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Juliana Stanzani lança ‘O avesso do não’

Ju Stanzani Foto Isabella Campos
Ju Stanzani2 Foto Isabella Campos
Novo trabalho de Juliana Stanzani terá nove faixas autorais  (Foto: Isabella Campos)
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Pela possibilidade do sim, através das aberturas de portas que uma simples palavra movimento, Juliana Stanzani ouviu as palavras do também músico Dudu Costa, quando ele escreveu para ela: “Juliana, deixa essa canção sair” – verso eternizado em “Olho d’água”. A canção, uma parceria dos dois com Daniel Lovisi, já foi gravada algumas vezes, ganhou até versão instrumental do Duo Nascente (formado por Bia Nascimento e João Cordeiro). Mas, agora, finalmente, é uma das faixas que compõe o primeiro disco da cantora e compositora de Leopoldina, radicada em Juiz de Fora desde 2007. “O avesso do não” é o nome do álbum todo dela, lançado nesta sexta-feira (11), nas plataformas digitais. São quase 20 anos de carreira. E, então, Juliana diz sim ao lançar-se inteira, através de nove faixas autorais.

Entregue ao coletivo, Juliana já gravou diversos discos ao longo de sua carreira. Integrante da banda Matilda, lançou, com Amanda Martins, Fabrícia Valle e Bia Nascimento, “Patuá”. Já com Roger Resende, em 2020, o “Nossa toada”, com as canções compostas pelos dois. Além desses álbuns, mais um tanto de participações em outros de músicos principalmente da cidade. Mas tudo o que tinha aprendido até então, sobre o que é entrar em um estúdio, gravar, lançar um trabalho, foi posto em xeque quando se viu laçando um que é seu. Isso porque, mesmo contando com a ajuda de tantos amigos no processo, é sempre dela a última palavra, a escolha do que entra ou não. É sua voz ali, toda.

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A vontade oficial de lançar um trabalho veio em 2020, quando ela conseguiu recursos da Lei Aldir Blanc. A partir daí, deu início todo trabalho. O primeiro deles foi o de encontrar Rodrigo Campello, que assina a produção de “Avesso do não”. O mais doloroso, talvez, para ela, nesse caminho, foi escolher quais canções entraria nesse disco. “Por que como que escolhe?”, diz ela, lembrando de quando se viu diante as tantas músicas escritas, principalmente em parceira, nesse tempo. “Eu peguei as que não podiam ficar de fora e fui encaixando, procurando alguma lógica. Música do começo, por exemplo, tinha que ter. Por mais que não sejam músicas que eu considero tecnicamente, literariamente, mais elaboradas ou mais feitas, (vendo agora) já agora mais maduras, eu acho importante que elas estejam presentes.”

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Tem música, por exemplo, que foi composta há 15 anos. A mais recente é de 2020. É, por essa escolha, um retrato de Juliana não só nesse momento, mas em toda sua carreira, verdadeiramente. “Eu queria que esse disco fosse uma justiça a mim mesma, nesses anos todos, tentando não deixar cada momento importante para mim de fora, por mais que muitos fiquem. Eu quis trazer isso para o meu primeiro disco.” Isso fica claro, ainda, nas parcerias que assinam as canções com ela. Só uma foi escrita por Juliana sozinha. Tem Dudu Costa, Laura Jannuzzi, Cacáudio, Renato Da Lapa, Lucas Soares, entre outros. “É um percurso mesmo. As músicas trazem essa história mesmo nas autorias. E tem o retrato das pessoas que passaram pela minha vida e marcaram, fizeram parte dessa construção”, afirma. Isso mostra, ainda, a participação dela ativa na cena musical de Juiz de Fora, sobretudo a partir do movimento do Encontro de Compositores, de onde ela afirma que vem grande parte dessas músicas. “É um resumo da minha visão e da minha participação dentro dessa música de Juiz de Fora.”

Depois das músicas escolhidas, Rodrigo escreveu os arranjos e, em 2021, eles entraram em estúdio. “Foi tudo feito aos poucos, também por causa da pandemia.” Mas muito pelo prazer de acompanhar todo esse processo de ver um trabalho nascendo. “Eu me dei ao luxo de arrastar por esse tempo para que ficasse do jeito que eu queria que ficasse. É um retrato de tudo o que aconteceu nesses anos de carreira. E isso torna tudo diferente. Dá medo. É um processo mais íntimo, mais doído, mais desconfortável. É uma escolha toda minha. Foi um processo também compartilhado, mas eu quis também fazer sozinha. Por uma escolha. Eu quis tentar aprender e fazer uma escolhas que eu não sabia. Não sei se acertei ou não. Mas foi.” Foi, principalmente, importante para que Juliana se visse no meio de tudo isso: o que ela é e o que ela construiu nesse tempo – agora, eternizado.

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“Essa sou eu”

Outra preocupação, para ela, foi que os arranjos das músicas também a mostrassem, de verdade. Nos outros projetos e nos palcos, Juliana se inclina mais à MPB e ao samba. Mas não nega que é eclética. Ouve valsa, bolero, bossa nova, e também funk e pagode. “Essa sou eu.” E era essa que ela queria mostrar em “O avesso do não”, mesmo não, necessariamente, tocando funk ou pagode entre as faixas. “Eu queria um disco que não fosse um disco de mulher madura. Eu queria uma abordagem muito mais moderna. Que não chegasse a ser uma forçação de barra, mas que não fosse uma coisa muito fechadinha no tradicional demais. E eu acho que a gente conseguiu delicadamente fazer isso”, acredita. E ele promove, mesmo, um passeio pelos ritmos, como deve ser.

Já o nome foi uma das últimas coisas escolhidas. Primeiro, ia chamar avesso. “Porque todas, ou quase todas as canções, falam ou se reportam a alguém, falam com alguém. Tem pouquíssimas em primeira pessoa. Por mais que falem muito de mim, das coisas que eu sinto, elas reportam o que está do outro lado.” Mas Juliana achou, então, um termo aberto. “Foi quando eu passei a pensar em tudo isso: essa chance que eu estou dando para mim, de me ver nesse retrato desse repertório, e o que isso significa. É a necessidade de dizer sim, mesmo falando não as vezes. É um não que significa uma afirmativa a outras coisas. É um disco que tem uma escolha por ser feito: escolha pela chance de colocá-lo no mundo, de dizer sim a essas músicas.” Foi o sim o responsável pelo seu nascimento – o avesso mesmo do não.

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Antes de terminar a entrevista por telefone, Juliana lembra de um episódio que sintetiza o movimento, que foi de força. “Valsa para vó” foi a última música do disco que ela fez. Foi feita dias antes de sua avó cair. “Um movimento que foi intuitivo. Eu escrevi e ela tomou um tombo. A música toda, para mim, que sou pé no chão, é um tapa na cara. Quase uma despedida. Minha avó até hoje não se recuperou bem desse tombo.” Ela foi gravada ao vivo, com o pianista Leandro Braga. “Foi muito emocionante gravar. Foi de primeira.” Mas como conseguiu? “Eu estudei muito para dar certo. Cantei umas cinco horas seguidas. Foi um movimento de muita força.”

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