Os Bacharéis do Samba estão sempre tocando. Não param. “Trabalhamos muito com festas particulares, como aniversário, casamento, batizado e até velório”, ri Coração, há 43 anos no grupo que comemora 45 anos em show nesta quinta (7), às 19h30, no Museu de Arte Murilo Mendes. Nas contas do mais antigo membro do grupo, foram três velórios. A família pediu, e eles aceitaram. Todo lugar, diz, é lugar de samba. “Quase toda semana temos show”, festeja o músico, que raramente toca em teatros ou auditórios, como a próxima apresentação. “Tocar no teatro é totalmente diferente. É uma audição. Quando chegar para o meio, com as músicas mais quentes, se bobear vira carnaval”, antecipa. “Para nós, é uma realização fazer 45 anos tocando num teatro. Nós somos a velha guarda”, afirma Coração, agradecendo o incentivo do projeto Ponto de Samba, que atuou para que o show fosse realizado.
“Nesse show, vamos enfocar única e exclusivamente os compositores de Juiz de Fora, com uma releitura dos principais sucessos dos samba da cidade”, conta Coração, que assume os vocais e o reco-reco no grupo que mantém a mesma formação há dez anos. “Imexível”, diz. No violão de sete cordas, está Cesar Carlos Ferreira, Nelsinho assume o pandeiro e divide os vocais, Miguel Lobo toca surdo e marcação, enquanto Alexandre Magno, o caçula de 34 anos entre os sessentões e setentões, cuida do cavaquinho. Considerado um dos mais antigos grupos de samba da cidade em atividade, o Bacharéis surgiu em 1974, como um projeto de aposentadoria do cantor Santos Lima, reconhecido por suas passagens pelas rádios Mayrink Veiga, Nacional e Tupi. Quando ele se mudou para Juiz de Fora, juntou-se a Cocada e começou a tocar em rodas de samba. Coração tornou-se integrante dois anos depois.
Dar voz e suingue à história
Parte fundamental no repertório do grupo, os sambas-enredos que se consagraram nos desfiles locais também estão na set list do show de aniversário. “A Juventude tem um tarol”, de Flavinho da Juventude com Hegel Pontes para a escola do Furtado de Menezes no carnaval de 1979, não deve faltar. “E também gente que precisa ser divulgada”, diz o vocalista, citando a dupla Tiãozinho e Didi. “Eles foram os primeiros compositores do Partido Alto”, explica, e continua a enumerar os talentos, passando por Felisberto Alonso, do Corte de Pedra dos Três Moinhos, região onde hoje está o Linhares, e Dâmaso Altomar, com sua canção “As lendas da Bahia”. “Conheci esses compositores nas minhas idas e vindas das rodas de samba antigas. Fui conversando com esse pessoal da antiga, vendo apresentações de Ministrinho”, recorda-se Coração.
“Eu trabalhava na Fábrica São Vicente, com a carteira de menor, para poder atuar com 14 anos, e o Luizinho batia um papo comigo na hora do almoço. Ele me contava muita coisa”, lembra ele, que também diz ter aprendido com o militar aposentado Telmo Novak, grande conhecedor da história do samba juiz-forano. Testemunhas e um dos mais potentes guardiões da memória do samba da cidade, os Bacharéis do Samba também reverenciarão trabalhos mais populares em Juiz de Fora. “Cocada, Ernani Ciuffo, Flavinho da Juventude, Roberto Medeiros, Mamão e outros conhecidos”, assinala Coração, atento ao passado, ao presente e ao futuro da música local.
Bacharéis do Samba
Nesta quinta-feira (7), às 19h30, no Museu de Arte Murilo Mendes (Rua Benjamin Constant 790)