O cantor e compositor Helgi, 32 anos, reivindica a vertente crítica do reggae para lançar, nesta sexta-feira (10), nas plataformas digitais, o single “Flores para enfeitar”. A canção marca a estreia da carreira solo de Helgi. O artista, natural de Visconde do Rio Branco, mas radicado em Juiz de Fora desde 2011, foi vocalista da Mallibu – hoje Mauna – entre 2016 e 2019, após dez anos no baixo e nos vocais da Balaio. “Além de um marco temporal na minha carreira, é uma marca pessoal justamente por ser a primeira música lançada solo”, admite Helgi à Tribuna. Assinada pelo próprio intérprete, “Flores para enfeitar” foi arranjada e produzida por Henrique Villela.
A música é uma crítica à desigualdade de classes, assim como um chamado à reflexão como instrumento de revolução, explica Helgi. “Começo com os seguintes versos: ‘O pensamento e a sua voz:/Responsáveis pela solução/Não deixe de pensar!’ para provocar as pessoas a pesquisar e pensar, por exemplo, antes de repassar uma notícia para a frente. Muitas vezes, estamos lendo e ouvindo no automático. Estamos ali apenas de corpo. Não deixem de pensar nas coisas à sua volta e nas situações a que somos submetidos.”
O trecho seguinte, complementa, faz referência à afirmação do ministro da Economia, Paulo Guedes, ainda em fevereiro de 2020, quando disse que “dólar alto é bom pra todo mundo”, já que “empregada doméstica estava indo para Disney”. “‘Se Baixada vira Zona Sul é Bagdá/Distrair está na novela/À margem sempre vai faltar!’, ou seja, se o pobre tem mais condições financeiras de ter um conforto, de viajar, de conhecer outros lugares, é guerra. O rico não quer que a ascensão de classes aconteça.” A estreia com uma crítica social, como ele mesmo pontua, “mostra e filtra” quem Helgi quer por perto. “Sempre tive essa veia (crítica) na composição.”
Conforme Helgi, a composição de “Flores para enfeitar” foi influenciada pelo último álbum do grupo britânico de reggae Steel Pulse. “O disco ‘Mass manipulation’ (2019) é extremamente fantástico. Tanto em sonoridade quanto em letra. Quando o ouvi, falei comigo mesmo: ‘Caramba, é isso que quero fazer também’. Quero levar a música dançante. Quero levar o ritmo pulsante do bumbo, do baixo e da batera com uma letra pesada por cima.” A proposta de uma letra crítica somada à sonoridade reggae casaram bem em razão da tradição do próprio gênero, acrescenta.
Sem rótulos
Embora “Flores para enfeitar” tenha a sonoridade reggae, Helgi não pretende se filiar a apenas um gênero musical. “Quero deixar isso muito natural, misturar várias influências da minha vida”, pondera. Na Balaio, por exemplo, acostumou-se a fazer covers do “lado B” do repertório de cantores e bandas consagrados, como Tim Maia, Paralamas do Sucesso, Rappa e Skank. Já na Mallibu, por outro lado, cantava pop. Mas Helgi ainda terá que administrar o gosto pelo rock, que foi criado ouvindo. “Comecei a ouvir Raul Seixas moleque. Pode ser uma furada em que eu esteja me metendo ou um tiro muito certo (risos)”, brinca.