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Inácio Botto lança livro sobre o turismo de Juiz de Fora entre 1900 e 1930

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Inácio Botto é graduado pela UFJF e, na UFF, durante o mestrado, estudou sobre o turismo de Juiz de Fora, a partir da dissertação que deu origem ao seu livro (Foto: Divulgação)
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Um processo que se inicia com o intuito de entender, sobretudo, o espaço que se pisa: o que veio antes e possibilitou o agora, o intercâmbio, a magnitude de um espaço. Inácio Botto, que vive ainda como um turista na cidade que o acolhe há quase dez anos, lança, nesta terça-feira (9), o livro “História e Turismo: Um olhar sobre a cidade de Juiz de Fora-MG (1900-1930)”, fruto de seu mestrado na Universidade Federal Fluminense (UFF). O lançamento acontece a partir das 19h, no Espaço Manufato (Rua Fonseca Hermes 36/301, Centro).

Trata-se de um livro, como conta Inácio, que traz uma temática ainda inédita de uma perspectiva de Juiz de Fora: o turismo que por aqui existia no começo do século passado. Natural de Bicas, a quase 40 km de Juiz de Fora, ele se mudou para a cidade para fazer Turismo na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Sempre interessado pela história e os personagens dos lugares, encontrou na História do Turismo uma forma de unir as principais curiosidades que rondam as percepções de um turista em uma cidade de pequeno porte com um passado que ainda hoje é desvelado.

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Foi esse desejo que o levou a fazer mestrado na UFF já com essa proposta: mergulhar na vida juiz-forana daquelas décadas e pontuar o que trazia as pessoas de outros lugares e, também, o que levava os moradores a outros espaços. Quem o orientou nesses anos foi Valéria Lima Guimarães, um dos principais nomes da História do Turismo do Brasil e que, inclusive, assina o prefácio. “Eu sempre fui apaixonado por história. Eu sou de outra cidade e, quando eu cheguei aqui para estudar, escutava que Juiz de Fora não tinha nada para fazer. E eu sempre falava que tinha. Sempre fui divulgador da cidade para as outras pessoas. Na faculdade, eu fui descobrindo mais um pouco da área da História do Turismo de fato. E, no mestrado, eu quis fazer o aprofundamento porque eu sempre me encantei com a história da cidade, dos seus personagens. E vi que era o momento disso.”

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Turismo nas páginas

A partir da proposta apresentada, o primeiro a se fazer foi, então, buscar as fontes históricas que poderiam trazer esse retrato de Juiz de Fora entre os anos 1900 e 1930. Um dos principais meios encontrados que trazia esse recorte foi o jornal O Pharol, que circulava na cidade na época. Para ter acesso a ele e outros documentos da época, Inácio fez pesquisas nos arquivos históricos em Juiz de Fora e no Rio de Janeiro, onde descobriu ter mais materiais que na própria cidade. “Foram mais de mil páginas lidas d’O Pharol”, conta.

Esse processo, como ainda afirma, foi desafiador na medida em que o Brasil ainda carece de metodologias facilitadas para ter acesso aos documentos históricos. “O país não tem esse costume da preservação dos documentos. E, o que tem, está muito defasado em vista de outros países. A gente não tem ainda um centro só de referência a estudos da área do turismo e da memória em geral”, lamenta. O que não impediu, no entanto, que pérolas fossem encontradas nesse processo.

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“A partir desses relatos, a gente foi construindo a pesquisa e fazendo um levantamento sobre as principais práticas.” Inácio encontrou as datas e as informações da primeira agência de viagens de Juiz de Fora, além de dados do moto clube da cidade, fundado em 1918 – isso nos jornais, mas também, em relatos de viagens que foram preciosos para o desenrolar da pesquisa. “Esses relatos são coisas comuns para a época. A gente acha que o fazer turismo hoje, viajar, tem essa questão de relatar, compartilhar fotos, falar nossas experiências. Mas naquela época, isso já acontecia.”

Atrativos daquele tempo

Um dos pontos mais citados é o Morro do Imperador, que Inácio acredita ser um dos primeiros atrativos turísticos de Juiz de Fora que, inclusive, anos antes desse recorte de sua dissertação, recebeu Dom Pedro II. Ele cita um dos relatos encontrados: “Tem um de um grupo que vai fazer a trilha do Morro do Imperador. E, durante ela, eles narram o que se pode entender como um olhar preconceituoso para/com os moradores do entorno. A gente já tem um pouco desse preconceito em relação aos moradores, essas diferenças de espaço social. Eu também trago essas curiosidades para a gente enxergar que coisas que acontecem hoje também aconteciam no passado. Lógico que com diferença. Mas é um produto que vem de anos de anos”.

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Inácio ainda cita outros atrativos comuns na cidade: “Os esportes, naquela época, estavam muito ligados aos circuitos turísticos. Torcedores do Rio de Janeiro, do interior de São Paulo, de Minas Gerais, vinham acompanhar os times e assistir às partidas. Isso também acontecia com os times da cidade, o que movimentava essa cadeia do turismo.” Ele ainda conta que se preparava roteiros para os hóspedes e para os jogadores que chegam à cidade com uma programação que ia além dos jogos, e incluía visita, claro, ao Morro do Imperador, ao Museu Mariano Procópio, às cervejarias artesanais que já eram importantes na época. Ou seja: costumes que seguem sendo atrativos à Juiz de Fora.

O que também era muito comum entre os anos 1900 e 1930 eram as excursões, principalmente organizadas pelas igrejas, que formavam um circuito com diversas cidades. “Outro achado foram as excursões operárias. Os operários das fábricas iam para outras cidades e os de outras cidades vinham para cá. Além de debater questões acerca do trabalho, do dia a dia, dos direitos, eles também tinham esse momento de diversão, de conhecer os pontos pitorescos, que a gente conhece como atrativo turístico”, narra.

Outra coisa que chama atenção é a estrutura que tinha em Juiz de Fora já naquela época. “Os hotéis, por exemplo, já tinham salão de jogos e piscina, coisa que só existia em grandes cidades, como o Rio de Janeiro. Entre outras coisas, isso mostra como os costumes do Rio de Janeiro eram seguidos aqui. Juiz de Fora bebia dessa fonte e reproduzia certos ritos sociais da capital da época.” A partir do turismo, é possível entender os caminhos que Juiz de Fora percorreu e segue, ainda hoje.

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A pesquisa continua

Mas desenrolar esse novelo da História do Turismo é coisa infinita. “História e Turismo: Um olhar sobre a cidade de Juiz de Fora-MG (1900-1930)” é apenas um ponto. Mas Inácio confessa que ainda tem muito a estudar e revelar. “A ideia do livro, além de sair dos muros da universidade, é trazer para o leitor essas historias, as curiosidades que a gente nem imagina que existe. E tem muita coisa ainda. A própria questão das cervejarias artesanais, que é um ponto que eu quero trabalhar em outro livro. Eu quero continuar com as minhas pesquisas e os estudos e sempre ir divulgando”, finaliza.

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