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Ateliê Adriana Lopes recebe a exposição ‘Foi quase um sussurro: Memórias em imagens, fios e argila’

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A exposição “Foi quase um sussurro: Memórias em imagens, fios e argila” propõe uma viagem pelas lembranças congeladas em fotografias e recriadas através da cerâmica e do bordado (FOTO: Leonardo Costa)
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Demorar o olhar e encontrar coisas novas em cenas que são tão cotidianas: de um gato na porta, a um varal sem roupas, ou o próprio mar e um muro, a fachada de um museu. São cenas que atiçam a memória e encaminham as coisas que já passaram ou que ainda vão ser. A exposição “Foi quase um sussurro: Memórias em imagens, fios e argila”, realizada pela Art Wall e disponível no Ateliê Adriana Lopes propõe uma viagem pelas lembranças congeladas em fotografias e recriadas através da cerâmica e do bordado.

A mostra começa a partir do olhar da fotógrafa Malu Machado. Ela captou o cotidiano e, através de uma seleção, escolheu fotos que são, de alguma forma, ligadas à memória com uma raiz mais mineira. A partir disso, Adriana Lopes, junto com ela, foi escolhendo aquelas que poderiam ganhar um outro significado, uma profundidade, através da cerâmica. Dessa mesma forma, Gabriela Machado bordou outras imagens, sugerindo ou complementando cenas ou mesmo reforçando o que já está impresso ali. “Foi quase um sussurro” é fruto de uma junção de linguagens que traçam os fios da memória.

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As artistas contam que toda a ideia foi coletiva. A partir da ideia, que surgiu da Malu e foi reforçada pela Adriana, as três se reuniram para pensar como, afinal, essa exposição seria feita. Foi em um desses encontros, já com algumas fotos selecionadas, que elas entenderam que era a memória que ligava aquilo tudo, presente nas imagens da Malu. E foi também em conjunto que os fios foram sendo desenrolados, até chegar nessa proposta.

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“A gente foi pensando nas fotos, pensando o que ia fazer. E foi um processo muito respeitoso do trabalho de uma para outra, vendo o que a cerâmica e o bordado permitem e de uma maneira a valorizar a fotografia. Tinha que ter uma dosagem. Houve muito respeito em cima dessa ideia de formar uma terceira obra: a fotografia com a cerâmica e a fotografia com o bordado. Foi muito interessante, muito lúdico e muito vivo. Porque você planeja, mas quando vai fazer a arte toma conta e sai outra coisa. E foi”, conta Malu.

(FOTO: Leonardo Costa)

A partir das memórias

Adriana conta que, quando pensou no tema, que abordava a memória, achou importante trazer a ideia de fragmentação. “Porque a memória é sempre fragmentada e um túnel do tempo”, justifica. Quando viu a foto da Malu da fachada do Museu do Mundo Árabe de Paris, projetada com diafragmas de câmera que sugerem o processo do muxarabi, que são treliças de madeira, pensou em fazer como um túnel do tempo fragmentado. Ela fez como se fossem rodas de cerâmicas vazadas com a imagem recortada no meio. “E isso parece mesmo que é um túnel do tempo. É abstrato e tem a história da Malu por trás”, diz Adriana. Além dessa obra, uma outra foi feita pelas duas, que sugere uma tridimensionalidade para a fotografia, a partir da cerâmica, criando volume na fotografia.

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“É uma releitura em cima da fotografia. Favorece a imagem. Tem hora que uma coisa confunde com a outra: o que é foto e o que é bordado. Por isso que tem que chegar perto para ver o que é através do volume, a textura”, diz Adriana sobre os bordados de Gabriela. A bordadeira conta que o processo foi de ver o que as próprias imagens iam sugerir: onde o bordado valorizava o que já estava dito. “Eu fui estudando a imagem, vendo o que poderia valorizar o que estava ali. E são cenas que, apesar de serem do cotidiano, a gente nem sempre para a fim de observar, e são quadros permitem isso.”

Ela conta ainda que foi a primeira vez que trabalhou bordando imagem, o que foi um desafio: usar a própria impressão como objeto para bordar. Geralmente, quando borda, Gabriela não sabe o lugar onde aquele bordado vai chegar. Mas, nesse caso, as coisas precisaram ser mais pensadas: só havia uma chance. E só havia uma chance, também, para Malu captar aquele momento. São, na verdade, artes e linguagens de momento, e todas elas envolvem a delicadeza.

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(FOTO: Leonardo Costa)

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Puxar os fios da memória

E é essa mistura entre a delicadeza e a memória que o nome foi pensado: um traço, uma linha, uma memória que é tudo quase um sussurro. “Ainda mais que a memória te remete a alguma coisa e ao futuro, uma coisa que você vai pensar lá na frente, e vai te projetar, trazer uma outra coisa. E ela pode ser despertada por várias coisas: sentidos, paladar, cheiro, memória afetiva. E a nossa ideia é que, quando as pessoas venham visitar, elas façam uma viagem no tempo e na memória”, conta Malu. “Porque os fios podem ser puxados para frente ou para trás”, justifica Gabriela. “E essa junção toda deu uma fusão boa”, completa Adriana.

Para Malu, a leveza dessa parceria, a primeira vez que as três fazem isso, acabou por transparecer essa delicadeza na arte. “Porque foi tudo leve mesmo”. O processo demorou cerca de três meses, e, agora, cada imagem pode chegar de uma forma diferente naquele que passa pelo ateliê. “Porque arte é assim: quando está no mundo é do mundo”, afirma a fotógrafa.

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Serviço

A exposição fica disponível no Ateliê Adriana Lopes (Rua Sampaio 36 – 46 – Granbery) até o dia 21 de outubro, de segunda a sexta-feira, das 10h às 18h e aos sábados das 10h às 13h. Malu, Adriana e Gabriela pretendem, ainda, realizar um encontro com o público, como uma visita guiada, para contar mais sobre o processo da exposição. As datas ainda vão ser confirmadas.

 

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