando Babaioff como Tom, Gustavo Rodrigues (substituindo Gustavo Vaz) como o cunhado Francis, Analu Prestes (no lugar de Kelzy Ecard) como a matriarca Ágata e Camila Nhary interpretando a lúcida amiga Sarah. Para o experiente crítico Lionel Fischer, Babaioff responde por uma “ótima tradução” e também pela “melhor performance de sua carreira, conseguindo materializar todas as sutilezas de uma personalidade amorosa e delicada que, com o transcorrer da peça, vai aos poucos se deixando tomar pela loucura e virulência inerentes ao contexto desta ensandecida fazenda”.

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“O texto é inteligentíssimo ao entremear os diálogos com o fluxo de pensamento de Tom. A maneira como a proposta se concretiza no palco com maestria é um mérito da direção e do elenco. Babaioff está no ponto exato de perturbação que o papel pede, sem exageros”, ressalta o crítico Leonardo Torres para o portal Teatro em Cena. “‘Tom na Fazenda’ é uma obra de uma estrutura dramatúrgica impecável, vasculhando a brutalidade de sentimentos homofóbicos e que encontrou na direção de Rodrigo Portella um consistente catalisador para expor-se no mais alto valor artístico”, diz a crítica de Renato Mello no site Botequim Cultural. “Saí me sentindo uma sombra covarde diante da barbárie de proibições idiotas necessárias a moral/imoral sem a presença do humano”, destacou, na página do espetáculo o cineasta Luiz Rosemberg Filho.

TOM NA FAZENDA
Nesta terça (12), às 19h, e quarta (13), às 20h, no Centro Cultural Bernardo Mascarenhas (Avenida Getúlio Vargas 200 – Centro). Bate-papo com o elenco e direção nesta terça (12), após a apresentação. Ingressos a preços populares (R$ 10)

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