Ícone do site Tribuna de Minas

Nove bandas de punk e hardcore se apresentam neste fim de semana

davi (a direita) do subefeito e um dos organizadores do festival

davi-(a-direita)-do-subefeito-e-um-dos-organizadores-do-festival

Davi (à direita), do Subefeito, é um dos organizadores do festival
PUBLICIDADE

Davi (à direita), do Subefeito, é um dos organizadores do festival

Há quase 40 anos, um gaiato inglês acordou, tomou seu chá, fumou um cigarro, abriu as janelas de seu apartamento vagabundo em Londres e vaticinou: “o punk está morto”, acusando artistas como os Sex Pistols e o The Clash de terem “traído o movimento”. Para nossa sorte, o súdito da rainha não só estava errado como a estética do inconformismo contra tudo que está por aí se espalhou pelo mundo e continua viva, mesmo passando por incontáveis mudanças de comportamento durante essas décadas de som e fúria.

PUBLICIDADE

Em Juiz de Fora, por exemplo, o sábado e o domingo serão marcados pela quarta edição do festival “Aos berros”, que reúne no CCBM bandas punk e hardcore da região. Além do ataque sonoro, o evento terá exibição de filmes e documentários de caráter não comercial e que se aproximam da estética punk. Haverá, ainda, espaço para exposição do material das bandas e dos diretores convidados.

O festival é organizado desde 2011 por Davi Ferreira (da banda Subefeito) e Aline Freitas Vieira e Jimmy Klaus Lopes (do Holokausto Social), que neste ano passaram a contar com a colaboração do estudante de artes da UFJF Leonardo Amorim. No sábado, haverá os shows de Sangue nos Olhos, DMD, Holokausto Social, Clínica Guerrilha (todos de Juiz de Fora) e Tuto Junkies, de Barbacena. No domingo, a parte musical fica por conta dos locais Sexy Grandma, Traste, Dekradi e Subefeito. No audiovisual, os dois dias do evento terão filmes e documentários como “Punks”, de Artur Lobato, “Semana Santa”, de Leonardo Amaral e Samuel Marotta, “Rota ABC”, de Francisco Cesar Filho, “Uma noite em 68”, de Ionaldo Araújo, o boliviano “El museo de la Nadade”, de André Goés, entre outros.

O festival que se tornou referência para os punks juiz-foranos e começou, como explica Davi, graças a um trabalho de conclusão de curso na UFJF, em 2009. Ele, Aline e Jimmy, alunos de cursos diferentes, resolveram fazer o trabalho em conjunto. Como já tinham uma ligação com a cultura punk e a galera que fez parte da primeira geração do movimento na cidade, a ideia de um documentário sobre os primórdios do gênero em solo juiz-forano tornou-se uma escolha natural. Foi assim que nasceu “Aos berros – movimento punk em Juiz de Fora”.

PUBLICIDADE

“A gente ouvia muitas histórias sobre os primeiros punks de Juiz de Fora”, conta Davi. “O Renato Resende (o “Rato”), que era do Forças Desarmadas – e que depois chegou a tocar baixo no Subefeito -, contava sobre o primeiro grande festival de rock que rolou na cidade, em 1983, no Sport Club, que reuniu grandes bandas nacionais da época.” Ainda segundo Davi, foi Marcos Petrillo – um dos responsáveis pelo tabloide musical “International Magazine”, nos anos 90 – quem abriu espaço para as bandas punk de então, que tiveram menos de uma semana para ensaiar. “Elas encararam um público de mais de dez mil pessoas, devido ao atraso na programação. Esse festival teve muita repercussão, com os punks sendo injustamente acusados de acenderem fogueiras no gramado do clube, que ficou destruído. Tanto que eles criaram um fanzine, ‘Aos berros’, para se defenderem das acusações. Na cidade, muita gente ficou contra eles, e outros, a favor. E foi graças a essas e outras histórias que tivemos a ideia de produzir o documentário.”

Após a apresentação na universidade, em 2010, eles resolveram que era hora de realizar um lançamento oficial do filme, que posteriormente foi apresentado em diversos festivais pelo país. E como fazer isso? Com um festival de bandas punk, claro. “Apresentamos o projeto para a Lei Murilo Mendes e fomos aprovados. Assim, em julho de 2011, realizamos o lançamento do documentário com shows de bandas punk e exposições de fotos e vídeos. Na época, nem era mesmo um ‘festival’, ele passou a ser visto assim quando resolvemos partir para a segunda edição, em 2012, pois percebemos que a cidade tinha um público ligado ao punk, que existia uma demanda.”

PUBLICIDADE

Cobrança para continuar

Foi o público, inclusive, quem fez com que a quarta edição não ficasse para o próximo ano, provocando o primeiro hiato nas atividades. “Tivemos uma série de dificuldades este ano, desde atividades profissionais à mudança da Aline para São Paulo, e estamos produzindo uma coletânea com vídeos dos artistas participantes. Tudo isso consome muito tempo. Quando ficou sabendo que ‘Aos berros’ só voltaria em 2015, o pessoal reclamou, cobrou, e organizamos tudo em pouco tempo. Queríamos voltar no ano que vem com algo maior, mas não houve como deixar para depois. As bandas têm ajudado muito para que o evento aconteça.”

Quando o último grupo deixar o palco, no domingo, as atividades do trio de realizadores não param. A coletânea com artistas locais (Subefeito, Kymera, MC Oldi, Holokausto Social e Crís Carcará) deve ser lançada em dezembro, assim como o vídeo de “Reptilianos”, canção que faz parte do terceiro álbum do grupo de Davi, com previsão de ser gravado em breve. Para 2015, eles pretendem apresentar projetos na Ancine e na Lei Rouanet para uma produção ainda mais incrementada. “A primeira edição de ‘Aos berros’ foi a única que ofereceu cachê aos artistas, e muitos deles aproveitaram esse dinheiro justamente para lançar seus CDs ou gravarem em estúdio. Queremos ter projetos aprovados para fazer algo maior, porque vimos que esse dinheiro acaba sendo investido”, diz ele. E ainda há o desejo, no futuro, de fazer um documentário sobre uma lacuna muito cobrada pelos punks veteranos em “Aos berros”, o filme: a lendária “Casa de Anita”, próxima ao mergulhão da Avenida Rio Branco, que foi “invadida” nos anos 1990 e que rende outras histórias, segundo eles, igualmente inesquecíveis. Quem sobreviver ao punk verá.

FESTIVAL AOS BERROS

PUBLICIDADE

Sábado e domingo, a partir das 15h

CCBM

(Avenida Getúlio Vargas 200)

PUBLICIDADE
Sair da versão mobile