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‘Romeu e Julieta’: o Brasil de hoje

com figurino renascentista personagens atuam em cenario inspirado na arquitetura elisabetana

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Com figurino renascentista, personagens atuam em cenário inspirado na arquitetura elisabetana
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Com figurino renascentista, personagens atuam em cenário inspirado na arquitetura elisabetana

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“Gente, vamos começar.” Há 50 anos, é assim. Ao primeiro sinal do mestre, a trupe se posiciona. As cortinas se abrem para trazer mais uma história. Era uma segunda-feira de ensaio, 19h. Faltavam dois dias para a estreia, e a Tribuna estava lá. Para o ator, mesmo aquele de 30 anos de estrada, entrar em cena nunca é simples. Tem o tradicional frio na barriga e a expectativa de atingir a emoção que o personagem pede. Hoje, especialmente, lá no Forum da Cultura, essas emoções se multiplicam, e não é para menos. William Shakespeare, cujo aniversário de 400 anos de morte foi lembrado em abril, vai para o palco, em adaptação de José Luiz Ribeiro para “Romeu e Julieta”, a fim de comemorar o Jubileu de Ouro do Grupo Divulgação.

Quem já foi personagem dessa trama escrita há cinco décadas sabe que Federico Garcia Lorca e William Shakespeare são as duas paixões de Ribeiro. É por isso que “Romeu e Julieta” foi estudado pelo elenco atual em três momentos. Também já virou uma marca do grupo lançar mão do teatro para discutir o presente. “‘Romeu e Julieta’ é o Brasil de hoje. É um tempo de partidos e de poder”, dispara Ribeiro.

A peça envolve acontecimentos situados em Viena e mostra a violência entre famílias rivais. Romeu Montecchio e seus amigos penetram no Baile de Máscaras dos Capuleto, e ele se apaixona perdidamente por Julieta. Os dois se casam secretamente ajudados por Frei Lourenço e pela Ama. A situação se complica quando o pai de Julieta se compromete em casá-la com o conde Páris, desembocando na morte dos amantes. O texto não traz referências escancaradas ao cenário político atual, mas a cor das vestes que cobrem os personagens deixa explícito o ódio que vem se travando no país. Segundo o diretor, o figurino segue a linha renascentista inspirada em cartas de Tarô.

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“Os Capuleto são vermelhos, e os Montecchio são azuis. Já o príncipe, que é o governo, a paz, é todo branco. Tanto na peça infantil (“Anjos e dasarranjos”), quanto na adulta, estamos discutindo a necessidade de paz para o momento”, sentencia Ribeiro, apontando para o caráter revolucionário dos protagonistas. “‘Romeu e Julieta’ trata da juventude. Quando eles vão para o baile, eles são completamente juvenis e inconsequentes, porque vão para um lugar onde eles sabem que podem ser mortos. Romeu é tão inconsequente que ele sai para ver a Rosalina e se apaixona, na hora, quando vê a Julieta. É um amor louco”, assevera o diretor, enfatizando que foi fiel e respeitoso ao original.

“Algumas cenas foram conservadas o mais próximo possível. O que houve é uma retradução, pois alguns textos ficaram cheios de ‘vós’, de um tratamento de um tempo em que as pessoas iam ao teatro para ouvir. Hoje, elas vão para ver”, afirma o diretor, comentando que optou por fazer uma adaptação em estilo cinematográfico. “Como o cinema mostra, você não precisa descrever tanto a cidade de Verona. A câmera chega, faz uma panorâmica e mostra o lugar. Usamos esse recurso porque Shakespeare é muito radiofônico. Ele narra tudo. Então, enxugamos um pouco.”

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Tão popular quanto Janete Clair

Shakespeare é popular. “Foi uma Janete Claire do tempo dele. Ele escreve histórias que as pessoas já conheciam, nada originais, mas as contava com muita genialidade”, afirma Ribeiro, que buscou inspiração na arquitetura cênica do teatro elisabetano para “Romeu e Julieta”. Há apenas um tablado, por onde os personagens se cruzam. A mesma estrutura se torna leito e túmulo dos amantes em momentos distintos. “Trouxe a simplicidade cenográfica daquele teatro”, reforça Ribeiro, destacando que a obra do autor inglês prioriza o trabalho dos atores. “Shakespeare é texto”, enfatiza o diretor, que assina a trilha sonora, composta por obras que permearam vários espetáculos do Divulgação nesses 50 anos. “As músicas estão, somente, orquestradas e contextualizadas. O pessoal que fez parte do Divulgação, de vez em quando, vai encontrar algumas ligadas à nossa história. Estamos comemorando 50 anos na trilha também”, comenta o diretor.

Viço da juventude

O elenco é jovem, composto essencialmente por estudantes universitários. A Lorenza Cris cabe viver a mocinha da trama, uma adolescente de 14 anos. “Foi inspirador fazer Julieta porque ela é superromântica. Acho natural essa mistura de emoções em uma adolescente”, observa a atriz, que faz uma dobradinha com Victor Dousseau. “É um personagem denso, que exige muita concentração e, principalmente, muita pesquisa. Busquei referências de outros atores. Fui trabalhando muito no texto, palavra por palavra, tentando entender como Shakespeare estava dizendo aquilo. O Romeu é desafiador porque vai da euforia à tristeza e ao tédio”, comenta o ator.

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Veterana com 30 anos de palco, Marcia Falabella não esconde que montar Shakespeare é desafiador, o que justifica uma rotina de ensaios de domingo a domingo. “O trabalho foi florescendo. Minha personagem vive de cenas cômicas a muito dramáticas, faz tudo pela Julieta, por isso sofre tanto na falsa morte dela”, conta a atriz. Assim como ela, José Luiz Ribeiro celebra o prazer de poder contar, em cena, com o frescor da juventude. “A paixão está dentro deles”, finaliza o diretor.

ROMEU E JULIETA

Estreia nesta quarta, às 20h30. De quarta a domingo, até 3 de julho.

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Forum da Cultura

(Rua Santo Antônio 1.112 – Centro).

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