O mundo tem se encontrado, harmonicamente, num grupo de WhatsApp. Júlia Horta é uma das mais antigas. Miss Brasil eleita em março deste ano, foi uma das primeiras a chegar ao grupo formado pelas candidatas a Miss Universo, concurso que acontece no próximo dia 8, em Atlanta, nos Estados Unidos. Na rede social, conta a juiz-forana, as candidatas trocam informações. Algumas se identificam com o que Júlia diz e mandam mensagens diretas. A Miss Filipinas já citou a brasileira numa entrevista, e Júlia agradeceu o gesto por mensagem. A Miss Angola, com quem, certamente, dividirá o quarto, também está entre as concorrentes com quem mantém familiaridade. Falou da Miss Colômbia em entrevista, que retornou também com elogios. A Miss Bolívia disse se identificar. Enquanto o universo assiste muros serem erguidos, as mais belas mulheres do mundo praticam o convívio pacífico. “Acredito que os concursos de beleza são uma plataforma bacana para isso. A conexão que a gente cria entre os países, nós, que somos mulheres, porta-vozes, podemos representar o respeito, a empatia, a irmandade. Isso acontece muito, principalmente entre as latinas”, observa a miss, negando a existência de postagens políticas no grupo. Ainda. “Acredito que durante o confinamento a gente deva conversar sobre isso, sim.”
De passagem por sua Juiz de Fora natal pela última vez antes de embarcar para Atlanta no próximo dia 27, Júlia Horta visitou o Museu Mariano Procópio na tarde de segunda-feira (11), tirou fotos e deu uma coletiva para a imprensa. Serão dez dias de confinamento para o maior concurso de beleza do mundo, com prova de entrevista e trajes típico, preliminar de trajes de banho e de gala e ensaios. Os vestidos, para a preliminar e para a noite da final, que terá transmissão pela Fox, está sendo finalizado por um estilista cujo nome ainda permanece em segredo. O que a miss não esconde é a emoção. “Comecei essa trajetória querendo conhecer a Júlia melhor. Eu já buscava autoconhecimento e participava de concursos de beleza antes, mas era uma menina que acreditava que tinha que me encaixar em algum padrão. Eu me descobri. Quando ganhei, decidi que queria transmitir uma mensagem para o mundo, de respeito, de empatia e de diversidade. Isso me fez conhecer muitas pessoas diferentes de mim. Foi, sem dúvida, o ano que mais aprendi na minha vida. Conversar com pessoas que vêm de lugares diferentes do seu, que passaram por coisas diferentes que você, abre sua cabeça. Aprendi a me reconhecer como mulher que é privilegiada e aprendi que posso usar esse meu privilégio para apoiar pessoas que talvez não tiveram as mesmas oportunidades que eu. Isso é o que tenho buscado como Miss Brasil e o que quero fazer em nível internacional como Miss Universo”, aponta, tão segura quanto delicada.
Com uma plataforma muito bem definida para a promoção e valorização da mulher, Júlia tem se mostrado uma miss enfática. Sem perder a ternura, contudo. “Até hoje as pessoas me identificam como uma miss que luta pela causa feminista e fico muito feliz. Isso sempre foi uma coisa que eu defendi muito na vida. Quando me descobri como Júlia e como mulher forte e empoderada, isso gritou mais ainda dentro de mim. Quero defender as mulheres e quero que elas entendam o quanto são incríveis. E que quando você descobre que é incrível passa a olhar com admiração para as outras também. Falo muito que não adianta a gente lutar pelo feminismo se quando uma mulher falar algo a primeira a apontar o dedo é outra mulher. Precisamos estar juntas, porque, afinal, nos entendemos. Luto não só pelo feminismo, mas pelo apoio entre as mulheres”, diz.
‘Mudou tudo’
Ao vencer o Miss Brasil, Júlia Horta mudou-se para São Paulo. Mas não só isso mudou. “Mudou tudo. Minha família não consegue ir para lá. Meus pais são professores, e a rotina é agitada. Tenho dois irmãos menores. Vejo minha família uma vez por mês, e isso no começo foi um desafio para mim. Eu dividia quarto com a minha irmã, sou muito ligada à família. Isso também me fez crescer muito. Parece que saí da minha caixinha. Juntando com o fato de que eu estava buscando autoconhecimento, foi uma excelente oportunidade de conviver comigo mesma. E entender o valor que eles têm para mim. Eu já valoriza família, tudo o que sei vem deles, mas hoje percebe que não há nada mais importante que isso”, avalia ela, aos 25 anos. “Faço muita questão de valorizar Juiz de Fora”, observa, dizendo frequentar os mesmo lugares, encontrar os mesmos amigos e valorizar as marcas que impulsionaram sua carreira. “É o que me lembra quem realmente sou.” Quem também lembra as raízes são Patrícia e Eduardo, os pais. Na memória da mãe, Júlia tinha apenas 9 anos quando participou de seu primeiro curso de modelo. Aos 15, pediu novamente, e os pais apoiaram, como sempre. A menina, então, fez desfiles, fotos e pequenas campanhas. Naquele período, numa sexta-feira, uma pessoa sugeriu a Patrícia que levasse a filha no concurso global Garota Fantástica, que aconteceria no dia seguinte, em Belo Horizonte. Poderia esperar para ir para a etapa no Rio de Janeiro, mas Júlia preferiu a capital mais distante, por ser mineira. “Fomos, ela era novinha e ficou entre as finalistas”, lembra Patrícia.
“Ela sempre foi da comunicação. A característica principal dela é a voz, a vontade de falar”, avalia a mãe, Patrícia Maia. O pai recorda-se do período em que a filha integrou o grupo de Contadores de Histórias do Granbery, que tirou-lhe a inibição para falar. “Ela tem muita convicção, e isso facilita para que ela se comunique de forma tão fácil”, acrescenta Eduardo Horta, que passou a conhecer melhor e a admirar os concursos de beleza. “Não é só o fato de ser bonita, tem uma preparação para beleza, em termos de postura, alimentação, atividade física, conhecimentos gerais. A Júlia estudou inglês a vida toda, mas a partir do momento em que se envolveu com o mundo Miss, o desenvolvimento foi muito rápido em função da dedicação dela.
É muito centrada e muito carinhosa”, elogia o pai. O que ela tem de vocês?, pergunto ao casal de olhos brilhantes como a pesada coroa de Júlia. “Ela é meio esquentada. Acho que nisso ela me puxou”, ri o pai. “É determinada, focada, como o pai. Como eu, o que você acha que ela tem de mim?”, pergunta a mãe. “A beleza”, responde o pai. E o casal ri. “A parte do projeto social acho que ela puxou de mim. Fui catequista numa época e levava os jovens para os projetos sociais”, afirma Patrícia, apontando para o projeto social da filha, o Voz Ativa. “Ela tem uma capacidade de trabalho muito grande. Consegue se envolver com várias coisas ao mesmo tempo e dar conta de tudo. A Júlia tem essa mesma determinação”, acrescenta Eduardo. Júlia confirma: “Estou indo para o maior concurso de beleza do mundo, e muita gente acha que estou pressionada, com medo ou nervosa, mas, na verdade, estou grata. Estou feliz. É a maior experiência que vou ter de poder falar para o maior número de pessoas, o que é o meu sonho. Vou chegar lá e aproveitar.”