Medindo 10,5cm x 15cm, os cartões-postais costumam mostrar fotografias de pontos turísticos, sejam eles praias, igrejas, monumentos, montanhas, uma infinidade de opções. Agora, o formato também serve de suporte para desenhistas e ilustradores de quadrinhos contarem suas histórias por meio do projeto “Série Postal”. Idealizada pelo jornalista juiz-forano (radicado em São Paulo) Ramon Vitral, a iniciativa reúne o trabalho de 12 artistas de diversos pontos do Brasil, com um desenhista tendo seu trabalho publicado a cada mês, com tiragem de dois mil exemplares cada um e que chegam a cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Goiânia, Salvador, Recife, Florianópolis e Macapá, entre outros. Em Juiz de Fora, também no circuito, os interessados podem retirar os trabalhos já publicados – de Pedro Franz e Pedro Cobiaco – na galeria Hiato, no São Mateus.
Além do ofício jornalístico, Ramon escreve sobre quadrinhos desde 2010 e alimenta de forma constante o seu blog, o Vitralizado, com notícias, entrevistas e outras novidades sobre o mundo da nona arte. Ele explica que sempre teve o desejo de trabalhar com edição de quadrinhos e poder bancar um projeto por conta própria. “Estava penando na forma mais simples, barata e que chegasse a um maior número de pessoas, e cheguei a esse formato do cartão-postal graças ao período em que morei na Inglaterra, entre 2014 e 2015”, conta Ramon. “Havia lojas de quadrinhos que vendiam publicações pequenas e assinadas pelo autores, no tamanho do postal, então pensei que poderia criar uma HQ nessas dimensões, com início, meio e fim.”
“É para ser, também, uma alternativa ao mainstream, um conteúdo gratuito que pode ser distribuído para muita gente. É causar esse estranhamento da pessoa pegar o postal e ver que é uma HQ e questionar do que se trata”, continua. “É quase uma provocação, afinal vivemos numa época em que todo mundo valoriza quadrinhos com lombada quadrada, capa dura, para colocar na estante, e a gente fazendo algo tão frágil, rústico, mas que ao mesmo tempo pode ser mais complexo do que muita coisa que você coloca na estante.”
De olho na nova geração
O plano inicial era publicar um ou dois postais por ano, mas surgiu a oportunidade de inscrever o projeto no Rumos Itaú Cultural, mais ambicioso: seriam 12 publicações mensais, no espaço de um ano, com tiragem mensal de dois mil exemplares. Resultado? Projeto aprovado, e chegou a hora de encontrar artistas dispostos a encarar o desafio. Ramon entrou em contato com os ilustradores a partir de meados do ano passado, sempre com a ideia de uma história fechada no formato de um postal. Proposta aceita, todos os convidados já entregaram seus trabalhos.
“O projeto tem um recorte geracional, de uma geração mais nova dos quadrinhos brasileiros. A exceção é o Pedro Franz, de Santa Catarina, um pouco mais velho que a galera e tem trabalhos publicados em várias editoras, inclusive do exterior”, explica. Outros nomes, porém, são novos no mercado, mas também já possuem produção de destaque. “O Pedro Cobiaco já ganhou o Prêmio HQ Mix de artista revelação; o Felipe Nunes já publicou pela Panini e também foi vencedor do HQ Mix; a Bianca Pinheiro fez a Graphic MSP ‘Mônica Força’, com versões diferentes dos personagens do Maurício de Sousa. Todos apresentam propostas muito interessantes e estilos distintos, são artistas que eu sabia que iriam aproveitar bem um espaço restrito, limitado, que considerariam um desafio interessante explorar potenciais pouco explorados na linguagem dos quadrinhos.”
Dentre os artistas convidados, Juiz de Fora marca presença com a jovem Manzanna. “Nós temos amigos em comum, e conheci o trabalho dela na internet, que é muito bom. É das artistas mais interessantes dessa geração mais recente. Ela estuda muito os quadrinhos, faz pesquisas”, elogia Ramon Vitral, adiantando que o postal criado por ela será lançado em julho. “Estamos planejando fazer um evento na cidade, mas ainda não é certo.”
A próxima “HQ Postal”, da brasiliense Taís Koshino, será lançado no próximo dia 25, e o jornalista/editor espera que o feedback do projeto continue em alta. “A tiragem de dois mil exemplares para cada postal parece grande, mas é impressionante como o projeto está ‘voando’. Ninguém se contenta com apenas um, pega um para si e outro para mandar para outra pessoa. Levo uns 200 exemplares para os eventos e eles somem”, comemora. “A repercussão está muito legal, saiu texto na ‘Folha’, em ‘O Globo’, matéria no ‘Metro’, mas quando chegou ao YouTube ganhou outra proporção.”