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Acessibilidade para pessoas com deficiência ganha destaque em projetos culturais locais

acessibilidade cultura
Acessibilidade na cultura vive momento de expansão em JF, segundo Kelly Scoralick, que trabalha com uma consultora com deficiência para criar audiodescrição e legendagem. (Arquivo pessoal)
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O acesso de pessoas com deficiência passou a ser uma das diretrizes do Plano Nacional de Cultura em 2015. Desde então, foram tomadas medidas para que shows, teatros, livros e outras ações culturais passassem a ser não só adaptadas, mas também planejadas, desde o início, levando em consideração a inclusão desse público. Nesse cenário, houve o aumento da demanda para medidas de acessibilidade física e, também, audiodescrição, legendagem, uso da Língua Brasileira de Sinais (Libras), entre outras.

Juiz de Fora vem percebendo que a adoção dessas medidas se tornou essencial para a viabilidade de projetos culturais, tanto para contar com o apoio da esfera pública, quanto da privada, e vive um momento de ampliação da acessibilidade. “Pessoas com deficiência fazem arte, são consumidoras de cultura e estão buscando esse espaço que, muitas vezes, não sabiam que poderiam ter”, afirma a presidente do Conselho Municipal de Direitos da Pessoa com Deficiência, Rita Petronilho.

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Enquanto pessoa com deficiência física que precisa de medidas de inclusão para acessar produtos culturais, Rita destaca que a mudança é recente. “Nós tínhamos uma cultura de que as pessoas com deficiência não eram vistas na cidade. Mas só vamos normalizar as diferenças, quando todos entenderem o quanto nós também precisamos estar nesses espaços. A pessoa com deficiência faz parte da sociedade.”

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Nos últimos anos, com a instituição da Lei Brasileira de Inclusão (LBI), Rita explica que teve início uma mudança de atitude que, para se tornar mais abrangente, precisa englobar os fazedores de cultura, os incentivos financeiros e um olhar educacional para a questão. “Não se trata de um favor, mas de um direito que essa população tem, capaz de transformar suas vidas e perspectivas, assim como acontece quando quem não tem deficiência acessa os produtos culturais. Afinal, a arte traz uma valorização e uma reflexão sobre a questão humana, além de estimular sentimentos. (…) Quando as pessoas com deficiência também produzem, podem refletir sobre suas próprias questões”, analisa Rita.

Conforme a LBI passou a ser aplicada, mais pessoas também começaram a buscar os serviços que promovem a acessibilidade nas artes. Kelly Scoralick, que trabalha com audiodescrição e legendagem, observou o aumento da demanda e, de forma ainda mais recente, em Juiz de Fora. Seu trabalho conta com a parceria de uma consultora, que é uma pessoa com deficiência visual que estudou sobre audiodescrição, responsável por conferir se a técnica está adequada ao público.

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A principal mudança, em sua perspectiva, foi o envolvimento dos produtores artísticos na criação de manifestações inclusivas. “Anteriormente, as pessoas faziam isso só porque estava na lei. Hoje em dia, elas se envolvem, querem saber como é o trabalho e como podem assegurar todas as possibilidades para que tudo seja oferecido ao público da melhor forma. É uma troca, mesmo”, reflete. Ela destaca, ainda,que é importante garantir a acessibilidade sempre, não só quando há a confirmação de que pessoas com deficiência vão comparecer ao evento, pois ajuda a criar uma cultura que favorece a presença do público nos eventos.

Kelly conta que seu próprio trabalho já conseguiu atingir públicos de idades bem variadas. Jorge, de 79 anos, que tem uma deficiência visual, teve a oportunidade de ir a uma peça de teatro pela primeira vez, já que o evento tinha audiodescrição. “Foi uma experiência espetacular. Não tinha ideia de como funcionava a audiodescrição, e foi ao vivo no teatro. Eu me senti imerso no conteúdo da peça”, relembra. Sua filha, Naiara Silva, que o acompanhou na ocasião, destaca o quanto foi agregador. “É permitir que as pessoas tenham acesso ao lúdico, ao encanto, à criatividade que vem da arte”, diz.

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Da mesma forma, Gustavo Rocha Alves, de 12 anos, também tem uma deficiência visual, explica que a tecnologia foi uma grande aliada para conseguir ampliar seu acesso à cultura. “Uso a audiodescrição para ler livros, textos da escola e receitas. Muitas vezes, não consigo achar o que preciso nas audiodescrição, então, tento usar o programa TalkBack.”

Acessibilidade ganha destaque em editais 

Em Juiz de Fora, uma das ações apontadas como mais importantes para promover a acessibilidade foi a exigência de inclusão em projetos de incentivo à cultura, como a Lei Murilo Mendes. As iniciativas propostas passam por uma avaliação que exige medidas de inclusão, de acordo com as orientações da legislação vigente.

“Os editais orientam sobre potencialidades e recursos, indicando acessibilidade atitudinal, comunicacional e arquitetônica como meios de fazer inclusão na arte. Os editais municipais trazem a indicação para que sejam adotadas tais medidas nos projetos”, explica a assessora de gabinete da Fundação Cultural Alfredo Ferreira Lage (Funalfa) que atua na área de acessibilidade, Ana Paula Machado.

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Para ela, as medidas são necessárias para que as pessoas com deficiência possam usufruir da arte e da cultura com mais autonomia, oferecendo oportunidades de consumo e fazeres artístico. O órgão também tem ações que buscam minimizar questões de mobilidade nos espaços físicos e, assim, incluir mais pessoas com diferentes deficiências, transtornos e outras situações que acarretam redução de mobilidade.

Para que os projetos sejam realmente inclusivos para todos os públicos, Kelly destaca que é preciso que as medidas de acessibilidade sejam pensadas desde a concepção do produto. “Se isso não está nesse momento, é uma escolha de exclusão. O conteúdo deve ser para todo mundo”, diz. A adoção das medidas que promovem acessibilidade também beneficia outros públicos, como os idosos e as crianças.

Inclusão como consumidores e fazedores de cultura

Roda de Samba oferece Oficina de Percussão para Mulheres com deficiência auditiva, visual, física e intelectual. (Foto: Arquivo pessoal)

Rita destaca que, junto com a inclusão das pessoas com deficiência como consumidoras de cultura, também precisa existir a inclusão desse público como fazedores de cultura. Em Juiz de Fora, ela percebe que isso está acontecendo aos poucos, e que o setor privado tem acompanhado a necessidade.

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Uma das medidas existentes, da qual ela participa, é a Roda de Samba para mulheres, que tem em sua composição pessoas que usam cadeira de rodas e pessoas com deficiências visuais. Além disso, o grupo oferece Oficina de Percussão para Mulheres com deficiência auditiva, visual, física e intelectual. Este é só mais um exemplo, como ela diz, entre tantos outros que existem e que começaram a surgir a partir das possibilidades que foram se apresentando.

Como também destaca Ana Paula, historicamente, Juiz de Fora tem grandes artistas e um dos nomes que mais militou pela causa foi o cineasta, roteirista, produtor audiovisual, montador e diretor de fotografia Franco Groia. “Ele deixou um importante legado que mantemos em discussão oportunizada, inclusive pelo Fórum de Acessibilidade, realizado este ano, que levou o nome do grande artista e nos apresentou várias provocações sobre a continuidade das ações que possibilitem a inclusão”, diz.

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