Foram 12 anos, um mês e cinco dias de existência. Inaugurado em 16 de maio de 2007, o Espaço Cultural Correios, no térreo do número 470 da Rua Marechal Deodoro, fechou as portas no último dia 21 de junho de 2019, silenciosamente. Segundo a assessoria de imprensa da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) em Minas Gerais, “os Correios estão redefinindo a estratégia de atuação nas unidades culturais e por isso houve a decisão do fechamento provisório”. O reposicionamento reflete o enxugamento da empresa, proposto pelo Governo federal, que pretende, ainda, privatizar os Correios. Na manhã de terça (6), inclusive, durante sua participação no 29º Congresso Expofenabrave, em São Paulo, o presidente Jair Bolsonaro confirmou o que há semanas tem sido especulado: “Vamos privatizar os Correios”.
Em outubro de 2016, a estatal já havia cancelado os patrocínios culturais em todo o país, esvaziando seus centros culturais, reconhecidos pela qualidade e alcance dos projetos. A galeria juiz-forana, a mais central da cidade, durante seu funcionamento trouxe nomes de relevo internacional, como ilustrações do surrealista bielorrusso Marc Chagall, recentes trabalhos da cultuada carioca Anna Bella Geiger, e as ilustrações botânicas da inglesa Margaret Mee. Com orçamentos superlativos para os padrões locais, as exposições praticavam, em sua maioria, orçamentos na casa das centenas de milhares. E uma das contrapartidas era atrair e formar um público novo para as artes visuais.
Reunindo exemplares da mineralogia, “Os Geraes de Minas”, por exemplo, levou 5.320 pessoas à galeria durante os dois meses em que esteve em cartaz em 2014. Os desenhos de Chagall para as fábulas de La Fontaine, a primeira mostra a ocupar o espaço em 2015, levou 3.532 espectadores para a galeria. Após a extinção dos patrocínios, o lugar ampliou o período das exposições e, pouco a pouco, viu o público diminuir. O local, segundo a assessoria de imprensa da ECT em Minas Gerais, tinha apenas uma funcionária, que se desligou da estatal no último Plano de Demissão Voluntária.
Paixão pelos selos
“A construção do edifício-sede é contemporânea ao período histórico conhecido como Estado Novo, inaugurado em 28 de junho de 1935 e ampliado na década de 40, resultou num conjunto arquitetônico cujo porte e harmonização conferiram-lhe destaque dentro do contexto da paisagem urbana de Juiz de Fora. A feição estética resultante se faz por identificar com as ideias características deste período – a da racionalidade que é expressa pelo geometrismo de suas formas e da monumentalidade, ao conferir a dimensão de marco arquitetônico à função a ser desempenhada”, pontua o decreto de tombamento do imóvel.
Questionada sobre a destinação da galeria de cerca de 150m², a assessoria de imprensa da empresa afirmou que “os Correios estão reposicionando parte do local para inaugurar um espaço filatélico”, previsto para inaugurar ainda este ano e destinado a encontros de grupos de filatelistas locais. Segundo o advogado Paulo Roberto Cerqueira de Lima, um dos 12 integrantes da Sociedade Filatélica de Juiz de Fora, a parceria é vista com muito entusiasmo, principalmente pelo panorama da retomada das atividades filatélicas na cidades. Em 2017, a estatal encerrou as atividades da loja na Oscar Vidal, onde eram distribuídos selos institucionais.
“Vai ser um espaço bem maior e melhor do que o da Oscar Vidal”, comemora Paulo, filatelista há mais de quatro décadas. Com mais de 85 anos de existência, a Sociedade Filatélica de Juiz de Fora abrange toda a região da Zona da Mata e promove encontros mensais de colecionadores. No próximo sábado (10), o endereço será o Centro Cultural Bernardo Mascarenhas, na Avenida Getúlio Vargas. Já no sábado seguinte (17), o encontro será feito no Museu Ferroviário. A data para inauguração do novo espaço filatelista ainda não foi divulgada.