Salcio Del Duca sai de sua casa, na Rua Braz Xavier Bastos Júnior, no Bairro Borboleta, em direção ao restaurante Taberna Alemã com suas pastas grandes e cheias, que quase não fecham. Nelas, há uma série de documentos oficiais, registros e fotos que contam parte de sua história. Ou melhor: grande parte da história da instalação dos alemães em terras juiz-foranas. “Isso é um hobby, mas é também o que fica. É o que eu fui aprendendo e ouvindo desde novo, pesquisando. Eu fico até arrepiado só de contar”, diz o presidente da Associação Alemã de Juiz de Fora. Enquanto ele mostra os documentos, da cozinha do restaurante vem um cheiro: eles estão começando a preparar as comidas do Danke, primeiro festival cultural e gastronômico do bairro, que acontece neste domingo (10), das 9h às 17h.
Os documentos que Salcio tira da pasta mostram os cartazes e guardanapos da primeira Festa Alemã, que aconteceu em 1969. O bairro, naquela época, se chamava São Vicente. Ele explica que “um prefeito da época” tinha decidido trocar os nomes dos bairros por nomes religiosos. Depois, os moradores conseguiram reverter a nomeação e voltou a ser Borboleta. Fato é que a tradição resistiu ao tempo e à transformação da comunidade. No entanto, a festa tradicional, que acontecia todos os anos no mês de setembro, também sofreu com a pandemia e precisou ficar dois anos parada. “O Danke foi a forma que a gente encontrou de devolver aos moradores o clima de celebração das raízes”, explica o presidente. A proposta é fazer esse festival mensalmente, “para fazer a engrenagem voltar a girar”, até setembro, quando a Festa Alemã acontece, entre os dias 6 e 18.
Passeio pela cultura alemã
O festival vai ser como um passeio de um dia pela cultura alemã que o Borboleta respira. O evento vai contar com o ensaio aberto a caráter do Grupo de Danças Folclóricas Germânicas Schmetterling e apresentação do pianista Thiago Ouchi e do duo Ein Prosit. A organização preparou uma visita guiada pela Casa de Contos e pela Casa do Colono Alemão, que guardam parte do acervo cultural dos antepassados. Expositores também realizarão uma feira de artesanato dos mais diversos. Para as crianças, além de um parquinho, acontecerá oficina de pintura em ovos, tradicional na páscoa alemã. A Taberna servirá o almoço com pratos típicos. O pão alemão, patrimônio imaterial de Juiz de Fora, também será comercializado no dia. Outros produtos, como os embutidos, alguns difíceis de serem achados na região, também serão comercializados. Além disso, durante o Danke, acontecerá o Encontro de Automóveis Antigos, em parceria com o Vintage Club, com carros alemães popularizados no Brasil.
Impacto econômico
Salcio explica que toda a produção é dos moradores do Borboleta. Esse tipo de evento, segundo ele, além de preservar e reafirmar a cultura alemã, ainda contribui com a economia do bairro, que acabou sendo impactada pela falta da Festa Alemã, que gera cerca de 250 empregos durante o período de produção. Para fomentar o consumo durante todo o ano, a proposta é que, em maio, saia um guia produzido pela associação com os pontos onde encontrar os produtos típicos pela cidade. “A comunidade se esforça para preservar o que tem, resgatar hábitos e até transformar mesmo o Borboleta”, diz Salcio, que acredita também que os eventos têm potencial de colocar Juiz de Fora no mapa do Sudeste como uma das principais comunidades alemãs.