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“A mensagem é de esperança, sempre”

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O instrumento é sua voz: Milton Nascimento faz show neste sábado num Cine-Theatro Central lotado (Foto: João Couto)
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Tem dias que a gente se pergunta porque é preciso sentir tanto. Artistas e sonhadores, caçadores de si, capazes de olhar com olhos livres e enxergar vida em qualquer pedaço dessa travessia. Para a poesia ser escrita, é preciso empunhar o lápis, despertar o sonhar, deixar a brisa arejar o coração, sempre tão cheio. Milton Nascimento, me lembro a primeira vez que o vi. Faz uns três ou quatro anos, em um café-restaurante na Rua São Mateus. Aquelas trancinhas de cabelo que cobrem seus preciosos ouvidos, um sorriso levemente puxado para a esquerda. Certamente uma roupa clara em contraste com sua pele. A mesa cheia de louças e de gente. Sua excitação na vida parece vir daí, de gente. Passei sem nem sorrir. Mas tenho essa imagem clara. Sentei ao fundo e entendi o motivo de Milton estar lá, como eu – Dudu Lima estava pronto para se apresentar. Logo veio o “Tamarear”, disco que fizeram em parceria, lançado em 2015.

Desde que Milton decidiu escolher Juiz de Fora para morar, deu uma dosagem de doçura e alegria em estar aqui. “Vivo em Juiz de Fora, o Milton também mora lá”, digo aos meus amigos de fora. A segunda vez que o vi, foi na penumbra. No dia 18 de março no Cultural Bar, show memorável do Lô Borges, também com muitos gritos de “Bituca! Bituca! Bituca!” que estava presente assistindo lá do alto, deixando todos com aquela curiosidade de poder vê-lo tocando em Juiz de Fora. A turnê “Semente da Terra” passa por aqui neste sábado, 11, no Cine-Theatro Central, um palco de poesia social, tocando nas dores políticas que mais o fazem e fizeram sentir enquanto cantou todas essas músicas nos últimos 50 anos. Necessárias em nosso tempo, que, às vezes, insistentemente, parece não conseguir passar para se expandir em novas verdades. Milton me respondeu via e-mail, refletindo sobre o show, seu momento na música – quando acaba de lançar parceria com Tiago Iorc, compositor brasiliense – e até indica filme e livro para compreender melhor sua mensagem sobre os índios brasileiros. Dá para dizer: “Este foi Milton Nascimento quem me indicou!”.

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(Foto: Nathalia Pacheco)

Tribuna – “Semente da Terra” (Ava Nhey Pyru Yvy Renhoi) é como você foi nomeado por líderes indígenas Guarani Kaiowás. Gostaria que relatasse um pouco dessa experiência em 2010, que, de tamanha importância, o levou a dar nome a este novo trabalho nos palcos. O que entrelaça tudo isso (sua obra e você enquanto cidadão brasileiro latino-americano)? Qual o valor dos índios para nossa sociedade e os motivos que o levaram a evidenciá-los em sua poesia social?

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Milton Nascimento – Tudo começou em Campo Grande (MS) em maio de 2010, quando fui batizado pelos índios Guarani-Kaiowá com o nome de Semente da Terra. Os anos se passaram, mas a situação por lá continua a mesma, então eu quis trazer esse assunto de volta. E resolvemos colocar o nome da turnê de Semente da Terra. É uma homenagem aos índios do Mato Grosso do Sul, mas também uma forma de atrair o interesse da opinião pública para dentro do cotidiano dos Guarani-Kaiowá. Este show tem temas políticos e sociais que mais marcaram minha carreira. Um dos objetivos da turnê Semente da Terra é conseguir um grupo de doadores/colaboradores para uma escola de música indígena no município de Caarapó, no Mato Grosso do Sul. Dentro do trabalho que a escola desenvolve, existe um projeto chamado Orquestra Guarani, que reúne dezenas de jovens indígenas da região. Além disso, a reivindicação deles é uma questão muito ampla. E a gente precisa recorrer aos estudiosos sobre o tema, eles têm a resposta. Para quem quiser saber mais sobre o assunto, aconselho o filme “Martírio” e o livro “Os fuzis e as flechas”, do Rubens Valente. É a melhor fonte para entender o que se passa com os índios brasileiros.

Fale sobre os músicos que o acompanham atualmente. E como estão os ensaios de preparação para as apresentações da turnê “Semente da Terra”?
Essa turnê é toda formada por amigos. Desde a banda ao pessoal de produção, da técnica, todo mundo aqui é muito amigo. Antes de pensar até no show em si, a gente sempre quis mesmo é um encontro de amizade. Todo mundo deu sugestões sobre o set list, a começar pelo Danilo Japa, que é o diretor artístico deste show, passando pelo meu filho, Augusto, e principalmente a contribuição do Wilson Lopes na direção musical e cordas, Beto Lopes (sete cordas), do baterista Lincoln Cheib, além do contrabaixo de Alexandre Ito, dos vocais de Bárbara Barcellos, do piano de Kiko Continentino e dos metais de Widor Santiago.

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Sobre a escolha do repertório: em que caminho os fãs irão passear ao sentir e ouvir o show? A mensagem final é de esperança por um país, situação política e pessoas melhores?
É um show que tem várias coisas reunidas, a gente quis colocar tudo o que há de mais importante hoje em nossas vidas. A amizade, a união, a força dos Guarani Kaiowá, está tudo aqui neste show. Além disso, vamos lembrar também dos tempos de “Travessia”, “Clube da Esquina” e uma porção de outros sucessos. E a mensagem é de esperança, sempre.

Após meio século desde o álbum “Travessia”, quais caminhos musicais estão lhe interessando atualmente? Quais músicos, álbuns e artistas de todo o mundo têm escutado por deleite e outros que possa estar servindo-lhe de motivação para suas novas composições? Aliás, você tem escrito e composto músicas novas?
Eu acabei de gravar uma música inédita com Tiago Iorc, e logo mais ela está saindo por aí. Vamos também fazer uma turnê juntos, e as datas já estão confirmadas em nossas redes sociais. E essa coisa de gravar e viajar com Tiago me deixou muito feliz, mesmo. O Brasil revela gente boa a cada dia, e em todas as áreas. Quando a gente percebe, já tem alguém se destacando em algo, assim é o Brasil.

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