A banda Boogarins chega a Juiz de Fora neste sábado (9) para apresentação na Versus. O show faz parte da turnê dos dez anos de “As plantas que curam”, álbum que gravaram em 2012, em casa, e que compartilharam por conta própria na internet. As músicas furaram a bolha e alcançaram um lugar especial na vida de muita gente, fazendo com que fosse lançado oficialmente no ano seguinte pelo selo estrangeiro Other Music e alterando também a trajetória deles.
Desde então, a banda goiana passou por transformações e hoje conta com Dinho (vocal e guitarra), Benke (guitarra), Fefel (baixo e teclados) e Ynaiã (bateria). O rock psicodélico cheio de originalidade feito pelo Boogarins continua expandindo seu efeito por onde passa.
A abertura da casa é às 22h, e a noite ainda conta com show da banda juiz-forana Varanda. Em entrevista à Tribuna, o grupo conta mais o que mudou desde o lançamento do álbum, as parcerias que formaram e a ligação com a música mineira. Além do show, o Boogarins acaba de lançar “Corpo asa”, primeiro single do novo disco, que marca uma outra etapa da banda.
Leia entrevista completa com Boogarins
Tribuna: Dez anos depois de “As plantas que curam”, o que esse álbum diz para vocês? Como se relaciona com o Brasil de hoje?
Benke: Para mim a mensagem artística mais forte é não se deixar pautar pelos padrões – tanto de gêneros musicais, presença digital e, especificamente no nosso caso, padrão de sonoridade. Eu, Dinho e Fefel todos tocávamos na cena underground há bons anos com outras bandas e pode se dizer que havia um “caminho das pedras” pra fazer dar certo: gravar no estúdio X poderia significar você atingir os produtores dos festivais etc. Certamente fomos recompensados pela Deusa música ao criarmos um projeto em que a pretensão maior era aprofundar em sonoridades que nos inspiravam, mais do que atingir metas objetivas enquanto uma banda.
Esse álbum traz uma originalidade que é a cara do Boogarins. O que inspirou esse processo de criação, e o que foi mudando mais desde então? Tem alguma música que marcou mais vocês?
Benke: Gravamos em casa procurando explorar recursos que não conseguíamos nos estúdios da cena – afinal, tempo de estúdio significa dinheiro. Quem trabalha com “criação” por muitas vezes se acostuma a otimizar processos para finalizar o “job” e não consegue mergulhar em experimentações que poderiam favorecer a obra no final. Músicas como “Despreocupar” e “Hoje aprendi de verdade” carregam uma sonoridade rock n’ roll bem específica, com baterias gravadas com microfone de computador, sem sequer ter um contrabaixo. Esse ímpeto de fazer o novo (mesmo que pra gente) felizmente se mantém e de certa forma seguimos tratando os discos de estúdio como um laboratório, em que cada canção tem suas próprias fórmulas.
Como é voltar para esse trabalho, depois de outros cinco álbuns de estúdio? O que vocês estão trazendo de novo ao interpretar essas músicas em shows?
Benke: Dinho falou isso recentemente numa entrevista no México e a realidade é que nunca tocamos essas músicas tão bem. Somos uma banda mais experiente e certamente revisitar esse repertório agradou muitos fãs que não pegaram os primeiros anos da banda. Quando moleque escutava o The Who cantando “My generation”, dizendo “I hope I die before I get old” e eu achava muito brega vê-los velhinhos cantando aquilo. Acho que não tem um sentimento melhor do que voltar a essas canções de quando tínhamos 18, 19 anos ainda sem sentir deslocamento – ver que estamos conectados com a essência ao mesmo tempo que aprendemos a apreciar e agradecer a sabedoria daqueles jovens Boogarinhos, hehe.
Recentemente, o Boogarins fez releituras de clássicos do Clube da Esquina. Qual a influência da música mineira na trajetória de vocês?
Dinho: A música mineira é a nossa maior influência, desde o começo. Lembro da gente falando pro pessoal americano ir ouvir o disco do tênis do Lô Borges e a “Página do relâmpago elétrico” do Beto Guedes. Muita gente insistia em comparar a gente com Tame Impala e outros grupos da neo-psicodelia dos anos 10 deste século, o que nunca achamos ruim, mas sempre enfatizamos que a música mineira era nossa maior referência. Eles criaram uma outra linguagem, melódica e lírica, que conversava com a música que acontecia no Brasil e no mundo, abrindo um novo caminho, um novo jeito de se expressar musicalmente, uma nova perspectiva da música brasileira.
Esse exercício de mistura, de criar uma nova linguagem mesclando elementos tradicionais com coisas novas, sem dúvida é o que mais nos encanta nesse movimento de música mineira dos anos 70. Fazer esse show nos ensinou muito e também nos deu muita felicidade no palco, uma delas foi poder realizar esse show ao lado do Mestre Toninho Horta, no Rio de Janeiro, no Circo Voador lotado com o Wagner Tiso emocionado na beira do palco exclamando “Mais delay e menos melodia”. Foi um sonho, ele ainda tocou uma nossa, sem a gente pedir, ele que quis. Se me falassem em 2014 que um dia isso ia acontecer eu não acreditaria.
Esse ano, o Dinho Almeida fez uma parceria com o Varanda, banda de Juiz de Fora, na música “Desce já”. Também é essa banda que vai abrir o show de vocês, e são declaradamente fãs do Boogarins. Podem contar um pouco dessa relação com o Varanda e também com Juiz de Fora?
Dinho: A cena de música independente de Juiz de Fora sempre nos pareceu muito viva, através da Pug Records, André Medeiros Lanches, Pedro Baapz, Alles Club e mais recentemente os Varanda. O Benke já tinha mixado o primeiro EP deles eu fiquei surpreso com como as canções já eram muito bem feitas apesar de ser uma banda nova.
Esse ano recebi o convite pra participar do disco novo e fiquei muito empolgado com a música, quis fazer mil mudanças, mas quando sentei com o produtor do disco, Paulo Emmery, enxerguei e escutei a beleza da música como ela era, e consegui somar com voz e guitarra. Tive o prazer de participar do show de lançamento do disco deles em São Paulo e gostei tanto das músicas que pedi pra tocar mais uma no show, e espero poder repetir isso no show junto na Versus.
Como definem o momento da banda hoje? E quais são os planos para o futuro?
Dinho: Acho que vivemos o melhor momento do grupo, mais maduros e criativos do que nunca, conseguindo ter um foco mais apurado e conseguindo tomar decisões em grupo com mais facilidade. Acabamos de lançar o primeiro single (“Corpo asa”) do nosso próximo disco “Bacuri”, que meio que reflete bem essa maturidade que comentei.
Estamos muito ansiosos para botar esse disco na rua, já são cinco anos sem um lançamento só de inéditas, quem gosta da banda já não aguenta mais esperar, igual a gente. Esse disco teve muito planejamento e possibilidades discutidas com nossa antiga gravadora (trouxeram nomes de grandes produtores como Brian Eno, Mario Caldato e outros), mas o destino quis que seguíssemos nossos caminhos separados e nós optamos por fazer o disco em casa, como o primeiro, mas dessa vez acompanhados da Alejandra Luciani, como co-produtora e engenheira de áudio.
Ela fez um trabalho incrível e conseguiu trazer para as gravações a energia que a banda tem ao vivo, dando muita força para as músicas e pro disco como um todo. Fiquem ligados que dia 26 de novembro tem Bacuri chegando. Pra quem quiser ouvir um pouquinho antes é só colar no show de sábado que devemos tocar algumas novas.