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‘Ainda estou aqui’ estreia nos cinemas nesta quinta

Ainda estou aqui
Ainda estou aqui
Filme traça a forma como Eunice Paiva encontrou de sobreviver após a ausência de seu marido, durante a ditadura militar (Foto: Reprodução)
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Estreia, nos cinemas brasileiros, nesta quinta-feira (7), um dos filmes mais comentados: “Ainda estou aqui”. Com grande destaque na mídia, inclusive internacional, o filme, dirigido por Walter Salles, foi o escolhido para representar o Brasil no Oscar na disputa por uma indicação. Além disso, foi premiado no Festival de Veneza, onde foi aplaudido por cerca de 10 minutos, com o Melhor Roteiro. E é por isso que a expectativa para a estreia está tão alta – mesmo depois de o filme já ter sido exibido em vários cinemas no Brasil, em pré-estreias que contaram até com a presença do diretor e dos atores da trama.

“Ainda estou aqui” é baseado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, filho do ex-deputado Rubens e Eunice, publicado em 2015. Através das obras, o público se volta à ditadura militar, na década de 1970, no Rio de Janeiro. O foco é a família Paiva e o que se instaura ali naquele meio a partir do golpe.

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Em um dia comum, Rubens Paiva é levado por militares à paisana e, simplesmente, desaparece, de forma tão arbitrária. Eunice, então, se põe, por décadas, a descobrir o verdadeiro paradeiro de seu marido. A falta dele, inclusive, e essa luta que se instaura, fazem com que a mulher se reinvente em busca de um novo futuro tanto para si quanto para seus cinco filhos.

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O filme traz em cena Fernanda Torres e Fernanda Montenegro, interpretando Eunice, Selton Mello, que faz Rubens Paiva, além de Humberto Carrão, Valentina Herszage e a juiz-forana Pri Helena, interpretando uma mulher que é o braço-direto de Eunice. Em entrevista recente à Tribuna, ela definiu essa oportunidade como uma abertura de portas em sua carreira.

Assista ao trailer de “Ainda estou aqui”

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História recontada por Walter Salles

Pri Helena, nessa mesma entrevista, contou que o que mais chamou sua atenção foi a forma como Walter Salles escolheu contar essa história. Já em entrevista à CNN, Fernanda Torres disse algo parecido: “Fiquei realmente impressionada ao ver todas as atuações e pensei: ‘Nossa, que honestidade!’. Em determinado momento, comecei a chorar; foi um choro intenso. Ao mesmo tempo, me perguntava por que o Walter [Salles] havia cortado todas as informações sobre a prisão do Rubens Paiva e o contexto político da época, que eram informações essenciais. E eu chorava enquanto refletia sobre isso.”

Isso porque Walter Salles, no filme “Ainda estou aqui”, decidiu deixar vários detalhes nas entrelinhas – aquele espaço que influencia a, de fato, pensar no que realmente aconteceu. O que deixa isso ainda mais evidente é a participação de Selton Mello, interpretando Rubens, que aparece muito pouco – exatamente para supor a falta.

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Um personagem em poucos minutos

À CNN, Selton Mellon contou o que fez para que sua presença fosse tão forte, mesmo que em pouco tempo. “Eu tinha um bloco e naquele bloco eu tinha que criar esse personagem. [Tive que criar] esse homem, essa pessoa de uma forma marcante o suficiente para reverberar ao longo do filme ajudando a trajetória da personagem da Nanda [Fernanda Torres] e do público, que é cúmplice dessa jornada”, afirmou.

Além disso, nas coletivas que participou, Selton disse que precisou de ganhar cerca de 20 kg. “O personagem precisava disso para dar esse caráter de pai.” Em várias delas, o ator se mostrou emocionado. E, em uma, disse: “Eu faço parte da geração que foi profundamente impactada pelo livro ‘Feliz ano velho’. Eu amo e respeito o Marcelo [Rubens Paiva]. Nunca imaginei que um dia interpretaria o pai dele. Tem sido muito emocionante, pessoal. Este é um filme que aborda a memória, e Fernanda Montenegro dá vida a uma personagem com Alzheimer. Foi dessa maneira que perdi minha mãe há pouco tempo”.

Um filme maduro

Tudo isso é sentido ao ver “Ainda estou aqui”. Mas Fernanda Torres, ao Omelete, toca em um ponto importante: nem todas as respostas estão no filme. “No livro, tem todas as respostas. Mas no cinema você vai ter a experiência empática, de viver aquela família como se fosse a tua. Eu acho que esse é o papel desse filme nessa história: de fazer o público se reconhecer. [As pessoas pensam] ‘Meu Deus, parece a minha família. E se fosse a minha família?’ Esse eu acho que é o papel desse filme.”

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Walter Salles faz isso tudo de forma madura, fazendo até um flerte com o documentário – estética que permeia sua obra desde “Terra estrangeira”, que Fernanda Torres também faz a protagonista. Mas, até chegar nesse ponto, ele contou ao JC que precisou de tempo para, de fato, mergulhar nessa história. “Essa história ficou comigo durante muito tempo, pulsando. Porém, eu jamais tinha pensado em fazer um filme; eu tinha pudor em tocar a câmera com essa história, na verdade. Não me sentia autorizado”, disse.

Ele só foi, então, entrar nessa história quando saiu o livro de Marcelo, pensando em uma adaptação. O processo de entrevista e pesquisa durou sete anos. “Marcelo tinha dez anos quando os militares à paisana entraram em sua casa, então tínhamos de ouvir todo mundo”, disse, ao JC, quando foi lançar o filme no Cinema São Luiz, no Recife, na última semana. “Pouco a pouco, foi sendo desenhada uma arquitetura possível para essa história. Eu queria recontar a intimidade daquela família, reencontrando a individualidade de cada um dos sete personagens.”

O futuro de “Ainda estou aqui”

Ainda no São Luiz, disse uma curiosidade: existe uma versão estendida do longa que, inclusive, deixa claro a escolha do título “Ainda estou aqui”. Mas, de acordo com ele, esse formato ainda não tem previsão de ser lançado. Agora, no entanto, o que nos resta é esperar as próximas premiações.

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