“Sou ator e produtor já há muitos anos. Desde quanto comecei a me reconhecer, sentia muita necessidade e falta de algo para mim, que me representasse, que representasse a minha vivência. Um lugar para pessoas LGBTQIA+. Nunca sentia que havia algo específico para o nosso público. Então, comecei a levar os meus anseios para tudo o que fazia, tanto para a arte quanto para a produção. Tentei abordar a temática de alguma maneira em todos os espetáculos em que atuei”, relata Gabriel Bittencourt, 31 anos, ator, produtor e bicha, como o próprio destaca à Tribuna. “É uma forma de ressignificação.” Integrante do Corpo Coletivo e d’OAndarDeBaixo, ele, então, idealizou o festival virtual “O berro que eu dei”. A programação, que estreia nesta terça-feira (13), reúne espetáculos teatrais, experimentos cênicos, rodas de conversa e batalha de drag queens.
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O espetáculo de estreia, às 20h, será “Bixa, viado, frango”, do ator Silvero Pereira, vencedor do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro na categoria melhor ator pela atuação como Lunga em “Bacurau” (2019). A produção foi feita exclusivamente para ser apresentada pelo Instagram do espaço antropofágico. O festival, aliás, privilegia diferentes linguagens, já que as apresentações estão restritas a espaços virtuais. Dentre indicações e convites feitos pela própria produção, os espetáculos atendem a artistas de todo o movimento LGBTQIA+, explica Gabriel. “Queríamos ter no festival a presença de todos as pessoas do movimento, não só gays, mas também pessoas trans, lésbicas, não-binárias etc. Optamos por uma seleção em que pudéssemos abranger todas as letras do movimento.”
Além da produção de Silvero, a programação, que vai até 20 de abril, ainda terá outros sete espetáculos, dentre eles “Família virtual”, do Grupo Atiro, do Rio de Janeiro, e “Sui generis”, da Companhia Fundo Mundo, de São Paulo. Entre terça e quinta-feira (15), sempre a partir das 10h no Instagram d’OAndarDeBaixo, por sua vez, haverá a exibição de nove experimentos cênicos de até cinco minutos. “Para os experimentos, abrimos um chamamento, porque queríamos que saísse um pouco da nossa bolha”, pondera Gabriel. “Queríamos uma maior gama de possibilidades. Fizemos um processo de seleção em cima do material que recebemos tentando abordar todas as esferas do movimento LGBTQIA+.” Os experimentos reunirão artistas desde Caxias do Sul (RS) até Fortaleza (CE), passando por aqueles locais.
Na terça, às 20h, a programação dará espaço no YouTube para uma batalha de seis drags em lip sync, ou seja, disputas entre si em performances de dublagens de músicas, em que o público escolherá a vencedora, como detalha a atriz Carú Rezende, 37, produtora do festival. “A ideia é trazer uma coisa mais festiva, calorosa para ‘O berro que eu dei’. As drags vão ser divididas em três duplas. Cada dupla vai se apresentar simultaneamente. As mais votadas serão as finalistas. Os vídeos da vencedora de cada dupla vão ser divulgados no Instagram. Então, vamos abrir uma enquete, e a mais votada, quem tiver mais curtidas, compartilhamentos e comentários, será a rainha da nossa batalha.”
Embora o festival seja formado majoritariamente por espetáculos e experimentações cênicas, a programação também promoverá cinco rodas de conversa – todas com tradução simultânea em libras –, no YouTube, com convidados, para formação artística. Os temas abordam tanto as expressões artísticas das pessoas LGBTQIA+ quanto a vivência, pontua Gabriel, ou seja, reúnem as experiências pessoais com a técnica teatral. A primeira será na quarta-feira (14), às 18h30, com a temática “O perigo de uma única história para o corpo”, com a partição de João Paulo Lima. “Enquanto gay, foi muito legal ter contato durante a produção com outras pessoas do movimento e criar uma rede de apoio, de fortalecimento mesmo, porque são várias pessoas que não conhecia e acabei trazendo para perto de mim. O que mais se destaca no festival é a união das pessoas do movimento LGBTQIA+.”