
É interessante ver como a intimidade dentro de uma banda impacta na performance em cima de um palco. Como se aquele espaço fosse casa. Por mais clichê que isso seja, a verdade é que para uma família-banda essa configuração se torna natural. Estar em casa é bem isso: sentir-se à vontade. João, Francisco e José: os dois primeiros, netos de Gilberto Gil, e o terceiro, filho do consagrado músico. A capa de “Várias queixas”, primeiro EP do trio, que tem o sugestivo nome de Gilsons, já mostra que o contato com os instrumentos era, como logicamente deveria ser, coisa de brincar. Como João fala, isso estava no mesmo patamar que andar de skate ou jogar basquete. A diferença é que a música virou trabalho. Coisa séria. Em turnê com o lançamento do primeiro disco, “Pra gente acordar”, eles se apresentam pela primeira vez em Juiz de Fora, neste domingo (12), no último dia do Independência Vibra, no estacionamento do Independência Shopping, a partir das 15h. Quem faz a abertura é a banda Só Parênt.
Gilsons surgiu por acaso. Antes dessa formação, existia a banda Sinara, que tinha outros integrantes. Por causa disso, a lógica, de acordo com João, era toda diferente: eles se espalhavam nos instrumentos. O grupo, no entanto, terminou, e, em 2018, José, o filho mais novo de Gilberto Gil, recebeu um convite para fazer um show no formato de voz e violão no Rio de Janeiro. Ele chamou Francisco para acompanhá-lo e, já na reta final para a apresentação, João entrou para formar o trio. A partir disso, Gilsons já estava formado. A base era aquela: os três tocando violão, na frente do palco. Um pouco disso ainda está presente no trabalho, apesar de, agora, eles revezarem em outros instrumentos e nos vocais. Mas o caminho todo foi de descoberta e experimentação. “Eu acho que Gilsons vem nesse lugar de liberdade, de experimentação. E, ao mesmo tempo, como somos três, essa história de equilíbrio é uma coisa que a gente sempre prega também, porque tem ali interseções musicais nossas. Acaba que vira essa brincadeira: a soma do que a gente gosta com o que o outro não necessariamente pensaria, mas, quando vê, gosta também. É essa junção toda”, acredita João.
Encontro de sonoridade
O primeiro lançamento foi “Várias queixas”, em 2019. Com cinco músicas, o EP é mesmo de apresentação, porque já inaugura uma sonoridade que é marcante no trabalho dos Gilsons, que mescla o tradicional da MPB com um pé no reggae e na música eletrônica. A música que dá título é uma versão do Olodum. O batuque dá espaço para uma melodia nova que é presente, também, nas outras composições do grupo, como “Love love” e “Cores e nomes”. João explica que esse processo de busca por essa sonoridade partiu de encontros em estúdio, já pensando no lançamento. No entanto, quando o projeto começou a ganhar notoriedade, a pandemia barrou os shows.
Para dar prosseguimento aos trabalhos, a solução foi apostar em “feats”. O primeiro deles foi com Mariana Volker, na música “Devagarinho”. A cantora carioca Júlia Mestre, parceira em diversas composições da banda, também emprestou sua voz para a gravação da música “Índia”. Nesse tempo também surgiu uma parceria com a Jovem Dionísio, banda que ganhou as redes sociais com “Acorda, Pedrinho”. João diz, inclusive, que essa junção foi sugestão dos fãs, que encontraram proximidade nas propostas. Esse contato com outros músicos, para ele, é o que faz fortalecer os trabalhos. “Vão existir os lugares em que a conversa flui de forma natural. Mas vai existir também o local onde vai ser novo ou para gente ou para eles. E é nessa novidade que as coisas diferentes aparecem. Onde essas nuances e diferenças vêm.”
Em bolha musical
“Quando a gente viu que tinha uma perspectiva de final ou de recomeço de tudo (talvez), a gente entendeu que era a hora de gravar o disco, porque a gente sempre quis gravá-lo com essa possibilidade de estar viajando, fazendo shows, poder mostrar ele ao vivo. E foi como acabou acontecendo”, continua. “Pra gente acordar”, lançado neste ano com nove músicas, já traz essa esperança de encontrar a luz no final do túnel. “A gente pensou no ‘Pra gente acordar’ muito nessa intenção de ser esse o culminado do que a gente já vinha fazendo, de ser meio que o lugar onde a gente coloca a musicalidade, no lugar de projeto de disco, mas sempre em cima dessa sonoridade que a gente já vinha desenvolvendo desde essa época do ‘Várias queixas’.” O disco foi gerado em imersão na casa do Seu Gilberto, como eles chamam Gilberto Gil, em uma bolha musical, como define João. É um disco diurno e ensolarado, que tem “Proposta” e “Duas cidades” como sintetizadoras, lançadas antes como singles.
‘Para animar a festa’
Foi a partir de “Pra gente acordar” que os Gilsons tiveram a chance de encontrar o público formado sobretudo nesses anos de pandemia. Tem sido o momento de olhar no olho e sentir como um disco funciona no ao vivo e como ele mexe com eles mesmos em cima do palco. O trio, que descobriu junto a música, agora lança essa forma de fazer a arte de maneira conjunta, ainda em família, nessa experiência que é também compartilhada entre músicos e fãs. Para o show de domingo, Dia dos Namorados, João antecipa que o repertório tem como guia o disco recém-lançado, mas junta, também, tudo o que eles já colocaram no mundo. “Mas sempre com uma ou outra música engatilhada que a gente deixa ali para ser surpresa, para animar a festa.”