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Sandra Portela assina samba finalista da Mangueira

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Sandra é Portela, mas também Juventude Imperial em sua Juiz de Fora natal e, agora, é um tanto Mangueira também, ao assinar um dos sambas finalistas da Verde e Rosa. Ao lado de Beto Savana, Índio da Mangueira e Luiz Paulo Jr., Sandra Portela compôs o samba de número 8, um dos três finalistas para o carnaval de 2020. O vencedor será conhecido neste sábado (12). “Sou Portela, todo mundo sabe, mas estou muito feliz com essa oportunidade que a Mangueira me dá. Não vejo problema em fazer um samba para ela. Isso é comum no Rio de Janeiro. As pessoas não mudam uma bandeira de uma hora para outra. O que vale, para mim, é o samba. Eu carrego a bandeira do samba”, afirma a cantora, que pela primeira vez participa de um concurso do gênero.

“No momento em que a Mangueira abriu o processo para que todo mundo pudesse concorrer, reunimos alguns amigos e compusemos esse samba em Caxias, na casa do Índio da Mangueira, que é passista da escola há mais de 40 anos anos”, recorda. “Conseguimos ter muitas facilidades para colocar um samba. Para mim, que sempre fui intérprete ou apoio, ligada às torcidas, é uma grande oportunidade, principalmente por a Mangueira ser uma grande escola. Fui muito bem recebida”, exalta ela, que concorreu com outros 33 sambas. Na final estão, ainda, a composição assinada por Manu da Cuíca (que escreveu o elogiado samba do carnaval de 2019) e Luiz Carlos Máximo, e a criação de Rodrigo Pinho, Pedro Terra, Bruno Souza e Leandro Almeida.

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Segundo Sandra, diferentemente do que é prática no carnaval carioca, este ano a Verde e Rosa inovou ao defender uma democratização do concurso. “Boa parte dos concursos das escolas de samba são realmente custosos, envolvem muitas coisas, como fazer bandeiras, camisas, agrados para a torcida. Normalmente compositores menores acabam ficando parta trás por falta de condição financeira. A Mangueira chegou com esse novo formato, nos dando a oportunidade de nos lançarmos como compositores. É uma experiência nova e está sendo muito bem executada”, avalia ela.

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Cada grupo de compositores desembolsou apenas R$ 4,8 mil para a inscrição do samba, valor considerado bastante baixo em relação a outros concursos. “O que ficaria até R$ 100 mil a Mangueira enxugou e nos deu toda a condição de colocar nosso trabalho com um custo bem menor. Não tem mais torcida organizada. Ficou muito mais democrático”, acrescenta a compositora, que viu todas as canções receberem o mesmo tratamento da agremiação, inclusive na divulgação das criações.

‘Senti-me muito representada por esse enredo’

Atual vencedora dos desfiles da Série Especial no Rio de Janeiro, a Estação Primeira de Mangueira busca seu 21º campeonato com o enredo “A verdade vos fará livre”, no qual retrata o retorno de Jesus nos dias de hoje, no Morro da Mangueira. Assinado pelo carnavalesco Leandro Vieira, que busca seu bicampeonato pela Verde e Rosa, o enredo aponta para a desigualdade social e para a miséria humana clamando por mais amor entre as pessoas.

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Qual é o seu papel no mundo?, perguntaram-se Sandra e seus três parceiros no samba ao criarem uma composição cujo refrão exalta: “Mangueira em nome do pai/ na força de um vencedor/ A fé não se abala, a voz não se cala/ a esperança é um grito de amor”. “Essa letra é maravilhosa. O que me tocou nesse enredo é falar do amor de Cristo, não só o que a igreja prega, mas o amor humano que precisamos trazer de volta às nossas reflexões. Nesse enredo vi essa forma de dizer que precisamos refletir mais na forma de lidar com o ser humano, trazendo mais respeito e tolerância. Trazendo o amor ao próximo”, declara a cantora.

O Jesus Cristo da Mangueira, de acordo com Sandra, é mestiço. “A Mangueira representa todas as comunidades do Brasil, inclusive a minha, a Vila Olavo Costa, onde nasci, me senti muito representada por esse enredo”, afirma a artista, que já havia se envolvido com a escola tempos atrás, quando foi convidada por Nilcemar Nogueira, neta de Cartola, para gravar “Sala de recepção”, do compositor de “As rosas não falam”.

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Reconhecida por entoar baluartes do samba, Sandra também escreve. Seu último disco, lançado com recursos da Lei Murilo Mendes, trouxe algumas de suas criações. “Componho muito pouco, mas sempre tive vontade de entrar nesse mundo de sambas enredos. Só agora apareceu a oportunidade”, observa a mulher, cujo pai integrou a ala dos compositores da Imperatriz Leopoldinense, e a mãe, fez sambas para a juiz-forana Juventude Imperial.
Acompanhada por pessoas muito populares na Mangueira, como Beto e Índio, Sandra se diz confiante para sábado. “Ninguém tem acesso aos jurados, eles não foram revelados, o que traz certa transparência. A Mangueira está sendo muito clara no processo, seguindo todo o regulamento do início ao fim”, elogia a portelense, que nesta quarta (9) sobe ao palco do Muzik, às 20h, para uma roda de samba na qual não poderá faltar sua criação Verde e Rosa.

Confira a letra do samba:

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Nasci um mestiço da favela
entre becos e vielas
em Mangueira eu cresci
Na dor da cruel desigualdade
se revela a verdade
a discriminação eu conheci
Fiz da voz minha semente
humilde e valente
plantei a paz ao caminhar
Chorei, ao ver meu povo tão sofrido
humilhado e perseguido
proibido de sonhar

A intolerância me fez despertar
a cruz que eu carrego não vai me parar
Eu sou resistência, minha vida é lutar

Voltei vesti o manto verde e rosa
voltei por esse amor que é incondicional
Mangueira, o teu canto liberta a minha emoção
faz da minha mensagem a tua missão
Respeita a diversidade
celebra a nossa coragem
Ninguém é melhor que ninguém
somos todos irmãos
Ninguém é melhor que ninguém
salve a nossa união

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Mangueira em nome do pai
na força de um vencedor
A fé não se abala, a voz não se cala
a esperança é um grito de amor

Autores: Beto Savana, Índio da Mangueira, Luiz Paulo Jr. e Sandra Portela

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