Ícone do site Tribuna de Minas

Viagem à era de ouro do rádio

Um gramofone antigo é o centro em torno do qual a exposição orbita (foto: Fernando Priamo)
PUBLICIDADE

Juiz de Fora era, lá no seu começo, uma simples parte de uma estrada chamada “Caminho Novo”. Era ela que ligava a região de extração do ouro nas Minas Gerais ao porto do Rio de Janeiro. O que veio a ser uma cidade, era, então, uma passagem: ponto de encontro. Isso foi importante não só para o desenvolvimento, conquistado, sobretudo, pela proximidade com a cidade do Rio de Janeiro. Surge, por causa desse encontro entre pessoas que iam e vinham, uma outra vocação que molda até hoje a história da cidade: a contação de histórias. “Juiz de Fora tem, em sua natureza, o hábito de ouvir e contar histórias. Imagina: as pessoas pernoitavam aqui e não existia nada além das conversas. O que se ouvia era a pobreza de um lado e a riqueza do outro”, diz Flávio Lins, diretor do Forum da Cultura. É esse hábito que ele associa ao fato de, em determinadas épocas, ter existido um denso movimento da imprensa, tanto nos impressos quanto na televisão e no rádio. É desse último meio de comunicação, um dos mais populares, que a exposição “Caros ouvintes: assim era o rádio em Juiz de Fora”, que será aberta nesta segunda-feira (10) no Forum da Cultura, conta a história, em comemoração aos 100 anos da primeira transmissão radiofônica oficial no Brasil, com foco no que aconteceu na cidade desde o seu início.

Diz-se primeira transmissão oficial porque, assim como outras tecnologias, foram muitos os erros e acertos até que o rádio se transformasse no que ele é hoje – com tantas alterações desde então. No dia 7 de setembro de 1922, no Rio de Janeiro, Epitácio Pessoa, presidente da República, fazia seu primeiro discurso pelo rádio, sendo esse o marco da primeira transmissão oficial brasileira. Entre os tantos que acompanharam o feito estava o juiz-forano José Cardoso Sobrinho que, em 1º de janeiro de 1926, inaugurou a primeira rádio de Juiz de Fora, a PRA-J, em sua própria residência na Rua Tiradentes.

PUBLICIDADE

Em 1926, a PRA-J se tornou PRB-3 – que posteriormente seria adquirida pelo empresário Juracy Neves e transformada em Rádio Solar -, até então sem concorrente. Só em 1948 é que surgiu a Rádio Industrial. Como tinha contrato com a Rádio Nacional, nesse momento começaram a aparecer por Juiz de Fora artistas de renome nacional e, junto com isso, uma disputa entre as emissoras para angariar mais público e conquistar os juiz-foranos. Na década de 40, a Difusora surgiu, acirrando ainda mais os ânimos e dando início à era dourada do rádio na cidade.

PUBLICIDADE
Alguns dos registros históricos da época de ouro do rádio em Juiz de Fora (foto: Fernando Priamo)

História do rádio em fotografia

Dito assim, parece que todos os trâmites foram fáceis. Mas não. Muitas coisas aconteceram. Desde eventos históricos a radionovelas e espetáculos que lotavam ginásios e teatros. Acredita-se que, naquela época, o carro de reportagem das emissoras rodava 24 horas por dia atrás de notícias. Os repórteres puderam acompanhar, por exemplo, a saída das tropas militares de Juiz de Fora em 1964 para dar início à ditadura militar no Brasil. E tudo isso foi registrado.

Subindo ao segundo pavimento do Forum da Cultura, somos encaminhados a uma máquina do tempo, que a própria casa centenária auxilia a penetrar. Bem ao centro da exposição “Caros ouvintes: assim era o rádio em Juiz de Fora”, um grande gramofone e dois rádios da época ajudam a entender a dimensão dos equipamentos. Abertos, vê-se que tudo é mais complexo do que se imagina. Mas, de início, em ordem cronológica, uma série de fotos, cedidas sobretudo por personagens que fizeram parte da história, além de seus familiares – como Wilson Cid, José Carlos de Lery Guimarães e Helena Bittencourt, entre outros – nos encaminha àquela realidade.

PUBLICIDADE
Gramafone utilizado na época (foto: Fernando Priamo)

Outras experiências da mostra

As fotos, como um recorte, são apenas o começo para contextualizar a visita guiada e as tantas histórias que são contadas a partir daí. Ao fundo, um documentário sobre a história do rádio em Juiz de Fora, de Cristina Brandão, acompanha o percurso, com depoimentos de pessoas que viveram a época de ouro do rádio e ainda podem contar sobre o momento. Por sorte, o que se vê pode ser o mesmo que se ouve saindo da tela, já que os dois focam nos mesmos assuntos e momentos e partem da mesma história. Com cadeiras direcionadas à televisão, é possível, também, sentar-se para assistir e acompanhar por inteiro o filme.

Documentário sobre a história do rádio é exibido durante a visitação (foto: Fernando Priamo)

“Caros ouvintes: assim era o rádio em Juiz de Fora” é uma experiência multimídia. Além das fotos e do documentário, será possível ver algumas edições da “Revista do rádio” de Juiz de Fora. Elas estão emolduradas na parede, mas, com o celular apontado para o QR Code ao lado, é possível passear pelas folhas e ver o que era notícia na época, quais eram as celebridades e o funcionamento do rádio em si, principalmente em 1954, 1955 e 1965. A experiência completa permite aprofundar na história daquilo que, ainda hoje, é responsável por levar informação e entreter o público.

PUBLICIDADE

O Forum da Cultura, desde o começo da pandemia, tem realizado um trabalho em conjunto nas redes sociais, apresentando as mostras através do Instagram. Mesmo com a abertura do espaço, esse trabalho não vai parar. Durante a exposição “Caros ouvintes: assim era o rádio em Juiz de Fora”, que acontece de 10 de janeiro até o dia 25 de fevereiro, todas as quartas e sexta-feiras, fotos dessa época serão postadas acompanhadas de textos que narram os acontecimentos. Além dos registros, as revistas de rádio, alguns roteiros dos programas e gravações serão apresentados aos internautas. Esse projeto também se estenderá até o dia 25 de fevereiro.

Para conferir a exposição é necessário fazer agendamento pelo e-mail forumdaculturaufjf@gmail.com ou pelo telefone 3261-3850. A apresentação do cartão de vacina em dia e o uso de máscara são obrigatórios. O Forum da Cultura funciona de segunda a sexta-feira, das 10h às 18h.

Sair da versão mobile