Filho da cantora juiz-forana Raquel Silvestre, Alexandre David sentiu a paixão pela arte aflorar em seu interior logo cedo, quando transitava por Juiz de Fora e região nos shows e festivais da mãe. E como os artistas gostam de desfrutar da companhia de outros artistas, foi nesse mesmo solo que o ator teve contato com os primeiros diretores de teatro, como Marcos Marinho, Edgar Ribeiro e Sérgio Lessa.
Sua peça de estreia veio em 1985, quando tinha 15 anos, na inauguração do Grupo de Teatro do SESC, na Avenida Rio Branco. A montagem era de “O Chapeuzinho Vermelho”, e o menino Alexandre estava na pele do icônico Lobo Mau. A apresentação, que aconteceu um dia depois de uma cirurgia para retirada de dois sisos da boca, consolidou o sonho de atuar e o gosto pelo teatro. “Eu entrava pelo meio da plateia, falava com uma voz grossa, cantava, rolava no chão, corria. O desejo de atuar foi maior do que qualquer medo de dor ou algo mais grave!”, relembra. Depois de um ano e mais uma peça infantil, o passo seguinte foi entrar no Coral Cênico Único, sob a batuta de André Pires, Regente e Professor da UFJF. “Era um trabalho que misturava canto e teatro. Foram dois anos maravilhosos nos apresentando em teatros da cidade e em vários festivais pelo Brasil! Fiz amigos ali pra vida toda!”, saúda Alexandre.
A iniciação no teatro estabeleceu pontes inevitáveis com a cidade do Rio de Janeiro, um lugar efervescente para a cultura teatral. Durante essas viagens, Alexandre David visitava peças em cartaz e fazia cursos de verão na Casa de Artes das Laranjeiras (Cal). De presente de aniversário, já entregue a sua paixão, não hesitou ao pedir seu tio que o levasse para ver “Assim é se lhe Parece”, de Pirandello, no Teatro dos 4, com Sérgio Britto, José Wilker, Yara Amaral e sob a direção do Paulo Betti. “Em outra ocasião assisti às peças inovadoras da Bia Lessa no SESC da Tijuca. Eu voltava dessas viagens com a certeza de que era aquilo que eu queria pra minha vida! Até que em 1987, quando terminei o Ensino Médio, me mudei em definitivo pro Rio pra me profissionalizar. A ideia era cursar a CAL, mas a Bia Lessa passou por lá e me convidou pra ir pro seu curso recém começado na Faculdade da Cidade, na Lagoa. Foi um aprendizado intenso e de muita valia que marcou muito a minha vida”, compartilha.
Já jovem e experimentando os prazeres da faculdade, foi o responsável pela construção da sua primeira companhia de teatro, a Cia. Teatral das Possibilidades, que chegou a desembarcar em Juiz de Fora. Assim, nunca mais parou, içou-se para viver intensamente de teatro, trabalhando em diversos locais e uma pluralidade de peças. Em seus percursos, um encontro o levou para uma montagem de “O Anjo Negro”, do grande Nelson Rodrigues, na Cidade da Luz, a desejada capital francesa. “Conheci o diretor francês Alain Ollivier, que estava no Rio fazendo um workshop e procurando atores para essa peça. Ao final do curso ele me convidou pra ir pra Paris e atuar! Foi um presente dos Deuses do Teatro! A peça seria falada em francês, então aprendi a língua e meti a cara! Ao mesmo tempo eu iria estudar no Conservatoire National Superieur d’Art Dramatique de Paris! Trabalhei e estudei com vários grandes nomes do teatro mundial em Paris e Londres”, conta.
Vilão em “Rio Connection”
Desde o final de novembro está disponível na GloboPlay a série “Rio Connection”, que já atingiu o top 3 entre as programações mais assistidas do streaming e tem participação de nomes como Marina Ruy Barbosa, Cadu Libonati, João Cortes, Bruno Gissoni, Maria Casadevall. Recriando o cenário político e social do Brasil dos anos 70, cheio de jogos de poder, em plena Ditadura Militar, Alexandre David é quem dá vida ao Detetive e Chefe da Polícia Militar, Heraldo Batista. “Esse personagem é inspirado no poderoso Delegado Sérgio Fleury. O Detetive Batista está a serviço dos generais ditadores e crê que está ajudando a salvar o Brasil do Comunismo e usa todos os métodos possíveis para tal empreitada, métodos quase sempre violentos e fora da lei”.
Grande vilão entre todos os vilões da história, permeado de seu ar calculista e violento, encarnar Heraldo Batista, tão avesso às características e valores de Alexandre, não foi um exercício difícil para ele, mas sim cheio de prazer diante da dualidade humana. “Quanto mais distante da minha realidade, mais interessante é descobrir o jogo dentro da cena com os outros atores! O resultado ficou muito bom! Batista é um presente pra qualquer ator e eu fiquei muito honrado e feliz por poder fazê-lo em uma série tão grandiosa e bem cuidada como Rio Connection!”.
Antes da estreia bem sucedida, a preparação da série, que foi toda gravada em inglês, veio sendo feita, com especial cuidado, desde 2021, época da pandemia da COVID-19. “Tivemos algumas semanas de ensaios com a luxuosa presença do diretor Mauro Lima e do diretor de atores Thiago Félix, que trabalha com o Método de Lucid Body, uma técnica de teatro físico que ajuda os atores a potencializar os seus corpos e a encontrar as emoções certas para realização de uma determinada cena. Tudo isso já falado em inglês para nos acostumarmos ao trabalho nas gravações que viria em seguida! Eu falo inglês desde pequeno, porque minha avó pagava cursos pra mim, mas também fiz aulas de pronúncia com uma amiga americana que fala português, Lee Weingast”, conta.
Mesmo com uma trama que recorda o passado violento do país e dá notícias das manchas que ainda têm de ser conviver na realidade brasileira, o ator também garante uma série com tons bem humorados e leves de ver a vida. Penso que “Rio Connection” e as outras séries brasileiras da atualidade não devem nada às séries estrangeiras. Espero que as pessoas gostem da série! Está muito bacana, com muita ação, suspense e humor! Acho até melhores porque tem os nossos artistas super talentosos e o nosso molho”.
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*Bruna Furtado, estagiária sob supervisão do editor Marcos Araújo