Ícone do site Tribuna de Minas

Moradores denunciam deterioração da Capela Santa Teresinha

capela

(Foto: Leonardo Costa)

CAPELA DE SANTA TEREZINHA FOTO LEONARDO COSTA 10
Restauração da capela custa mais de R$2 milhões (Foto: Leonardo Costa) 
PUBLICIDADE

Tombada como patrimônio histórico cultural em nível municipal desde 1999, a Capela Santa Teresinha foi inaugurada em 2 de outubro de 1927 por militares. Importante ponto de fé para os moradores do bairro de mesmo nome, na Zona Nordeste, hoje esse patrimônio da cidade – que desde 2018 foi cedido à Arquidiocese de Juiz de Fora pela Polícia Militar do Estado de Minas Gerais (PMMG) – se encontra abandonado. Os moradores da região relatam preocupações com a segurança, devido a deterioração da estrutura do local. A Tribuna foi até a região para averiguar a situação. 

Segundo Rosileine de Melo, moradora do bairro há 60 anos, ver a capela neste estado é uma tristeza. Ela relembra da época em que as procissões aconteciam no lugar, das cantorias daqueles que frequentavam a igreja, mas destaca que tudo isso acabou. “É um descaso”, afirma. Com o espaço tendo se transformado em um ninho de pombos e a própria estrutura do local se deteriorando, com telhas caindo e o mato constantemente grande, uma série de perigos são gerados, principalmente para as crianças que brincam ali perto. “Está perigoso do jeito que está.”

Mesmo com telas, local se tornou viveiro de pombos (Foto: Leonardo Costa)

Já Simone Carvalho, 45 anos e há nove morando em uma rua próxima a da capela, diz que não se lembra de vê-la aberta. “Se é algo que vai ser usado, que seja reformado. Ali virou um ninho de pombo, isso é uma preocupação. Quando teve essa última chuva de granizo, derrubou muitas partes dela. Fica ali parado, sem utilidade.”

PUBLICIDADE

Cedida para uso da Arquidiocese em dezembro de 2018 pela PMMG, foi estabelecido inicialmente que a capela, segundo informações da própria entidade, deveria estar sendo utilizada novamente até outubro de 2019. A vigência do contrato assinado entre as duas partes teria duração de cem anos, com possibilidade de renovação. Entretanto, devido a uma série de problemáticas, a entidade está no processo de devolução da cessão à PMMG. Dentre os principais desafios está o custo para restauração, que soma mais de R$2 milhões.

Algumas telhas caíram após chuvas (Foto: Leonardo Costa)

A cessão para a Arquidiocese passava, essencialmente, pelo retorno e preservação do espaço, que não estava sendo utilizado desde seu tombamento como patrimônio cultural de Juiz de Fora, em 1999, com o Decreto 6509/99. Desde 2011 a igreja se encontrava fechada em definitivo. 

A comunidade local teve algumas tentativas de reabrir e limpar o espaço, como relembra Ronisia Silveira, moradora há 28 anos das proximidades da capelinha. Além das limpezas do matagal, organizada pelo grupo Terço da Rua, do qual faz parte, Ronisia destaca outras ações empreendidas pelos moradores na busca de arrecadar fundos para contribuir na restauração do espaço e como seguiram, da maneira que puderam, utilizando o espaço para seus encontros religiosos, mesmo que na entrada do lugar. “Temos fotos da limpeza da capela para fazermos o primeiro dia de novena do Natal do lado de fora, já que não podíamos entrar devido ao ninho de pombos, em dezembro de 2019.”

PUBLICIDADE

O que diz a Arquidiocese

Em nota à Tribuna, a Arquidiocese de Juiz de Fora informa que o valor para restauração da capela foi estimado em mais de R$2 milhões e que, devido a uma série de fatores, ela está em processo de devolução para a Polícia Militar. 

Segundo a instituição, após a assinatura do contrato de cessão de uso com a PMMG, foram buscadas parcerias para que fossem elaborados os projetos complementares necessários para restauração estrutural e arquitetônica da capela, sendo eles: projeto estrutural, hidráulico, elétrico e SPDA e paisagístico (pois o arquitetônico havia sido doado anteriormente). Sendo um patrimônio do município, para que ocorra qualquer intervenção na capela, é necessária autorização do Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio (COMPPAC), via análise do projeto. 

PUBLICIDADE

Diante de uma série de tentativas frustradas e dificuldades causadas pela pandemia da covid-19, a Arquidiocese planejou, em 2022, conseguir recursos junto ao Estado de Minas para conseguir realizar a restauração. Entretanto, ao conversar com o Secretário de Cultura do Estado de Minas Gerais, foi apontado pelo mesmo que seria necessário atualizar o projeto arquitetônico, além de elaborar projetos complementares e aprová-los juntos ao município e que, somente após isso, seria possível dar início à captação de recursos, estimada em R$ 1,5 milhão. 

Capela foi cedida à Arquidiocese em 2018 (Foto: Leonardo Costa)

“Uma de nossas metas, considerando o decurso do tempo e a defasagem do projeto arquitetônico existente, foi a de elaborar novamente todos os projetos, e submetê-los à apreciação do COMPPAC”, afirma a Arquidiocese. Após a elaboração do projeto e sua respectiva aprovação, a entidade decidiu por devolvê-la à PMMG, para que a mesma execute o projeto aprovado. 

A entidade reforça que durante os anos que esteve à frente do espaço colocou telas para evitar a entrada de pombos, realizou limpezas no local e fechou as vias atrás e ao lado da capela, para evitar abalos na estrutura da capela.

PUBLICIDADE

“O desejo da Arquidiocese é de que a capela seja restaurada, tanto pelo seu valor histórico-cultural, mas principalmente por seu valor religioso e devocional, contudo, infelizmente, não dispõe dos recursos financeiros necessários para fazê-lo. A Arquidiocese espera que, com a doação do projeto aprovado pelo COMPPAC, o Estado de Minas Gerais, por meio da PMMG, possa executar o restauro para, enfim, reabrir a capela ao público”, destaca.

A Tribuna entrou em contato com a Polícia Militar de Minas Gerais, mas não obteve retorno até o fechamento da matéria. Entre as perguntas direcionadas à instituição, está o porquê de o espaço ter sido abandonado desde 2011. 

História da capela

A iniciativa de construir a capela do Santa Terezinha foi do então Tenente Coronel João Franco de Couto, em 29 de julho de 1926, para atender às necessidades religiosas dos militares e de suas famílias, que serviam na sede do Batalhão de Polícia Militar de Minas Gerais em Juiz de Fora. A construção se deu em um morro à direita do quartel, onde estava localizada a Praça do Cruzeiro dos Militares. A construção segue a tradição portuguesa no que se refere à implementação dos templos católicos, com a localidade sendo escolhida no sentido de fazer com que a igreja fosse vista à grande distância, buscando ressaltar sua proximidade com o céu. 

PUBLICIDADE
Espaço está fechado desde 2011 (Foto: Leonardo Costa)

A capela foi inaugurada em 2 de outubro de 1927, tendo como padroeira – ao contrário da tradição militar de escolhas de santos protetores como Santo Expedito ou São Jorge -, Santa Teresinha, a “Santa dos Tempos Modernos”, que havia sido canonizada no ano anterior e cuja devoção se iniciava no Brasil. Segundo informa o dossiê de tombamento da igreja, essa foi a segunda instituição religiosa brasileira erguida em homenagem à santa.

*Estagiário sob supervisão da editora Cecília Itaborahy

Sair da versão mobile