Os curitibanos da banda Tuyo já provaram que sensibilidade, afinação e arranjos vocais são o forte do trio, indicado ao Grammy Latino pelo seu segundo álbum, “Chegamos sozinhos em casa, Vol. 1”, em 2021. Agora, eles inovam ao lançar um trabalho totalmente voltado para o público infantil, o belo, sensível e lúdico “Quem eu quero ser“, cujo principal mérito é a perspectiva infantil nas temáticas e nas abordagens, como em “Acordei”, que conta a história de uma criança que acorda devagar, como todas as crianças, e na na sensível “Dógui”, na qual um eu-lírico infantil diz “ele me seguiu mãe, agora a gente vai ter que adotar”, sobre um vira-lata ganhando um novo lar.
O trio formado por pelas irmãs Lio e Lay e também por Machado acertou em cheio no tom do álbum, feito a convite da distribuidora parceira da Apple Music, a Platoon UK. Eles já tinham lançado um EP, em 2002, “De música/Mais um dia”, com canções de ninar. O olhar questionador que a Tuyo tem impresso em sua discografia é aplicado no novo álbum ao debater sobre métodos de castigo, revisitar ingenuidades e reconstituir os dilemas daquele período de suas vidas. “Criança não tem jeito de modelar pra ficar parecida com você”, filosofam em “Criança”, afirmando que “criança é o ponto central da própria vida”, um ser inteiro.
Outro destaque da tracklist é “Cantinho do pensamento”, um clássico da educação não-violenta infantil. “Me faltou franqueza, me faltou compromisso, agora estou aqui, pensando nisso”. Em “Quem eu quero ser”, refletem sobre o que vão “alcançar quando esticar”. Mais provas da delicadeza e da imensa sensibilidade da banda Tuyo,
Mais lançamentos
E, já que a pegada é de sensibilidade, Adriana Calcanhotto lançou o quarto volume de seu projeto infantil, Partimpim, “O quarto”, que foi antecipado por um compacto, na semana passada, com a sensível “Malala (O teu nome é música)”, composta em 2018 para a peça “Malala — a menina que queria ir para a escola”, baseada no livro de Adriana Carranca sobre a ativista paquistanesa e Prêmio Nobel da Paz Malala Yousafzai, e “O meu quarto”, carta de intenções em sua defesa da liberdade de “inventar o mundo”. Os grandes destaques são duas regravações, uma versão brasileira e cômica da canção dos Beatles “I wanna hold your hand”, aqui traduzida para “O bode e a cabra”, versão de Renato Barros que transformou o clássico do rock em arrasta-pé romântico; e “Tô bem”, canção que Partimpim pinçou do repertório da banda Jovem Dionisio, relendo o hit de Tiktok com tamborim, cavaquinho, cuíca e surdo de Pretinho da Serrinha e sintetizadores de bolso comandados por Domenico Lancellotti e Eduardo Manso.
O volume ainda tem outras sensibilidades, como Estrela, estrela”, canção do gaúcho Vitor Ramil, “Atlântida”, de Rita Lee e Roberto de Carvalho, e “Boitatá”, parceria de Marisa Monte, seu filho Mano Wladimir e Arnaldo Antunes.
“Música infantil para crianças mal-criadas”, Filarmônica de Pasárgada
Um dos grupos mais inventivos da sua geração, a paulistana Filarmônica de Pasárgada lançou, essa semana, seu primeiro trabalho voltado para crianças, um álbum com nove canções inéditas que exploram o universo da canção infantil com um olhar lúdico e provocador. O álbum segue a cronologia de um dia na vida de uma criança, do momento quando ela acorda, passando pela escola, pela hora do almoço, pela lição de casa, pela brincadeira e pelo banho, até o momento de dormir e sonhar. “Quem é que bate na porta do meu sonho?”, anuncia a primeira faixa “Despertador“.
O volume tem participações pra lá de especiais de Tom Zé e de Ignácio de Loyola Brandão, grandes pensadores refletindo sobre o mundo dos pequenos. Tom Zé participa da filosófica “O alface é infinito”, que reflete que “dentro dessa folha tem uma outra folha”, que “tem gosto de chuchu, mas por dentro é mais bonito”. A canção “Já pro banho” é muito engraçada, com os argumentos infantis para evitar esse momento. “Porque os franceses podem e eu não posso?”
“Caçula”, de Paulo Mutti e Celso Baruc
O universo lúdico do sertão e do recôncavo baiano é apresentado às crianças por meio da música no álbum “Caçula”, de Paulo Mutti e Celso Baruc, que chega nesta sexta (11). As músicas dialogam com as crianças cantando histórias, tradições e símbolos culturais que fizeram parte da infância dos dois artistas na Bahia; Paulo, em Santo Amaro da Purificação, e Celso, em Juazeiro. As canções combinam influências rítmicas regionais como samba chula, baião, ciranda xote e também outras influências, como pop, rock e música eletrônica. “Caçula nasce da vontade de registrar as nossas fauna e flora sertanejas ricas, bem como os ritmos e o folclore da região Norte, nordeste e recôncavo da Bahia”, destaca o cantor, compositor e poeta Celso Baruc.