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Fani Bracher estreia exposição em Juiz de Fora

Fani Bracher
Fani Bracher
Fani Bracher, nesta exposição no RH Espaço Arte, apresenta suas obras mais recentes, em contraponto com duas outras mais antigas, que mostram mudanças, principalmente na escolha das cores (Foto: Reprodução)
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Fani Bracher manda uma série de fotos pelo WhatsApp. Lá, está o simples: o dia a dia. Armários, utensílios, baú, paredes e decorações – todos pintados. Todos feitos a partir de um olhar que, de fato, encontra arte em tudo. “O meu olhar é diferente. Eu trabalho muito com o que tenho em casa. Faço interferência em tudo. Eu trabalho com o dia a dia. Onde olho, o meu olho sabe o que fazer com aquilo. É de uma beleza.” Ela mesma entende que é belo quando esse olhar tem um rumo certo. “É coisa de artista”, ri.

“Eu continuo voando, diariamente”, segue Fani, com a certeza de que pintar é também voar fora das asas, como disse Manoel de Barros, sobre a poesia. Ela, que desde os anos 70, fixou residência em Ouro Preto, junto de seu marido, o também artista plástico Carlos Bracher, volta a Juiz de Fora para uma exposição que leva seu nome, na RH Espaço Arte, com curadoria de Ronald Polito. A abertura acontece nesta quinta-feira (8) e a mostra continua até 5 de setembro. Durante a exposição, acontece também a venda do livro “Fani Bracher”, com organização de José Alberto Pinho Neves. O trabalho conta com uma longa entrevista que dá um panorama geral da história da artista juiz-forana, além de uma cronologia e um conjunto de imagens de suas obras.

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As obras que compõem a exposição foram, em sua maioria, produzidas a partir de 2022. Duas apenas foram criadas em 1988 e 1996. Colocá-las junto com seus trabalhos mais recentes foi como uma estratégia de Polito para mostrar uma “evolução” ou “transformação”, como afirma no texto de curadoria, que percebe no trabalho de Fani. Ele, que teve a oportunidade de acompanhar de perto o trabalho dela e estudá-la, por isso, escreve que percebeu uma alteração sobretudo no que diz respeito às escolhas das cores. Se antes eram mais escuras, agora, mais claras.

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Mudanças na obra de Fani

Fani, de certa forma, concorda, sim, com a percepção de Polito. “Não digo que houve uma mudança. Sinto que meu trabalho sempre teve a mesma linguagem. Ele evoluiu normalmente. Mas eu nunca fui de grandes transformações. Meus quadros, se for analisar, têm um elo de ligação entre eles. Mas eu usava, antigamente, muitas cores escuras, como os cinza ou o preto, hoje eu dei uma clareada. É o tempo que vai fazer você mudar.” Todos juntos, ali, é como ver, de fato, a passagem do tempo e a forma como Fani foi, cada vez mais, vendo a arte e seus espaços ao redor. Mas a mudança de cor tem a ver tanto com o território quanto com a maturidade.

A cor, por exemplo, tem a ver com o território, também. Fani relembra que quando saiu de Juiz de Fora e se firmou em Ouro Preto, fez, em suas telas, o trajeto da BR-040. Pintou os campos, as plantações. “Despedi do verde da Zona da Mata, que me encanta, porque é diferente.” Quando chegou em Ouro Preto, com os tons terrosos predominantes, o marrom passa a fazer ainda mais presença em seus trabalhos. “Eu fui fazendo as minerações, as pedras, os ossos e, agora, trabalho com os pigmentos de Ouro Preto. Eu pego, faço a colheita e o tratamento, e tenho trabalhado com isso, com as pedras, por exemplo, que até inseri em alguns trabalhos que estão presentes na exposição.” Fani, pois, também minera: cava, encontra e lapida.

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Outros dois trabalhos também impulsionaram essa mudança, como entende Fani. Quando passou a trabalhar com as fitas, por exemplo. “Eu me despudorei mais das cores. Porque fita não tem pudor nenhum e tem beleza nisso.” Além disso, tem os painéis que fez em Piau, lugar que passou a frequentar e estar com mais assiduidade a partir da pandemia. “Os painéis são muito coloridos e claros. Eu, por acaso, comecei a pintar claro. E é uma coisa que também não tem muita explicação. Vai acontecendo.”

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Uma vida mais leve

Mas, do escuro ao mais leve, ela até encontra uma explicação: “Com a idade, você chega a conclusão de que a vida é tão pequena. Aquela poesia: ‘Se eu tivesse menos idade, eu teria pego mais chuva..’ Você vê que a vida está passando e passou, então tem que ficar mais leve. Tentar trazer uma leveza, porque o mundo já está tão pesado. Você pode enlouquecer”.

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Em seu dia a dia, Fani vai também encontrando seus momentos de tranquilidade. E o bordado é um deles. Desde nova adepta aos trabalhos manuais, ela diz que todo mundo deveria bordar. “É uma coisa que me acalma. Um trabalho que é muito feminino também.” Mas logo afirma que seu bordado é diferente. “Não bordo de forma perfeita. Nem sei os nomes. É diferente”, resume. E em várias de suas obras presentes em “Fani Bracher” o bordado está presente, a sua maneira, sempre de forma livre.

Reaproximar de Juiz de Fora

Depois de muitos anos, Fani expõe em Juiz de Fora, na cidade onde esse seu caminho teve início. “Essa volta para Juiz de Fora é muito importante”, define a artista, que diz que ainda cultiva uma relação com outros artistas da cidade. Ela ainda conta que é uma forma de apresentar à cidade seus novos trabalhos e essas mudanças que têm a ver com sua própria trajetória. Além de seguir com o objetivo de transformar o Castelinho dos Bracher em um instituto cultural. “Meu marido (Carlos Bracher) está muito empenhado nisso. Então é importante esse retorno para esse desejo, que é muito dele. Mas é nosso também. Falta isso em Juiz de Fora”, finaliza.

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