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Marco do Centenário sob risco em Juiz de Fora

Marco do Centenário
Marco do Centenário
(Foto: Fernando Priamo)
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Mesmo antes do incêndio em 20 de julho de 2020, o Marco do Centenário era alvo de controvérsias com relação à sua preservação. O incêndio foi uma consequência de uma série de descasos. A causa do mais severo dano, apontada na época, foi que as pessoas em situação de rua que se abrigam na Praça da República acenderam uma fogueira para se aquecer, ou possivelmente para esquentar comida, e as chamas teriam atingido o mosaico com o desenho do pintor Di Cavalcanti. Na ocasião, o estrago já era grande. Após mais de um ano, de acordo com os integrantes do Coletivo Agrupa, de mosaico e muralismo, as perdas são ainda maiores. Se as atitudes não forem tomadas prontamente, segundo eles, o risco é de perda total do primeiro mosaico modernista instalado em uma praça pública no Brasil.

Ricardo Cristofaro, diretor do Museu de Arte Murilo Mendes e coordenador do Coletivo Agrupa, explica que o monumento é revestido com pastilhas que formam o mosaico feito a partir do desenho do modernista Di Cavalcanti. Com o incêndio, como as massas são feitas à base de cal, algumas pastilhas foram se deteriorando e começaram a se desprender da estrutura. Não era preciso muito para que elas caíssem, ainda mais expostas ao ar livre. Na época, algumas delas foram guardadas pela Funalfa para validar uma possível restauração. Logo depois, uma estrutura foi colocada para cercar o espaço. No entanto, ela foi logo invadida e deixou o Marco novamente vulnerável.

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As peças continuaram caindo. E esse é o problema. Ricardo pontua que o material original não é fácil de ser encontrado, visto que foi fabricado em 1950. Para o restauro fiel, é necessário que as peças sejam guardadas para que, futuramente, ele seja como antes, assim como foi imaginado pelo arquiteto Arthur Arcuri, que projetou o monumento. Caso isso não seja feito, fica cada vez mais difícil encontrar o material original para reconstruir. De acordo com Ricardo, “não é fácil encontrar essas peças para restaurar, porque elas são específicas. Essas pastilhas são raras”. O problema é manter o que tem de original, o que ainda está lá: risco, traço e material.

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(Foto: Fernando Priamo)

Ainda há tempo

Tecnicamente, ainda há tempo de restaurar. O Grupo Agrupa enviou uma carta à Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) com o intuito de alertar sobre isso. Na carta, eles apresentam quais são os riscos e o que poderia ser feito para diminuí-los. Além disso, se oferecem para realizar alguns serviços, como mapeamento do desenho da arte do mural de Di Cavalcanti e retirada completa das pastilhas coloridas do mural. A ideia é alertar o Poder Público e sugerir mudanças para resguardar o Marco do Centenário.

“No futuro, muitas coisas podem ser feitas. Mas, agora, nossa carta tinha o intuito é de alertar, lançar uma proposta. A cidade, inclusive, pode participar dessa discussão e sugerir caminhos futuros. Mas esse trabalho é da Prefeitura”, diz Ricardo. Assim, a atitude de agora é que vai garantir a preservação. Ele também lembra que o próprio lugar onde o monumento está contribuiu para sua degradação, por ser ao ar livre. A própria praça foi pensada de uma maneira que não contribui para sua visualização por parte da população.

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Valéria Faria, pró-reitora de Cultura da UFJF e uma das integrantes do Coletivo Agrupa, revela indignação sobre o estado no qual o Marco do Centenário se encontra, já que, desde o envio da última carta à Prefeitura, em 27 de setembro, eles não foram notificados sobre o que será feito. “Como um coletivo de produção e criação de mosaicos e muralismos, faz parte do nosso trabalho a preservação do patrimônio. Nós ficamos indignados em ver aquele mosaico se deteriorando, estragando. A cada dia que passa, é um risco maior e sem que a Prefeitura esteja tomando as medidas necessárias.”

Conforme o Departamento de Memória e Patrimônio Cultural (DMPAC) da Funalfa, foi acordado que o coletivo Agrupa encaminharia ao setor sugestões de projetos de intervenções emergenciais de recuperação/restauração do referido monumento. Em nota, a Funalfa afirma que o DMPAC segue aguardando a chegada dos projetos citados, com planilha orçamentária, conforme acertado em reunião.

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(Foto: Fernando Priamo)

O patrimônio

O Marco do Centenário é um monumento histórico, inaugurado em 1951. Foi idealizado para comemorar os 100 anos de Juiz de Fora e reúne em torno de si alguns dos principais nomes da arquitetura e das artes visuais da época. O projeto é de Arthur Arcuri, com desenho no painel de Di Cavalcanti, indicado pelo arquiteto Oscar Niemeyer. Há ainda a participação do também arquiteto Lúcio Costa, que sugeriu “a ligeira curvatura no final da parede ascendente”, como consta no decreto municipal que instituiu o tombamento. Além de ser o primeiro mural em mosaico em praça pública no Brasil, é também o primeiro concretista do país. Foi tombado pela cidade em 1996 e pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 2001.

 

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