Há quase três anos radicado em Portugal – país que costumava visitar para realizar shows e fazer temporadas há pelo menos duas décadas -, o grupo juiz-forano Lúdica Música! deu mais um passo para alcançar um público ainda maior na “Terrinha”. O trio formado por Isabella Ladeira, Gutti Mendes e Rosana Britto vai participar, no próximo domingo (4), da final do “The Voice gerações”, reality show musical transmitido pela emissora lusitana RTP1. A atração terá apenas duas semanas de exibição, sendo que a primeira aconteceu no último domingo, quando o trio mineiro – únicos artistas brasileiros entre os 13 selecionadas – conseguiu ser um dos nove nomes que passaram pelas “Provas cegas”, em que os mentores ficam de costas durante a interpretação da música e se viram caso aprovem o desempenho do artista.
A intenção do “The Voice gerações” é reunir duplas ou grupos de artistas de diversas faixas etárias, podendo ser parentes ou amigos. Segundo Isabella Ladeira, o grupo viu na atração a oportunidade de se tornar ainda mais conhecido em Portugal pois, segundo ela, o “The Voice” português é o programa de maior audiência no país nas noites de domingo. “Acompanho o programa há alguns anos e vi que é um outdoor muito interessante”, acredita.
A passagem para a final foi marcada não apenas pelo talento do Lúdica Música! para a interpretação da canção escolhida, pois houve uma feliz coincidência entre canção e um dos mentores participantes: o grupo escolheu “Desfolhada”, uma conhecida canção de Simone de Oliveira, um ícone da música em Portugal que haviam homenageado recentemente, por ocasião do seu aniversário de 84 anos.
“Não sabíamos quais seriam os mentores, a produção do programa havia guardado em segredo, só descobrimos os nomes na hora das provas cegas. A gente conhecia essa grande artista desde os anos 2000, quando começamos a vir aqui. A Simone foi descoberta pela Amália Rodrigues e venceu o ‘Festival RTP da Canção’ de 1969 justamente com a canção que defendemos (de autoria de José Carlos Ary dos Santos e Nuno Nazareth Fernandes). Ela é cantora emblemática porque na época (do festival) já era separada, tinha muita atitude, e é reverenciadíssima, uma mistura de Elis Regina, Bibi Ferreira, Fernanda Montenegro, Elizeth Cardoso, Hebe Camargo. Além de cantora, é atriz, apresentadora de TV, e encerrou a carreira com um grande show em Lisboa.”
Surpresa lúdica durante a apresentação
Ainda de acordo com Isabella, foi “uma surpresa enorme” quando descobriram que ela estava no corpo de mentores ao lado de outros artistas famosos em Portugal – no caso, Bárbara Bandeira, Anselmo Ralph e Mickael Carreira. “Ela foi a primeira a virar a cadeira, depois todos viraram e o público foi junto. Foi um desafio muito legal, sendo que pouco antes de entrarmos no palco fizemos uma entrevista de bastidores, e perguntaram como seria se ela estivesse entre os mentores. Ficamos com a pulga atrás da orelha, aquela ‘será que ela está no programa?'”, relembra. “E foi muito emocionante porque ela nos reconheceu também. Logo que começamos a tocar, a Simone disse ‘eu conheço eles, são muito bons'”.
Isabella diz, ainda, que ser aprovada por todos os mentores foi um grande prêmio, junto à acolhida do público, pois estavam cantando com sotaque “brasileiro” uma canção tão popular em Portugal. “‘Desfolhada’ é sobre a colheita do milho, quando as pessoas vão descascar o milho e tem a tradição de que a pessoa que encontrar o milho vermelho pode abraçar ou beijar a pessoa que quiser”, explica. “A canção tinha essa conotação de paquerar pela primeira vez, de pegar na mão da pessoa que estava interessada, e é uma música que tem uma letra poética, muito forte. Tem um trecho que fala de uma mulher muito forte que diz que ‘quem faz um filho fá-lo por gosto'”.
Como os quatro mentores viraram a cadeira para o grupo, o Lúdica Música! podia escolher qualquer um deles para a mentoria. Mas a escolha de Simone de Oliveira é vista por Isabella como natural. “Foi instantâneo escolhê-la, pois, assim como nós, que temos 30 anos de carreira, ela é muito experiente, com mais de seis décadas de atividade. “Ter a Simone como mentora é uma glória e vem coroar esse investimento que a gente faz, pois quando falamos que gostamos de fazer ‘Música Popular Boa’ ela inclui a música portuguesa, pela qual nos apaixonamos e que é pouco divulgada no Brasil, por conta dessa bobagem sobre a diferença entre a língua nos dois países.”
Assista a apresentação abaixo.
Preparação para a final
Se o programa classificatório foi gravado, a final do “The Voice gerações”, no próximo domingo, será ao vivo, com transmissão a partir das 21h15 no canal português RTP1. A definição do vencedor será feita pelo público em Portugal, que poderá votar por telefone. Segundo Isabella, o prêmio aos vencedores ainda não foi divulgado.
“Vamos para Lisboa antes do final de semana para nos encontrarmos com a Simone e fazer um ensaio, mas já estamos conversando com ela por telefone e mensagens”, conta, acrescentando que os fãs podem acompanhar as novidades pelas redes sociais e YouTube, e que já escolheram a música que será defendida na final. “Ela já está sendo burilada, mas estamos levando a expectativa com leveza. Já ganhamos demais por estar participando e sermos conhecidos, algo que precisávamos após ficarmos sem trabalhar por dois anos por causa da pandemia. É nosso presente de 30 anos que chegou um pouquinho atrasado.”
Além de aproveitar a exposição do programa após 20 anos de visitas ao país, o Lúdica Música! vê o “The Voice gerações” como um passo no recomeço após a pandemia. Mas o trio não esqueceu do Brasil e pretende matar as saudades, no máximo, até 2023. Antes, porém, o grupo prepara o lançamento, para o fim do ano, do EP “Lúdica Música! mais originais”, com canções inéditas da banda. “O disco está sendo produzido por meio do projeto Ibermusicas, que fomenta novos trabalhos e turnês de internacionalização de artistas ibero-americanos, e fomos aprovados pelo edital de Portugal. Também vamos realizar, pelo projeto, uma live até o final do ano, que terá a participação de artistas do Brasil e Uruguai por meio de web vídeos.”