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Mulheres no Volante comemora 10 anos de resistência artística feminina

Cult Mulheres no Volante Divulgação 1

Foto: Divulgação

Cult Mulheres no Volante Divulgação 11
Imagem utilizada no cartaz do evento, que oferece oficinas de ginecologia autônoma, bateria, dança e gastronomia consciente (Foto: Divulgação)
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2017 talvez tenha sido o ano das mulheres musicistas no Brasil. O selo PWR Records, criado pelas meninas de Recife, Hannah Carvalho e Letícia Tomás, movimentou bandas de garotas com turnês por todos os estados brasileiros, trabalhando com divulgação, distribuição e banquinhas de merchandising. Já a SÊLA é uma agência de consultoria para cantoras. É especializado na criação de conteúdo, produção e assessoria em comunicação, garantindo todo o background para a carreira musical destas mulheres. Outra página que fortaleceu o movimento de mulheres na música é a “We are not with the band”, possivelmente uma conversa com o título da biografia da Kim Gordon (ex-Sonic Youth), “A girl in a band”. A idealização é da Filipa Aurélio, garota portuguesa que vive em São Paulo e é a melhor fotógrafa de shows que nós respeitamos. Além desses projetos, há ainda o primeiro prêmio de mulher na música “Women’s music event”, que aconteceu no dia 28 de novembro no Brasil, destacando não apenas cantoras, compositoras e instrumentistas, mas também DJs, jornalistas e produtoras musicais, radialistas, diretoras de videoclipe e empreendedoras musicais.

Nem é preciso eu começar a enumerar a quantidade de discos lançados por mulheres brasileiras, pelo menos nos últimos dois anos. Em alguns projetos, são elas mesmas que compõem, gravam todos os instrumentos e se autoproduzem. Letrux, PAPISA, Luiza Lian, Sara Não Tem Nome, Luiza Brina, Charlotte Matou um Cara, My Magical Glowing Lens, Carne Doce, Katze, Cinnamon Tapes, Mahmundi, Bárbara Eugênia, Karina Buhr, Ana Cañas, LuvBugs, Ventre, Cosmos Amantes, fica aí certamente uma pequeníssima parcela de tudo o que tem rolado – sem mencionar o espetáculo Xanaxou, uma mistura de feminismo, teatro, música e misticismo reunindo mais de dez musicistas brasileiras, mesclando suas pesquisas, que representam a pluralidade das mulheres. Nesta semana também está acontecendo a SIM: “Semana Internacional de Música de São Paulo”, e pelo menos metade dos shows é de mulheres musicistas.

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10 anos do MnV

As garotas da banda Hangover resgatam o rock clássico, o metal e o hardcore, às 20h30 (Foto: Divulgação)

Diante deste cenário, Bruna Provazi e Tainá Novellino, realizadoras do primeiro e único festival de mulheres feministas em Juiz de Fora, decidiram que não terminariam o ano sem a comemoração de dez anos da primeira edição do Mulheres no Volante. Em 2007, após frequentar festivais nacionais como o Lady Fest, em São Paulo, e o Punk Feminino, em Goiania, Bruna volta a Juiz de Fora com a vontade de fazer o mesmo por aqui. Na época, tinha sua primeira banda como guitarrista – Big Hole, que inclusive se reuniu novamente para se apresentar na edição revival deste ano. Em cinco edições, nos anos 2007, 2008, 2009, 2011 e 2012, a dupla teve apoio do CCBM e, em uma das edições, do Estação Cultural. Conseguiu trazer para cá, com pouco apoio, prezando pelo independente, bandas de São Paulo como Dominatrix e As Mercenárias (precursoras do movimento Riot Grrrl brasileiro), além de bandas do Rio, Goiânia, Sorocaba e, claro, Juiz de Fora. Em uma das edições, trouxeram a musicista Ellen Oléria, de Brasília, por meio de uma campanha de financiamento coletivo. De 2011 a 2013, conseguiu levar o festival para outros lugares do Brasil, realizando três edições em Brasília (DF) e uma em Campinas (SP).

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Uma das intenções sempre foi a de colocar as garotas no palco. Mesmo que a banda nunca tenha se apresentado ou estiver apenas começando, o Mnv é incentivo para começar a ensaiar e, quem sabe, compor. Neste ano, por exemplo, com uma programação musical majoritariamente de Juiz de Fora, Dona Flor é atração do Mnv Convida, um trio de pop e MPB que acabou de nascer. “Os homens sempre fizeram isso, chamam os ‘brothers’ para ajudar em um trabalho, mesmo sem experiência, e eles começam aí algum portfólio. Então as mulheres precisam se lembrar de fazer isso em suas produções, bandas, filmes: formar equipes com outras mulheres”, defende Bruna.

