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Alexandre Maestrini lança livro sobre a imigração de seus antepassados

D. Maestrini
I. Maestrini
Franz Hill é tetravô de Alexandre Müller Hill Maestrini e chegou há 160 anos em Juiz de Fora, então Cidade do Parahybuna (Foto: Olavo Prazeres)
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Cada cidade tem uma “alma”, e ela é feita a partir de sua história e das pessoas que dela participam, mesmo que de forma anônima. Pois são elas que, com o passar das décadas e séculos, fazem com que cada município ganhe seu corpo e personalidade. Uma dessas histórias que permitem entender a Juiz de Fora que temos hoje está contada no livros “Franz Hill – Diário de um imigrante alemão”, do professor Alexandre Müller Hill Maestrini, que tem lançamento nesta terça-feira (12), às 19h, no saguão do Aeroporto da Serrinha, exatos 160 anos depois da chegada de Franz e seus amigos e parentes à então Cidade do Parahybuna.

O trabalho é fruto da pesquisa iniciada por Alexandre, tetraneto de Franz Hill (1824-1881), há quatro anos, na esteira do trabalho que já fazia para conhecer o passado da família. A decisão surgiu após uma visita à Alemanha e à terra natal de seus antepassados, Wendelsheim, quando sua esposa, a alemã Christine, visitou os pais. Na esticada até Wendelsheim, ele conheceu o ex-prefeito, um historiador e um especialista em genealogia, daí para a elaboração do livro foi questão de colocar mãos à obra.

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“Sempre perguntei para meus parentes mais velhos de onde e por que viemos (para cá), mas muitos não queriam falar. Diziam que era para olharmos para frente e não olhar para o passado. Meu bisavô Jacó Hill, que cheguei a conhecer, também não queria responder às minhas perguntas. Mas eu era curioso, até porque morei 20 anos na Europa e não entendia o que levou meu tetravô a vir para o Brasil. A verdade é que a situação era muito diferente há 160 anos, eles foram praticamente expulsos por falta de oportunidades.”

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Um ‘diário’ para o neto que não conheceu

Para a publicação, Alexandre desenvolveu uma prosa que mistura o caráter documental a uma narrativa romanceada, como se o próprio Franz “escrevesse” um diário para seu descendente, em que conta o início de sua jornada, num povoado da antiga Renânia-Palatinado (um dos reinos que futuramente se tornaria a Alemanha), até a chegada à futura Juiz de Fora e a vida em um novo continente. “Achei que esta seria a melhor forma de contar essa história, pois a grande pergunta do livro é saber o que leva alguém a abandonar a terra natal e partir para um território desconhecido, deixar a miséria para trás e tentar a sorte no Brasil com a promessa de uma nova oportunidade”, explica.

A partir do “relato” de Franz, Alexandre conta a trajetória do tetravô, que deixou a terra natal, próxima a Frankfurt, junto com a esposa, três filhos (eles teriam mais dois no Brasil) e o sogro, além de outros amigos e suas respectivas famílias. A partida de Wendelsheim se deu em 1º de abril de 1858, e eles zarparam em uma embarcação no porto de Hamburgo seis dias depois.

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A chegada em Juiz de Fora, então Cidade do Parahybuna, aconteceu pouco mais de dois meses depois, há exatos 160 anos. “Enquanto os responsáveis por trabalhar na agricultura foram alojados no Borboleta e Cidade Alta, a família do meu avô ficou na região do atual bairro Fábrica”, conta Alexandre Maestrini. Isso se deu, segundo ele, porque seu antepassado trabalhava como pintor na Europa, e aqui foi contratado pela Companhia União Indústria, de Mariano Procópio, para exercer a mesma função na Estrada União Indústria. Ele, porém, teve que ficar por seis meses, com a família, em um dos casarões da empresa, pois sua futura casa, na atual Rua Bernardo Mascarenhas (algumas ainda de pé, mas não a de seus antepassados), ainda não estava pronta.

Pesquisa profunda

A reconstituição da trajetória de Franz Hill, idêntica à de muitos compatriotas de então, foi possível graças aos documentos de sua família, boa parte obtidos em cartórios e paróquias de Juiz de Fora e também dos que obteve em Wendelsheim. “Foi então que consegui fazer uma ligação entre os que partiram e os que ficaram”, ressalta Maestrini, acrescentando que incluiu no livro fatos da história do Brasil Império para contextualizar a terra que seu tetravô encontrou por aqui, graças a pesquisas suplementares no Museu Mariano Procópio, Arquivo Municipal, Arquivo Nacional, Museu Imperial, UFJF, cartórios municipais, Arquivo Público Mineiro, Arquivo Diocesano e na Alemanha, entre outros. A publicação ainda é enriquecida por fotografias históricas e de sua família a partir dos bisavós.

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O livro ainda desenvolve a história da família até décadas mais recentes, mas um mistério permanece: Por quanto tempo Franz trabalhou para a União Indústria, e qual foi sua atividade na cidade depois de sair da companhia até a data de sua morte, em 28 de dezembro de 1881, aos 57 anos? “A história do meu tetravô é 99,999% igual à dos outros mil imigrantes que vieram com ele. Acredito que o livro seja importante para as cerca de 60 mil pessoas que hoje, em Juiz de Fora, têm algum tipo de ascendência alemã. E também é importante para os estudantes e, principalmente, para a população negra, que tem a sua importância na história de Juiz de Fora subestimada em relação aos germânicos. Afinal, quando esses mil germânicos chegaram aqui, em 1858, já havia cerca de 14 mil negros em condições de escravidão por aqui. Eu, que sempre falei da importância da presença alemã, fico até com vergonha disso ao conhecer a história dos negros na cidade.”

“FRANZ HILL – DIÁRIO DE UM IMIGRANTE ALEMÃO”
Lançamento nesta terça-feira (12), às 19h, no Saguão do Aeroporto da Serrinha (Avenida Prefeito Mello Reis, Aeroporto)

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