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Simone inicia turnê ‘Tô voltando’ em JF

Simone Lorena Dini
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A turnê “Tô voltando” anuncia, desde o nome, a força do retorno da cantora Simone para os palcos – de onde, no entanto, ela de fato nunca ficou tão distante. E promete celebrar os 50 anos de carreira da artista com canções clássicas, hits e ainda algumas novidades, exibindo uma trajetória que a reafirma como uma das maiores intérpretes brasileiras. Ao longo desse tempo todo, ela gravou 31 álbuns de estúdio, seis álbuns ao vivo, emplacou nada menos que 50 canções em trilhas de novela e ainda um antológico álbum natalino que segue como o mais ouvido do país. Foi também através dela e do repertório precioso com que sempre trabalhou que muitas canções de Milton Nascimento, Ivan Lins, Sueli Costa, João Bosco, Martinho da Vila, Gonzaguinha e Chico Buarque, entre tantos outros, se fizeram ainda mais presentes no coração dos brasileiros. Para celebrar o caminho iniciado em março de 1973, a partir do álbum “Simone”, e relembrar os momentos mais marcantes de sua carreira, a cidade de Juiz de Fora, neste sábado (15), foi escolhida como palco, em apresentação no Cine Theatro-Central, às 21h.

Para Simone, o show “Tô Voltando” é uma festa que celebra sua história, banhada numa viva pluralidade de ritmos, de estilos e de gêneros que marcaram sua vida (Foto: Lorena Dini)

Com uma voz que se distingue das demais pelo timbre delicadamente grave e por uma vibração precisa, ela mesma anuncia: “Pode ir armando o coreto e preparando aquele feijão preto/ Eu tô voltando/ Põe meia dúzia de Brahma pra gelar, muda a roupa de cama/ Eu tô voltando”. O nome da turnê remete justamente ao samba de Maurício Tapajós e Paulo César Pinheiro, que ao ser apresentado no álbum “Pedaços”, se tornou um dos hinos da anistia e da abertura política do Brasil. Nesse álbum, a artista, conhecida como Cigarra (pela música que Milton Nascimento e Ronaldo Bastos fizeram pra ela), estourou de vez e, a partir de 1980, não havia álbum de Simone que não batesse ao menos 400 mil unidades vendidas. No palco, Simone também se fez gigante e bateu recordes lotando estádios para que ouvissem sua voz.

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O seu álbum de estúdio mais recente, “Da Gente”, foi lançado no ano passado com o trunfo de ter jogado luz sobre toda uma nova geração da música nordestina. E fez isso vindo do período da pandemia, quando a artista fez 37 lives dominicais que, buscando fazer bem ao público, também trouxeram à tona um fôlego fresco que talvez tenha surpreendido, naquele momento, até mesmo a própria artista. Como personalidade para além do universo da música, Simone apareceu como cantora depois de ter sido jogadora de basquete. Sempre se apresentando com fartos cabelos cacheados, inspirando moda e comportamento da época, além de expandir padrões estéticos e sexuais, ela é considerada por muitos, por isso mesmo, como alguém que abriu caminho para mulheres de sua geração e das posteriores, sejam elas do meio artístico ou de fora dele, através da sua própria presença. “Tô Voltando”, nesse sentido, é uma grande festa que celebra toda essa história, banhada numa viva pluralidade de ritmos, de estilos e de gêneros que marcaram essa vida intensa.

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Por isso mesmo, o show traz para os palcos tantas e tantas voltas, pessoais e coletivas, pelas quais o mundo passou nos últimos anos – inclusive recuperando uma alegria que estava mais escondida com o retorno da normalidade, e deixando que ela viesse à tona através da cantora. No caso específico de Simone, há mais um sentido nessa “volta”. A artista está rebobinando toda a sua história, refletindo sobre os acontecimentos e iniciando uma nova fase. É nesse momento que também inaugura sua parceria com a Nascimento Música, empresa de seu amigo de toda vida, Milton Nascimento, administrada pelo filho dele, Augusto Nascimento. 

Toda a riqueza única deste momento promete estar em cena nas comemorações dos 50 anos em “Tô Voltando”. A banda do show conta com um time de jovens músicos que, sob a batuta de Pupillo, atualizaram os arranjos sem que se perdesse as suas características fundamentais – solos, introduções – que se tornaram memoráveis para os fãs da cantora. Quem acompanha Simone é Frederico Heliodoro (baixo), Filipe Coimbra (guitarra e violão), Chico Lira (teclados), Ronaldo Silva (bateria) e Vanderlei Silva (percussão). O espetáculo tem direção musical de Pupillo e direção geral de Marcus Preto.

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A Tribuna fez uma entrevista exclusiva com a cantora para saber mais sobre o show que está prestes a acontecer e também sobre todos esses marcos de sua carreira. Confira:

Como foi a decisão da pré-estreia acontecer na cidade de Juiz de Fora? O que o público da cidade pode esperar?

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Juiz de Fora tem um público muito simpático e acolhedor. Tenho visto muitos amigos estreando seus shows na cidade e falando bem demais da experiência. Então resolvi experimentar. Vou cantar canções que não cantava há muito tempo, músicas marcantes desses 50 anos de carreira, é uma festa. 

Foram 31 álbuns gravados ao longo da carreira. De que forma o show vai trazer esse repertório? O que, hoje, você considera mais importante de trazer para o seu público?

Durante as lives, e foram 37, revisitei muitas canções desses discos todos. De alguma forma, acho que fui me preparando para este novo show, ouvindo sugestões dos fãs também. Foi o que me salvou na pandemia. E agora que vou poder, enfim, estar com o meu público ao vivo. Ele pode esperar o melhor de mim. 

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Ao longo dos anos, você trabalhou com grandes compositores. O que mais a marcou nessa jornada? 

Tive a sorte de gravar primeiro músicas muito importantes, que estão no show, e também ganhei tantas outras de presente. “Cigarra”, por exemplo, eu liguei para o Bituca e contei uma história que aconteceu comigo no banheiro. Estava fazendo xixi sozinha e ouvi três vezes uma cigarra. Sabe quando sussurram no seu ouvido? Ele deve ter falado pro Ronaldo (Bastos, parceiro de Milton Nascimento) o mote da canção. 

Em 2022, você também fez uma participação na turnê de despedida de Milton Nascimento. Como é a relação vocês, e de que forma ela impacta a sua trajetória? O que sentiu nessa despedida?

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Milton Nascimento, meu Bituquinha, é, sem dúvida, uma das minhas maiores referências. Fiquei feliz e honrada demais com o convite para participar do show “A Última Sessão de Música”, a turnê dele de despedida. Eu me sinto nas nuvens quando estamos juntos no palco. Foi bom demais. Bituca é uma coisa muito especial, força da natureza, importante demais na minha carreira, vida. Amo, amo. 

A turnê “Tô voltando”, que acontece após 50 anos de carreira, mostra a vontade de continuar nos palcos. Como enxerga o panorama para artistas brasileiros no momento e o que pretende acrescentar de novo, mesmo após todos esses anos?

Muita coisa mudou… o jeito de fazer música, a tecnologia, o estilo. É tudo bem diferente de quando eu comecei. Mas tem coisas que não mudam: se você quer abraçar uma carreira, você precisa de extrema dedicação e cuidado. Toda vez que entro no palco, um lugar sagrado, sou um instrumento, a energia passa, depois eu passo. O canto é forte, o recebimento dessa luz que entra e varre tudo de boas coisas.

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