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Dudu Lima Trio se apresenta com músicos dinamarqueses no Cine-Theatro Central

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Palco Central realiza, nesta sexta, edição especial internacional, no Central: Dudu Lima Trio convida Ben Besiakov e Maria Hiort Petersen (Foto: Felipe Couri)
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No final das contas, a música é mesmo a linguagem universal, o que faz o encontro ali fazer sentido. E quando se pergunta o motivo desse encontro, as repostas são iguais: “É a conexão”. E todo o caminho explica isso. Um monte de coincidências que vão aparecendo na medida em que cada nota vai saindo. E, mais uma vez, tudo faz sentido. Dois dinamarqueses e mais três brasileiros, juntos no palco, provam isso: é tudo pela música. O projeto Palco Central realiza, nesta sexta-feira (11), uma edição especial internacional, no Cine-Theatro Central: Dudu Lima Trio convida Ben Besiakov e Maria Hiort Petersen, a partir das 18h30. Os ingressos logo esgotaram. Mas o que fica é o registro de um encontro que promete perdurar. É, na verdade, uma noite de celebração: 20 anos da Gravatás (iniciada por Evandro Mansur e Ligya Alcantarino, que, atualmente, segue comandando a produtora), aniversário de Maria, primeiro show em Juiz de Fora do Dudu Lima Trio em nova formação (além dele, no baixo, Leandro Scio, na bateria, e, a novidade, Caetano Brasil, no clarinete e sax), uma apresentação em quinteto que, finalmente, sai do papel. “Uma noite de celebração de amizade, amor, música e astral”, define Ligya.

Maria, a dinamarquesa, quando chega ao estúdio Argus, lugar onde aconteceu o ensaio para o show, na última quarta-feira (9), parece ser brasileira. Um jeito tão carioca e uma fala já com um palavreado bem brasileiro que fazem parecer, realmente, que ela está em seu lugar de origem. Sua história com o Brasil é grande e, sobre isso, ela poderia ficar por horas falando. “É uma longa história, mas eu cheguei aqui em 1988, o ano da Constituição. Mas, resumindo, eu tinha uma sensação muito forte de que minha vida ia se encontrar no Brasil. E o caminho envolvia música, cada vez mais, para viabilizar a viagem. Eu morei aqui até 1992. Voltei para Dinamarca e fiquei 14 anos indo e voltando. No final de 2006 eu voltei mais uma vez e, a partir daí, ninguém me tira mais”, ri.

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Ela escolheu o Rio de Janeiro como casa não por escolha. Mas, como fala, por destino “Tem muita coisa na minha vida que é meio doida assim”, brinca. “Eu estava viajando pelo mundo, fazendo show. E, finalmente, chegou a hora do Brasil. Comprei passagem e escolhemos ir para a maior cidade do Brasil, onde a gente achou que teria mais possibilidade. Compramos passagem para São Paulo. A gente ia de Miami para o Brasil. Chegamos ao aeroporto. Um rapaz estava sentado, olhou para mim, para o Paul que estava comigo, viu o meu violão. Eu achei que ele ia teimar pelo violão. Ele perguntou se eu sou música. Falei que sim. Ele perguntou o motivo de ir para o Brasil. Respondi que era porque a gente queria conhecer a música brasileira. Ele olhou e logo falou: ‘Seu destino não é São Paulo. Seu destino é Rio de Janeiro’. Fez um discurso e respondeu: ‘Vou trocar sua passagem agora’.” E trocou na hora, sem nem perguntar se ela realmente queria troca. Um acaso que deu certo. “Que sorte a sua, hein?”, diz Ligya, também na brincadeira.

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(Foto: Felipe Couri)

Era para ser, os cinco

Como constantemente afirma a produtora, encantado com todo esse encontro, “o universo conspira”. De maneira que anos mais tarde, já envolta na música brasileira, ainda com sua forte pegada no jazz, desenvolvendo parcerias, por exemplo, com Luiz Eça, grande nome da bossa nova, entre tantos outros, Maria vai ao aniversário de Wagner Tiso, em 2019. Lá, vê Dudu tocando, que foi a festa junto com Leandro. “Eu vi esse monstro tocar e caí para trás.” Eles foram apresentados e, logo em seguida, passaram a trocar mensagens para viabilizar uma parceira. Ela aconteceria em 2020, na Dinamarca. Mas, por conta da pandemia, foi adiada e acontece, primeiro, no Brasil, para depois partir.

Enquanto tudo isso, Ben se concentra em tocar o teclado. Sua língua própria. É o plano de fundo de toda a conversa ali, enquanto todo mundo se ajeita, ajeita seus instrumentos para uma possível gravação, além do ensaio, enquanto Dudu tenta solucionar o problema que impede que o violão de Maria ligue. É um violão lindo. Desenhado bem em volta da boca. Antigo, mas preservado. Dudu resolve rapidamente: era a bateria, só. Fácil. Basta trocar. Mas Maria estava aflita, medo de um problema maior. Até o violão tem história: mais uma que comprova que a música sempre foi o caminho de Maria. “Uma história antiga, aliás. Eu estudava no Canadá e meu tio me dava aula de violão. Eu estava plantando árvore e, com meu primeiro pagamento, fui comprar um violão. Entrei na loja e me apaixonei completamente por esse violão. Mas ele era caro. Eu não tinha dinheiro para ele. Levei outro. Meu tio tocou e viu que tinha uma falha no braço. Mandou eu voltar para a loja para pedir para trocar ou consertar. O dono recebeu a gente e falou: ‘Então é porque o outro violão era para você mesmo’.” Maria levou o violão que queria. Ele a acompanha até hoje. Baden Powell, Guinga e mais um tanto de gente já tocou nele, que faz 40 anos neste ano.

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Eles pensam ali no repertório: primeiro encontro. Com o violão pronto, podem começar a passar as canções. Ligya e Maria querem que “Manhã de carnaval”, de Luiz Bonfá e Antônio Maria, entre no repertório. Dudu lembra: “Essa foi a primeira música que Maria me mandou, uma versão dela com um baixista sueco. Nossa abriu minha cabeça aqui, essa lembrança”. “Então, coloca aí, vai ter ‘Manhã de carnaval'”, diz Ligya. “Não tem mais jeito”, Maria concorda. Começa, então, o movimento. “Você toca em qual tom mesmo, Maria?” “Acho que é ré, Dudu.” Agora, é o Dudu quem toca o violão. Eles passam “Manhã de carnaval”, e dá jogo. Ficam minutos os dois improvisando na harmonia. Quando termina, eles caem no riso: “Que viagem. Você no violão também. Você não presta, rapaz”, brinca Maria. E Dudu explica que gosta de compor no violão. É de lá que ele parte. “E esse violão é bom para caramba.”

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Mesma família musical

Aos poucos, outras músicas vão saindo. Ben entra na jam. Toca, sozinho, “Triste”, de Tom Jobim, mostrando que sabe também o repertório brasileiro. A banda vai formando e faz parecer que eles já se encontraram muitas vezes. “É a família do jazz e da música brasileira se encontrando. É um retorno até para o lugar de onde eu vim, o jazz. É muito história. Mas quando você resume isso em um encontro de música, é a melhor coisa. É um luxo só”, diz Maria, referindo-se à canção de João Gilberto. “Vai ser maravilhoso. A gente tem muita afinidade. Quem estiver lá vai sentir a essência da música. Não o postulado. A essência mesmo. Eu acho que o Dudu busca isso, o Ben também, o Leandro, o Caetano, eu também. É tudo da mesma família.”

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