A programação deste ano nasceu tímida, até que uma rede de criadoras e produtoras da cidade foi entrando em contato querendo participar, expor e oferecer oficinas – todas ministradas por mulheres e com vagas destinadas a garotas. Bruna, que mora há dez anos em São Paulo, voltou para cá e encontrou uma outra realidade, que acompanha, naturalmente, o movimento feminista em todo o mundo. “Eu fiquei surpresa com a quantidade de mulheres em Juiz de Fora organizadas em coletivos e ainda com a quantidade de artistas querendo expor, dar oficina e também envolvidas com cinema.”

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Mulher artista

Característica do Mulheres no Volante desde a primeira edição é mesclar a programação musical com outras manifestações artísticas da mulher, é por isso que se consideram um “festival multi-artístico feminista”. “Inicialmente, o incômodo era a música, mas como eu sou das artes visuais, da pintura e fotografia, fui trazendo essa ideia para as edições. A própria rede do festival foi trazendo outras mulheres criadoras, artistas”, comenta Tainá. Uma recente nova atração incluída no evento é a exposição de fotografias do SomaMulheres, uma apresentação do novo coletivo de mulheres da imagem em Juiz de Fora.

Para esta edição, algumas das oficina são de dança reflexiva e consciência corporal, com Lailah Garbero, e ginecologia autônoma, com Nina Pinheiro. Também terão exposições das ilustradoras Maria Nicoline Hallack e Carmina Usher, estande de camisetas “Transfigurart” da Lilian Carvalho, banquinha de zines, brechó, flash de piercing e tatuagem. O CINE MnV vem para concretizar o sucesso das mulheres no Festival Primeiro Plano. “Filé”, de Natália Reis, que levou o prêmio incentivo 2017, e “Ainda é cedo”, da diretora Ana Cláudia Ferreira, premiada no último ano, serão exibidos durante o festival. “O cinema está bem forte, não tinham tantas mulheres no cinema em determinadas funções, como a direção. O Festival Primeiro Plano trouxe isso, e acredito que o IAD esteja fazendo com que mais mulheres entrem para o cinema”, reflete Tainá.

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O que mudou de 2007 para 2017

Banda Big Hole, com a produtora do festival, Bruna Provazi, se reúne para apresentação única em comemoração ao dez anos do evento (Foto: Divulgação)

Um debate dentro da programação do evento sobre as mulheres na cultura em Juiz de Fora tem a intenção de fazer essa reflexão. Inclusive eu vou participar desta mesa, junto a musicistas e produtoras. “Em 2007, quando eu e Tainá chegamos com a ideia de um festival feminista em Juiz de Fora, era muito difícil. Questionavam: ‘mas pra que isso? Vocês são contra os homens?’. Hoje o assunto está ainda mais em alta e facilitou muito”, conta Bruna. A intenção é que o MnV seja um ponto de encontro de mulheres, para que troquem ideias, surjam novas parcerias e ações colaborativas. “Fazia cinco anos que a gente não produzia nada em Juiz de Fora. E, que ótimo, com tantas iniciativas rolando, vai ser interessante colocar uma em contato com a outra, um encontro das mulheres que estão ativas na cena.”

Sobre a programação musical, sentiram falta de bandas de rock femininas autorais na cidade, de 2007 para 2017 parece que bem pouco mudou nesse sentido. ‘Onde estão as mulheres bateristas e baixistas, por exemplo?”, Bruna indaga. Juiz de Fora é rica em compositoras de MPB e agora o rap vem sobressaindo, mas bandas autorais de rock, punk, hard rock – com pelo menos alguma integrante mulher – é raro por aqui. A programação musical, além da banda Dona Flor, convidou Tata Chama & as Inflamáveis, com influências de MPB e que deve mostrar algumas novas composições do quarteto, que convidou a cantora Luisa Moreira para a apresentação. Terá também a banda Hangover, tocando cover de rock clássico, hard rock e heavy metal. Além da reunião da banda punk Big Hole, convidaram a Rafa Jazz (SP) para fazer beats ao vivo, e o grupo Rap das Mina, com as MCs Thainá Kriya, Laura Conceição e Tata Dellon.

“Esse retorno de dez anos está acontecendo com a menor edição de todas. Mas estamos conhecendo outras mulheres, e queremos fazer em 2018 um festival com mais dias, como sempre foi feito, tentando cada vez mais promover a inclusão, buscando, também, uma programação gratuita. Vamos voltar a correr atrás de patrocínio, leis de incentivo à cultura e continuar esse intercâmbio cultural com outras cidades do Brasil”, conclui Tainá.

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Festival Mulheres no Volante
Neste sábado (9), das 14h às 23h, no Bananal (Rua Marechal Setembrino de Carvalho 286 – Ladeira)

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