Se antes as mulheres do samba eram lembradas apenas como cantoras e passistas, agora elas ocupam todas as posições dentro da roda. É exatamente isso que o Encontro Nacional e Internacional de Mulheres na Roda de Samba quer provar e incentivar, ao unir mulheres em dez estados do Brasil e nove países do mundo para tocarem juntas e aproveitarem tudo que o samba tem a oferecer. Em Juiz de Fora, o encontro vai acontecer neste sábado (11), às 17h, com uma transmissão ao vivo no Facebook (@mulheresnarodadesamba) para todos que quiserem se juntar a elas.
“A principal intenção do nosso encontro é trazer visibilidade para as sambistas”, diz Andréa Melo, uma das produtoras do evento na cidade. Ela conta que ali foi possível ver as mulheres provando que podiam ser o que quisessem no samba, e mostrar que tudo que elas faziam em nome da música tinha a mesma qualidade. “O nosso objetivo é mostrar que a mulher pode ser percussionista, violonista, cavaquinista, batuqueira ou compositora”, explica, afirmando que havia muito preconceito contra as mulheres nessas posições.
Andréa é prova de que o projeto tem força: depois que os encontros começaram, ela resolveu ir estudar um novo instrumento, o cavaquinho. E diz que o caso dela é só mais um exemplo entre centenas de mulheres pelo país que tiveram a mesma ideia, já que as rodas incentivaram que “uma ‘mulherada’ fosse estudar”. A escolha de fazer um evento voltado para mulheres é justamente unir rodas de samba femininas, assim como cantoras e instrumentistas, criando uma rede fortalecida entre as artistas e aumentando as trocas culturais entre elas. Mesmo assim, a produtora lembra que todos que quiserem ouvir podem participar da transmissão.
Junto desse objetivo, vieram também diversos desafios. “Um encontro como esse é uma grande responsabilidade. Há muita tradição e qualidade na cidade quando falamos de samba. Juiz de Fora não podia ficar de fora, mas ainda é difícil, porque nós temos muito pouco apoio e suporte.” Mesmo com toda a dificuldade, ainda mais considerando o momento pandêmico e a impossibilidade desse evento contar com o público geral, foi possível conseguir dois patrocinadores (Neolab e Sensorial).
Recuperando uma história
O encontro busca resgatar essa importância da mulher no samba e as influências delas no âmbito nacional e também local. O evento busca fazer isso, por exemplo, como a divulgação, “clamando em uma só voz os olhares da mídia, dos homens, da sociedade”. Andréa relembra, nesse mesmo sentido, a história de outras mulheres no samba que, durante muito tempo, tiveram que esconder seus talentos. “Done Ivone Lara, por exemplo, fazia as composições e o primo dela era quem colocava o nome. Mulher direita, de família, não era do samba.”
Por tudo isso, acredita Andréa, o exemplo de resistência que fica visível no Encontro, e que sempre foi comum ao samba, é também uma forma de acolhimento. Afinada com essa ideia, ela avança, dizendo que deseja que, durante todo o evento, desde as fotógrafas até as percussionistas, as profissionais participantes sejam todas mulheres, e que possam ser desde aprendizes até especialistas. Andréa nota que, a partir desse tipo de procedimento que vem sendo adotado pelo evento, “portas já se abriram até mesmo no mercado de trabalho” para mulheres que, como ela, foram incentivadas a tentar algo novo. Em homenagem às diva Alcione, todas as rodas do Encontro vão começar com a canção “Não deixe o samba morrer”.
Produtoras: Andréa Melo, Juliana Stanzanni e Cadija Costa.
Cantoras: Anna Terra, Anna Cláudia, Juliana Stanzanni, Aline Crispim e Miriam Rosa.
Violonista: Sara Renhe
Cavaquinistas: Bia Nascimento e Andréa Melo
Flautista: Amanda Martins
Percussão e batucada: Fabrícia Valle, Yara Canuto, Wildania Maia, Fernanda Pereira e Maíra Delgado.