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Um romance musical: coral da UFJF apresenta ‘Atemporal’

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“Atemporal” desafia a memória, pois apresenta um grupo que se transformou e muito caminhou até chegar ao que é hoje: um coral que, além da voz, trabalha o corpo, a expressão e os sentidos (Foto: Felipe Couri)
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Um palco tão grande, com tantas possibilidades, só pode mesmo dar margem à criatividade. Um lugar para se usar em sua potência. Trinta coralistas se posicionam em três fileiras ordenadas. Cada um sabe seu exato lugar. A regente, então, dá o tom. Anda a passos lentos naquele palco. Levanta a mão. Os coralistas respiram, juntos. A boca se abre. E se inicia, então, um espetáculo. Parece, neste primeiro momento, uma apresentação do Coral da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) diferente de todas as outras: os coralistas com roupas tão formais, sem um ponto de luz algum na veste, portando, em mãos, um caderno de partitura. O corpo mal se mexe, neste momento. “Tenho certeza de que as pessoas vão pensar: ‘não foi para isso que eu vim aqui'”, confessa Ana Sukita, a regente e diretora musical do coral. Isso porque “Atemporal”, o novo espetáculo do coro, que acontece nesta sexta-feira (10) e neste sábado (11), no Cine-Theatro Central, às 20h15, desafia a própria memória. Apresenta um grupo que se transformou e caminhou um tanto até chegar ao que é hoje: um coral que, além da voz, trabalha o corpo, a expressão e os sentidos. Os ingressos podem ser adquiridos, de forma gratuita, na bilheteria do teatro e no Forum da Cultura.

Depois da primeira música, o coral vai caminhando sentido ao futuro mesmo: as roupas vão mudando; os rostos vão ganhando expressões; o corpo se mexe; surpresas complementam a cena. É um trajeto que perpassa o que foi o grupo e o que ele pretende ser com o tempo, já no amanhã. Ana Sukita conta que a ideia de se pensar em um espetáculo de fim de ano como este começou a ser desenvolvida já no começo de 2023.. Ao mesmo tempo que o coral já tem uma série de arranjos autorais feitos nesses 57 anos, pelos regentes que passaram por ele, as produções seguem acontecendo. Mateus Maier, que é bolsista do coral e também arranjador, desenvolveu alguns arranjos novos pensando em seu Trabalho de Conclusão de Curso, na faculdade de Música da UFJF. Ele já pensava no coral. “A gente, com isso, teve a ideia de fazer um espetáculo que mesclasse isso: os arranjos que a gente já tem, que fizeram para a gente nesse tempo, e aqueles que o Mateus fez para o TCC. Fazer, então, um espetáculo que remonte essa história do coro”. Passado, presente e futuro, dividido em dois atos. Mas com um adendo: “A gente não está seguindo à risca a história do coro. Mas é como se a gente tivesse criado um romance musical baseado na história do coro, com algumas alterações ali”.

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(Foto: Felipe Couri)

Para selecionar as músicas que fazem parte do espetáculo, Ana Sukita conta ainda que pensou em selecionar aquelas que esses coralistas que, atualmente, compõem o grupo ainda não tivessem apresentado. Ela buscou CDs antigos, gravados pelo coral que faziam sentido para contar essa história. Essa primeira parte da apresentação é toda centrada nesse passado: honrando e relembrando quem veio antes. Já a segunda, é toda do agora, com os arranjos de Mateus. Para separar esses dois momentos, uma lembrança recente: a pandemia e a forma como o coral foi afetado, apesar de não parar suas atividades. Nesse momento, o próprio público se percebe ali, lembra de como foi para todo mundo e entende que as marcas ainda estão por aqui. Uma frase de Ana Sukita, neste momento, resume tudo: “Tem que experimentar”. Foi, inclusive, a partir da pandemia que o Coral da UFJF passou a fazer guias dos arranjos. É uma forma mais fácil de memorizar o que foi feito e, ainda, deixar para a posteridade, para que, daqui alguns anos, esse material possa ser revisto, quem sabe, em um outro espetáculo. E isso, no telão, também é acompanhado.

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Aposta em outros meios

Mais que simplesmente contar o passado através das músicas, neste ano, mais uma vez, o coral apostou em outros meios, a partir da cenografia, como um telão transmitindo cenas que narram essa trajetória, uma iluminação que conversa com cada tom. O Coral da UFJF é o único de Juiz de Fora com trabalho cênico. “As pessoas têm uma percepção de um coro como uma coisa estática e monótona. E, quando a gente faz esse tipo de mistura, com outros elementos musicais e artísticos, a cena, a imagem de telão, a iluminação, as pessoas conseguem perceber que a música coral é muito rica. E perceber que você consegue fazer a estrutura de uma música completa só com a sua voz, e às vezes com o corpo, isso já faz com que a gente consiga perceber o valor que tem a música e, portanto, o valor da música coral. Percebe que isso é tão bom quanto outras formações musicais ou até melhor, porque uso só a voz e o corpo”. A voz, o corpo e as expressões, que dizem tanto quanto.

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A ideia de reunir tudo isso em cena, em um espaço tão grande quanto o Cine-Theatro é mesmo reverter essa ideia que predomina do que é um coral: que vai muito além daquelas pessoas lendo suas partituras, paradas na frente do regente. E isso se mostra, também, na seleção das músicas. A primeira parte, por causa da temporalidade, do começo ao fim, é composta por clássicos da música brasileira. Já a segunda, é possível ver canções contemporâneas. Algumas delas já até foram apresentadas, como a versão de “A queda”, de Gloria Groove. “A gente traz músicas contemporâneas também para despertar o interesse no povo mais jovem de fazer isso. Quanto mais a gente mistura elementos culturais e visuais, quanto mais elemento a gente mistura, mais riqueza a gente tem e mais a gente traz o interesse das pessoas. A gente vai agradar tanto o público que é fiel às nossas apresentações quanto o público mais novo.”

Além de Ana Sukita na regência e Mateus nos arranjos, “Atemporal” tem ainda a cantora Michelle Flores na direção artística e na preparação vocal dos coralistas. Neste ano, a ideia foi também, além de preparar o todo, pensar nas individualidades dos cantores, para que, quando juntos, a potencialidade deles se expandisse. O professor Rodolfo Valverde, do Instituto de Artes e Design da UFJF, assumiu a direção geral do grupo. Já Júlia Salles, que também é coralista, ficou responsável pela cenografia, pelo figurino e pela maquiagem. É muita gente para fazer acontecer uma apresentação de um coral que preza, e muito, pela visão em conjunto com a audição.

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