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Botando o dedo na ferida do público

Felipe Couri
Atores da ‘Fazendo Arte’ levam para a cena a conturbada relação ator/espectador
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Está para surgir alguém que nunca tenha se irritado com ruídos de papéis de bala, sacos de batatas fritas, celulares, bocejos, tosses e pigarros que surgem da plateia. Não existe ator indiferente a esses irritantes sons. Um intérprete vive Macbeth, de Shakespeare, quando é interrompido pelo público. Impulsivamente, paralisa a apresentação, expulsa os presentes, deixando os espectadores indignados, e vai para o camarim – local em que se desenrola toda a história. Com direção de Cristiano Fernandes, “Sete minutos”, de Antonio Fagundes, será reapresentado pela Cia.Teatral Fazendo Arte, aqui da cidade, nos dias 11, 12, 18 e 19 de outubro, às 20h, no Centro Cultural Bernardo Mascarenhas. Já conhecido dos juiz-foranos, o espetáculo retorna com novo elenco e apoio da Lei Murilo Mendes de Incentivo à Cultura.

“Somos um País desacostumado ao ato de pensar. Nossa formação cultural está reduzida àquela dúzia de filmes americanos traduzido em ação, ação…Nosso padrão de televisão, rápido, esperto, ágil, dinâmico, prende a nossa atenção por, no máximo, sete minutos. O tempo aproximado de cada segmento antes do intervalo comercial. Nada mais nos exige maior reflexão”, desabafa o protagonista criado por Fagundes, em 2002, justificando o título da peça. Concebida com o objetivo de reclamar dos “pecados” cometidos pela plateia, a produção bota o dedo na ferida daquele espectador que não enxerga o teatro enquanto arte, mas somente como entretenimento.

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“O próprio Fagundes diz que o personagem é uma pessoa muito solitária e obsessiva com relação a tudo que envolve o teatro. Ele critica vários comportamentos e se critica também. Esse é o grande lance da peça. Cada um vê o seu lado. O interessante é que são fatos reais. Tudo o que é encenado aconteceu com ele realmente, menos a parte em que ele põe a plateia para fora”, comenta Fernandes, destacando que a peça volta com fôlego para seguir estrada. “Percebo que falta a alguns grupos de Juiz de Fora acreditar no potencial de uma montagem e continuar com ela, quando o espetáculo tem muita coisa a amadurecer ainda.”

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O processo de produção dessa temporada começou em março. O texto é exatamente o mesmo, assim como o cenário, que tem assinatura do artista plástico Yure Mendes. Contudo, o diretor garante que o espectador encontrará novidades. “Tem uma proposta que é a cara desse elenco. Em muitos momentos, as pessoas vão ver coisas muito diferentes, no que diz respeito a composição de personagens, por exemplo. São mudanças que fomos descobrindo ao longo do processo.”

Fernandes acredita que, para além da difícil relação ator/espectador, “Sete minutos” pode ser lido em um contexto professor/aluno. “É outra possibilidade que o texto apresenta. Como sou professor, penso nesse desencontro que causa vários tipos de violência, conforme noticiado pela mídia todos os dias. Por isso desenvolveremos o projeto ‘Teatro escola’. Fechamos os contatos com as instituições e faremos apresentações nos dias 16 e 17 para os estudantes.” As escolas interessadas podem entrar em contato por meio do e-mail ciateatralfazendoarte@hotmail.com. Além de Cristiano, estarão em cena Mauro Meurer (ator jovem), Isabela Carletti (empresária), Tatiana Almeida (tenente), Hellen Rodrigues (evangélica) e Mário Galvani (senhor).

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SETE MINUTOS
Dias 11, 12, 18 e 19 de outubro, às 20h

CCBM
(Av. Getúlio Vargas 200)

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